Carlos Chagas
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É conhecida a história dos três operários que quebravam pedras e foram indagados sobre o que faziam. O primeiro foi racional: “estou quebrando pedras”. O segundo respondeu que “ganhava o pão com o suor do seu rosto”. Já o terceiro sublimou: “estou construindo uma catedral”.
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PMDB e PT deveriam pensar a respeito, nessa virulenta disputa por cargos no segundo escalão do governo. A maioria de seus integrantes responderá estar cuidando de seus interesses políticos. Outros dirão que colaboram para o sucesso do respectivo partido. Só uns poucos dirão estar trabalhando para o desenvolvimento nacional.
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Porque indicar dirigentes de empresas estatais não exprime necessariamente a voracidade de os líderes dos partidos dominarem setores capazes de manipular centenas de bilhões de reais. Certamente a maioria dos companheiros e dos peemedebistas pensa e age assim, mas por que não admitir que também trabalhem pelo crescimento de suas legendas? Ou, na terceira hipótese, que as indicações se fazem tendo em vista o melhor para o país, ou seja, pretendem ver nomeados competentes diretores em condições de realizar excelente desempenho nos diversos setores.
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O problema está na raridade com que se encontram construtores de catedrais. Quase não existem. Os contendores visualizam, mesmo, vantagens pessoais e de grupos. A aplicação de tantos bilhões em obras públicas e serviços favorecerá não só as felizes empreiteiras mas, com certeza, também seus padrinhos. É isso que a presidente Dilma Rousseff deveria investigar, antes de nomear. Caso contrário, verá erigidas modestas capelinhas em vez de uma catedral…
BATTISTI FICA
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Com o anúncio de que Luiz Fux está sendo indicado por Dilma Rousseff como o décimo-primeiro ministro do Supremo Tribunal Federal, somarão sete os ministros designados desde que o Lula assumiu o poder. Os quatro restantes deveram suas indicações a José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique.
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Sobram poucas dúvidas de que, mesmo com todo o respeito à independência do Judiciário, a maioria de sete garantirá a decisão do ex-presidente pela permanência de Césare Battisti no Brasil. Isso caso a mais alta corte nacional de justiça reabra a questão, pois há quem interprete como definitiva e insusceptível de revisão a negativa do Lula em conceder a extradição do italiano.
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Vivemos uma democracia plena, cada ministro deverá julgar de acordo com sua consciência e seus notáveis conhecimentos jurídicos. Não devem nada a ninguém, sequer a quem os indicou. Na teoria, é claro, porque na prática sempre haverá a prevalência da natureza das coisas. Tudo leva a supor que Battisti ficará entre nós.
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QUEM GANHOU�
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Alguns exagerados andam tecendo loas e entoando exclusivos evoés e alvíssaras a Dilma Rousseff, por conta da eleição de Marco Maia e José Sarney para as presidências da Câmara e do Senado. Parece evidente a satisfação da presidente da República, que apoiou os dois parlamentares, mas é bom saber que as vitórias deveram-se também a outros fatores.
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Sarney teria sido escolhido ainda que José Serra, Marina Silva ou Plínio da Arruda Sampaio estivessem no palácio do Planalto. A permanência do ex-presidente por mais um biênio deve-se ao esquema por ele montado para atender à maioria dos senadores, até mesmo acima e além da bancada do PMDB.
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Quanto à eleição de Marco Maia, talvez signifique um grito de auto-afirmação do PT diante do governo, que no começo até preferia Candido Vaccareza. O partido não gostaria de ver repetidos os oito anos do Lula, quando até para fazer pipi precisava pedir licença ao então presidente.�
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ESPECULAÇÕES�
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Especular não é proibido, ainda que as especulações corram por conta e risco de quem as faz. Assentado formalmente o quadro político-partidário, apesar das tertúlias pelas nomeações no segundo escalão do governo, prevalece aquele velho provérbio árabe, de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte.
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A sucessão de 2014 ainda não começou, é claro, mas alguns parâmetros podem ser definidos.�
Dilma Rousseff, caso seu governo dê certo, será candidata natural a mais um mandato, tendo em vista de que desde a aprovação da reeleição, os dois presidentes venceram as disputas. Fernando Henrique e o Lula conseguiram, por que a atual chefe do governo não conseguiria, dispondo da máquina pública e, coisa ainda a conferir, as necessárias doses de popularidade?�
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Sempre haverá a hipótese de o ex-presidente Lula não se conter, ou se as pesquisas indicarem que apenas ele poderia manter os companheiros no poder. E um novo naipe acaba de ser incluído no baralho: o PMDB, de tantos e tão constrangedores recuos, dessa vez não poderá omitir-se, se pretende manter-se como o maior partido do país. Já começou a cair, perdendo a condição de bancada mais numerosa na Câmara. Sem candidato próprio, caminhará para as profundezas, apesar do desconforto de precisar enfrentar Dilma ou Lula.
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Quem seria o candidato? Michel Temer surge na frente como chefe do partido e vice-presidente da República, mas outras opções existirão. O governador Sérgio Cabral, se São Pedro não atrapalhar e se as UPPs continuarem aprovando. Nelson Jobim, Edison Lobão, Moreira Franco, Roseana Sarney, Roberto Requião? É cedo, mas impossível não parece a seleção de um deles.
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Eduardo Campos, reeleito governador de Pernambuco, constitui hipótese factível no Partido Socialista, se continuar a crescer, este, e afirmar-se como administrador competente, aquele. E do outro lado? A confusão é grande, no ninho, mas nomes não faltam. Se o Lula perdeu três vezes e só ganhou na quarta e na quinta, por que não se daria outra chance a José Serra, que só perdeu duas? Claro que ofuscando essa hipótese estão o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador de Minas, Aécio Neves. Penas mineiras e paulistas já esvoaçam por aí, além de bicos em alerta, entre os tucanos. É bom parar por aqui, demonstrando-se apenas que material para especulação não falta…
Fonte: Tribuna da Imprensa