sábado, fevereiro 19, 2011

Risco de ataque de tubarões é mínimo


Thiago Pereira

O vídeo de um suposto tubarão nadando próximo a um píer no Corredor da Vitória, nas imediações do Yacht Clube da Bahia, em Salvador, tem causado pânico entre banhistas soteropolitanos. A filmagem que circula na internet desde o último dia 2 mostra a sombra de um animal com aproximadamente dois metros de comprimento se movimentando na localidade em que alguns moradores da região costumam tomar banho de mar.

Assustadas, muitas pessoas deixaram de frequentar o local. O medo é de que haja ataques semelhantes aos que ocorreram nas praias de Recife nos últimos anos. Para especialistas, no entanto, o risco de acidentes com tubarões nas praias da capital baiana é mínimo.

De acordo com o professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Everaldo de Queiroz, especialista em peixes cartilaginosos, o risco de um tubarão atacar uma pessoa nas praias de Salvador é semelhante ao de alguém ser atingido por um raio. “Não vou dizer que é uma ameaça totalmente descartada. Mas é muito difícil, até porque os seres humanos não são presas naturais dos tubarões. Os ataques geralmente são acidentais. Trata-se do acaso da natureza”. Conforme o professor aposentado, a presença do animal na orla soteropolitana pode ser indício de dois fatores distintos.

“Sempre houve tubarões no litoral baiano. Com a pesca predatória, alguns deles foram sumindo. A filmagem que está na internet é muito sugestiva e uma das hipóteses é de que o ecossistema está se recuperando, por isso os tubarões estão voltando a frequentar os locais que antes eram seu habitat. Há dois anos esses animais também foram vistos em Piatã e no Porto da Barra. A outra teoria é mais negativa. Sem fartura de peixes em áreas profundas, os tubarões podem estar se aproximando da costa para se alimentar”.

O diretor de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes, também considera normal a presença de tubarões no litoral do estado. Os animais são até mesmo alvo de estudo no Sul da Bahia. “Os registros de tubarões na Baía de Todos os Santos não são inusitados. Chamaria a atenção se os avistamentos ocorressem de forma mais frequente nas imediações das praias, o que demandaria uma avaliação do equilíbrio do ecossistema marinho. Mas, em geral, a presença de tubarões no litoral baiano é muito comum. Alguns deles costumam até se alimentar de carcaças de baleias.

Já achamos várias com marcas de mordidas de tubarão”. Ainda conforme Marcondes, as condições que englobam as orlas de Salvador e Recife são distintas, o que reduziria as chances de ataques como os que ocorreram na capital pernambucana.

“Em Recife, eles aterraram um mangue para construir o Porto de Suape. A região era área de reprodução para diversos peixes, que acabaram sem um local para procriar, reduzindo a oferta de alimento para o tubarão. Outro fator era a presença de um abatedouro bovino que descartava resíduos sem tratamento no mar. Os restos de carne descartados atraíam os tubarões para a praia e os ataques aconteciam. Em Salvador não há isso”, completou.

Para Marcondes, é necessário desmistificar a figura do tubarão. Segundo o diretor do Instituto Baleia Jubarte, o cinema criou uma imagem negativa para o animal.

“São 400 espécies e algumas poucas atacaram homens comprovadamente. Destas, apenas três são realmente violentas. O tubarão-branco, o tubarão-tigre e o cabeça-chata. O resto apenas defende seu território e só ataca quando se sente ameaçado”.

Na Bahia, alguns acidentes envolvendo tubarões foram registrados nos últimos anos. A última notificação foi em 2008, quando um tubarão mordeu a prancha do surfista Ricardo Garcia na praia de Guarajuba.

Dados do Registro Internacional de Ataques de Tubarão (International Shark Attack File – Isaf) dão conta de que, no Estado, houve somente quatro ataques entre 1931 e 2010, sem vítimas fatais. Um dos casos mais graves ocorreu em 2005, na paria de Luzimares, litoral Norte de Ilhéus. Um menino de apenas 13 anos de idade foi atacado por um animal de aproximadamente três metros e levou mais de 300 pontos na perna direita.

Tubarão ou beijupirá

Apesar de toda polêmica, a definição da espécie do animal que apareceu no Corredor da Vitória ainda é um mistério. Para algumas pessoas, a criatura do vídeo não é um tubarão. “Pode ser também um beijupirá”, comentou Rodrigo Maia Nogueira, da ONG Biota Aquática, que pesquisa e promove a conservação de ecossistemas aquáticos. O beijupirá, também conhecido como cobia, é um peixe que atinge o comprimento máximo de 2 metros e pode chegar a pesar 80 kg. Eles costumam frequentar áreas portuárias e podem ser encontrados em diversas regiões do Nordeste brasileiro.

Entretanto, para Everaldo de Queiroz, as dimensões da criatura e o modo como ela nadava indicam realmente se tratar de um tubarão. “As pessoas até costumam confundir os tubarões como outros animais, como botos. Mas os mamíferos possuem a cauda na horizontal, ao contrário dos peixes, com rabo na vertical.

O animal do vídeo possui todas as características de um tubarão. Nada sinuosamente e de forma lenta. Ouvi essa história do beijupirá, mas acho grande demais para ser ele. No entanto, também não posso identificar a espécie com precisão pela filmagem. Mesmo assim, acho que é um tubarão”, afirmou.

Há ainda quem ache que o animal é um tubarão-galha-preta, popularmente conhecido como cação. Ele é comum em todo o litoral brasileiro, pode medir até 1,5 metro e se alimenta de peixes, incluindo outras espécies de tubarões.

Fonbte: Tribuna da Bahia