sexta-feira, dezembro 10, 2010

José Serra, no mesmo dia da segunda derrota presidencial, anunciou todo satisfeito: “Isto não é uma despedida, um adeus, e sim um até logo”. Aécio queria esperar, decidiu: “Minha hora é agora”.

Helio Fernandes

Com esse ministério trivialidade-inutilidade-interinidade, a oposição (ou seja lá o que representa a palavra num regime “presidencialista-pluripartidário”) despertou. Não era letargia, apenas silêncio, para não desfechar ou ratificar a crise interna do PSDB.

Mas Aécio, que só pretendia agir depois da posse de Dona Dilma, percebeu, foi aconselhado a quebrar o silêncio imediatamente, mostrar ao país, “o líder do PSDB sou eu, e com isso acumulo a liderança de toda a oposição”.

José Serra não tem charme, carisma, liderança, já conseguiu na vida pública (e logicamente particular) muito mais do que merecia. Foi tudo inesperadamente, até ele acreditou que poderia ser presidente da República, o que faltava no “currículo”.

Não enganou ninguém. Desde 2002, digo, “Serra jamais será presidente”. Lógico, era análise e não adivinhação. Embora não seja brilhante nem tenha passado (nem presente ou futuro) de analista-estrategista, o que Serra afirmou no dia da derrota final (e está no título destas notas) foi uma boa jogada e deu margem a várias interpretações.

Amigos e inimigos, correligionários e adversários identificaram como provocação. Até podia ser, mas pela primeira vez Serra fazia jogada inteligente (!), que confundiu até mesmo seu grande protetor, Fernando Henrique Cardoso, a quem deve tudo. (O resto veio com o exílio, no qual conquistou 300 títulos sem autenticidade e que nenhuma Universidade ou autoridade do Brasil reconhece).

Enquanto Serra “sofre” dependendo da longevidade, o ex-governador e agora senador de Minas, é atingido pelo mesmo “sofrimento”, só que na contramão. Todos dizem há anos: “Aécio é muito moço, pode esperar”. Mas na verdade já não é tão moço, já foi.

Governador de Minas aos 42 anos, reeeleito com 46, na certidão de nascimento está com 50 anos, mas na realidade eleitoral e política, tem 54. Pois a próxima eleição presidencial será em 2014. E para o “jovem” Aécio só restou essa disputa, não há nenhuma outra possibilidade.

Mas no Brasil político e eleitoral, existe uma figura que assusta todo e qualquer possível adversário. Seu nome? Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-governador de São Paulo já cumpriu a sua cota de derrotas para o mesmo vencedor. Sonha com o terceiro “enfrentamento”, em 2014, estaria com 72 anos, Lula com 69. Mas a diferença não estaria na idade e sim no destino.

Não é por acaso e sim por destinação, que alguém como Lula disputa cinco (5) vezes seguidas a presidência da República, três (3) vezes é derrotado, mas não é destruído. Continua, ganha duas vezes, tenta e não consegue outro mandato, mas deixará o governo (deixará também o Poder?) COGITADÍSSIMO para novo mandato, dependendo das circunstâncias.

Dá a impressão de estar se divertindo muito, ao contrário de Sarney e FHC, que vivem o último ciclo da amargura, ressentimento, no limite da depressão. Que já exibem, e não fortuitamente, que palavra.

Serra, bem ao contrário, não consegue definir “o que aconteceu comigo”, confissão que faz a amigos, entre os quais não inclui o ex-presidente FHC. O candidatíssimo Aécio Neves também não considera FHC e Serra grandes e visíveis amigos.

Isso é fácil de explicar e resumir, constatando as caminhadas do ex-governador de Minas, ao assumir publicamente que é candidato a presidente em 2014, sem ter a obsessão ou a necessidade de sair vencedor. Pode ter nova oportunidade em 2018, com 58 anos, idade que terá dentro de oito anos, e que todos já ultrapassaram agora.

Não estou fazendo divagações e sim analisando os fatos, nomes e circunstâncias que estão aí. Aécio foi a São Paulo, almoçou com FHC, conversou (no palácio) longamente com Alckmin, não procurou nem deu um simples telefonema para José Serra. Esquecimento? Descuido? Poderia mandar para Serra um simples “correio eletrônico” (detesto e-mail), que não precisa nem exige resposta, a não ser também dessa forma impessoal.

Depois, Aécio foi a Brasília, e com quem esteve longamente? Com o senador (vitorioso) Agripino Maia, líder do DEM. E já escolhido presidente do partido, contra a EXTINÇÃO desse DEM. E não foi por acaso que Aécio FORTALECEU a posição dos que querem manter o DEM, e não destruí-lo.

(Como fez o prefeito Kassab, que se aproveitou do DEM (para obter a legenda), do PSDB de Serra (para vencer), e agora trabalha para abandonar tudo e todos e se mudar para o PMDB. (Por isso, o prefeito de São Paulo esperava a visita de Aécio, ficou no mesmo vazio de José Serra).

***

PS – Puxa, Nossa Senhora, tanta coisa vai acontecer e já está acontecendo, esta é apenas “uma visitação” aos fatos.

PS2 – Mas haja o que houver, Aécio está respondendo ao discurso de Serra depois da derrota para Dilma.

PS3 – Aécio está deixando bem claro para Serra: “No que depender de mim e do PSDB, você não está dando adeus nem até logo. Sua saída da vida pública aconteceu sem DESPEDIDA e sem SAUDADE.

Helio Fernandes /Tribuna da Imprensa