Carlos Chagas
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Linha dura no Ministério parece a decisão da presidente Dilma Rousseff ao estabelecer para as reuniões conjuntas de sua equipe, sempre que necessárias, a tarde das sextas-feiras, como já aconteceu este mês. A iniciativa impedirá a prática rotineira em governos anteriores de os ministros voarem para seus estados no último dia útil da semana, coisa inevitável desde a inauguração de Brasília, cinquenta anos atrás. Com as exceções de sempre, é claro.
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Tem mais: todos os ministros dispõem da prerrogativa de requisitar jatinhos da FAB para seus deslocamentos pelo país, presumidamente vistoriando obras, participando de reuniões setoriais ou comparecendo a eventos variados, sempre a serviço. Mas não era o que se verificava. Os aviões vinham sendo utilizados para Suas Excelências passarem o fim de semana em seus estados de origem, retornando à capital federal nas segundas-feiras, também nas asas da Força Aérea, que jamais deixou de atender as requisições, enviando para a Casa Civil relatórios mensais sobre quem viajou para onde. �
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Dilma, na Casa Civil, apenas tomava conhecimento. Não contestava nem pedia moderação nas viagens. Mas certamente não gostava. Agora que é presidente da República, decidiu-se por um freio de arrumação nos exageros, antes mesmo deles começarem. Caberá a Antônio Palocci receber os relatórios, fiscalizar e informar. Mais do que uma obrigação, morar em Brasília vai se tornar uma necessidade, para os ministros.
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PELAS MÃOS DE PATRIOTA
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Veio ao Brasil de férias, este mês, o senador John McCain, candidato derrotado à presidência dos Estados Unidos. Em contato informal com Antônio Patriota, ele manifestou o desejo de ser apresentado a Dilma Rousseff. O chanceler fez a ponte e a presidente reservou alguns minutos para receber o ilustre visitante.
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Ignora-se no Itamaraty se tudo foi um plano bem urdido pelo americano ou se apenas mera coincidência, mas quando já se despedia, McCain enfatizou que estava em viagem particular, não exercia qualquer missão privada ou oficial, mas gostaria de dizer, como antigo piloto da USAF, que os caças F-18 antes oferecidos ao Brasil eram os melhores do mundo. E mais, que se por hipótese na operação de compra o nosso país chegasse a optar pelos aviões americanos, ele, como senador, se empenharia ao máximo para constar do contrato, a ser obrigatoriamente examinado pelo Senado, a transferência de toda a tecnologia das aeronaves.
Dias depois, Dilma decidiu reabrir as negociações com os diversos proponentes da venda dos caças.
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CHANCE PARA O ETANOL
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Outra envolvendo política externa: o presidente Barack Obama vem aí, em março, tendo como objetivo conversar sobre energia limpa. Está empenhado em substituir gradativamente, a longo prazo, a energia poluente do petróleo e do carvão. Traduzindo: o etanol poderia alcançar novos patamares, no Brasil, caso ampliada nossa produção para exportação maciça aos Estados Unidos. Lá, em alguns estados, seria misturado à gasolina, como já acontece aqui.
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É óbvio que os Estados Unidos desejariam compensações. Uma delas poderia beneficiar as montadoras americanas estabelecidas no Brasil através de um forte aumento na produção de seus veículos, para exportação, claro que com vantagens fiscais e certas isenções. Mas também aumentaria o número de empregos em suas fábricas brasileiras. �
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FALA AQUI NO OUVIDO
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No primeiro mandato do Lula, mais do que no segundo, Delfim Netto era convocado todos os meses para um jantar reservado no palácio da Alvorada. Só os dois. O presidente pedia conselhos e procurava informar-se dos meandros da economia, em especial envolvendo o relacionamento do Banco Central com a Fazenda.
Certa noite Delfim, depois de uma exposição, prometeu que no dia seguinte enviaria um pequeno relatório ao Lula, para que ele entendesse melhor a questão discutida. Seriam apenas dois parágrafos. Reação do anfitrião: “nada de papel, fala aqui no ouvido…”
Fonte: Tribuna da Imprensa