Carlos Chagas
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Antes mesmo da posse, começaram as pressões sobre Dilma Rousseff. Os mesmos de sempre, ou seja, as elites neoliberais, entre críticas virulentas ao Lula por não ter feito, exigem que a sucessora faça. Fazer o quê? Atender a seus interesses retrógrados, expostos nos editoriais dos principais jornalões:
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Reforma trabalhista, com o que chamam de “revogação de anacrônicos direitos”, daqueles que não conseguiram suprimir até agora. Sob o pretexto de verem reduzidos os encargos das folhas de pagamento das empresas, chegam veladamente à supressão do décimo-terceiro salário, das férias remuneradas e das horas extraordinárias. Parece brincadeira, mas é aí que pretendem chegar.
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Reforma tributária, como a entendem, sob a égide da enganadora proposta de “melhor será mais cidadãos pagarem impostos porque, assim, todos pagarão menos”. Uma farsa, pois desejam mesmo é taxar os pobres, para os ricos terem diminuídos seus impostos. Forçarão mais isenções, no modelo daquela maior, de que investimentos e especulações com dinheiro estrangeiro não pagam imposto de renda. Que tal livrar as especulações nacionais, também?
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Reforma política é outra moeda de duas faces. No fundo, gostariam de reduzir o número de pequenos partidos, mas não só os de aluguel. Visam calar a voz dos pequenos partidos de esquerda, históricos ou modernos, do tipo PCdoB, PCB, PSB, Psol e outros, que ainda protestam, transformando os grandes em massa amorfa, insossa e inodora, nivelados no mesmo denominador comum. Imaginam PMDB, PSDB, PT, PP e outros cedendo às suas imposições, já que manteriam sua independência formal, mas rezariam pela cartilha da acomodação neoliberal.
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Reforma de gestão também entra no cardápio. Impõem a redução de gastos públicos e a minimização do poder do Estado, preocupados em reduzir sua presença na economia e no plano social. Pregam a demissão em massa do funcionalismo, a suspensão de concursos públicos, o congelamento e até a redução de vencimentos e salários nas empresas privadas. Investimentos em políticas públicas, só se participarem dos lucros, da medicina ao ensino, dos transportes à geração de energia. �
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Reforma da Previdência Social não poderia faltar, dentro do objetivo maior de sufocar o que é público em favor do que pretendem privado. A meta é nivelar por baixo todas as aposentadorias, reduzindo-as ao salário mínimo, para levar a classe média a investir nas aposentadorias privadas, como se não fosse direito do trabalhador encerrar com dignidade suas atividades depois de décadas de esforço continuado. Alegam que a Previdência Pública dá prejuízo, quando não dá. Além do mais, o governo é um só, o caixa deveria funcionar num sistema de vasos comunicantes, porque muitas de suas atribuições dão lucro. �
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Como o Lula atendeu pouco a essas reivindicações, apesar de haver cedido em muitas, imaginam poder pressionar e aprisionar Dilma Rousseff, cuja estratégia e imagem entendem amoldar aos seus interesses. Podem estar enganados…
SEM COMPROMISSO COM O ERRO
Chamou a atenção a repetição, no discurso de posse da nova presidente, de sua decisão de não compactuar com o erro, os desvios e os malfeitos, se verificados em sua administração. Tomara que assim aconteça e que o primeiro episódio de corrupção, daqueles que fatalmente ocorrem em todos os governos, seja enfrentado com mão de ferro. Condições para isso Dilma Rousseff dispõe, até mais do que o Lula dispôs. Não tem compromisso com partidos, muito menos com grupos econômicos.
MOCINHOS E BANDIDOS
Lembrou Helena Chagas, em discurso na transmissão do ministério da Comunicação Social, recebido das mãos de Franklin Martins, lições de um seu velho professor, sobre não estar o mundo dividido entre mocinhos e bandidos. A praga do maniqueísmo e a prevalência das verdades absolutas tem acompanhado os governos desde que o mundo é mundo, mas, em contrapartida, só com tolerância e compreensão chega-se a resultados compensadores.
Fonte: Tribuna da Imprensa