Folha de S.Paulo
RIO - Um mês após a ocupação do complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, no Rio, moradores caminham com tranquilidade pelas ruas das favelas e visitantes trafegam sem receio de serem vistos como "forasteiros". Mas ainda não é possível dizer que a vida lá é igual à de outros bairros.
Crianças ganharam mais liberdade e espaço para brincar nas ruas e vielas, antes perigosas, com o ir e vir de muitas motos em alta velocidade, guiadas por homens armados.
"Só o tempo vai dizer se foi bom ou não. Para nós, mudou do civil para a farda, mas o fuzil é o mesmo", diz um morador do Alemão, que prefere não se identificar. Moradores lembram que esta é a terceira vez que a polícia ocupa o complexo. Houve operações de grande porte em 2002 e 2007. "Das outras vezes, depois que ela saiu, tudo voltou como antes", diz outro morador.
O receio é que a presença do Estado não seja definitiva e que os traficantes voltem.
Na favela da Grota correm histórias de cartas ameaçadoras que teriam chegado a residentes, com ameaças de vingança feitas por traficantes. A Associação de Moradores nega que elas existam.
O comércio local sente o impacto da ocupação: as vendas caíram após a saída dos traficantes, que compravam ali para consumo próprio e para distribuir entre os moradores.
Além disso, perdeu-se a receita que vinha dos que iam ao lugar em busca de drogas e acabavam parando nos bares. "Vinha gente de todo lado, de Ipanema, do Leblon...", conta o dono de um bar. Ele estima que a redução em seus ganhos tenha sido de 70%.
Por outro lado, o complexo passou a ter coleta de lixo e formalização de serviços antes clandestinos, como distribuição de gás, energia, tv por assinatura, além da regularização de documentos.
Fonte: Agora