domingo, dezembro 26, 2010

Faltam 5 dias para Dona Dilma chegar de fato ao Planalto. De direito já está lá. É preciso apenas cumprir a transição, em todos os países, depois da eleição, sempre dois presidentes.

Helio Fernandes

Essa rotina intermitente, normalíssima de esperar o tempo passar, mas tão lentamente que provoca muita angústia, vai terminando. Mas falta cumprir o “constitucional”, embora o presidente que sai, esteja fazendo hora extra no exibicionismo, e deixando rolar lágrimas e saudades pelo futuro que não desvendou nem conquistou, mas faz questão de esclarecer: “Posso voltar”.

Todos podem voltar ou até irem, como ensinou o poeta, que desvendou para todos o caminho da libertação e da possível felicidade: “Vou embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei”.

Só que a Pasárgada de Lula é aqui mesmo, tudo aquilo que o poeta imaginou, se acumula num só personagem, o próprio Lula. Ele é o Rei, sabe de emoção própria qual é a “mulher” que deseja, e a “cama” já escolheu faz muito tempo, tudo sintetizado, sumarizado e divulgado, na esperança da volta.

O Planalto sem data é a fixação de Lula, está tão absorvido pela saída, que atravessa e atropela o caminho da mulher que quer entrar, foi designada por ele mesmo.

Nenhum presidente entrega o Poder com satisfação. Mas outra verdade, é que raramente um presidente, antes de sair já anuncia a preocupação de voltar. Lula decretou e acrescentou até um tom emocional, declarando: “Vou andar pelas ruas, sou povo, sempre estarei com o povo”. Eis uma frase que não precisa nem de interpretação, basta perguntar: “Até quando Lula pretende andar pelas ruas?”

Se alguém puder responder, terá a chave para decifrar o clima que começa no primeiro dia de 2011, e nem Lula percebe ou pode explicar até ONDE ou até QUANDO poderá se alongar.

E Dona Dilma? Intrépida, altiva e altaneira, “cumpre a parte que lhe cabe nesse latifúndio”. Como se vê, pode haver tumulto, angústia e ansiedade em volta dela, mas a percepção dos grandes poetas ameniza e emociona sua caminhada, que demora apenas mais 6 dias.

Nenhuma contrariedade nessa escolha do ministério-paulistério-mistério. Surpreendentemente chegou aos 37, apenas a repetição de um número? A certeza de que precisa mesmo de 37? Ou querendo mostrar que vai inovar muito mas não pelos caminhos tido como tradicionais? Para ela, até agora, nenhum problema que atingisse sua tranqüilidade, serenidade ou até exigindo hostilidade. E olhem que momentos e oportunidades não faltaram.

Enfrentou tudo aparentemente concordando totalmente, mas na verdade impondo, direta ou indiretamente, o que pretendia. E sua presença foi marcante precisamente com governadores, que em muitas fases históricas dominaram ou tumultuaram a República. E agora, pelo menos cinco deles tentaram influenciá-la.

Dois desses, satisfeitos, não exigiram nada, mas foram totalmente recompensados. Jaques Wagner, do seu partido, obteve tudo, só foi a Brasília uma vez. Até o PP, para manter o Ministério das Cidades, indicou um nome da Bahia, mas precisou do aval do governador.

O outro, Eduardo Campos, também reeeleito com verdadeira consagração, recebeu tudo o que pretendia, sem intimidação ou provocação, mas mostrando o que pode representar. E o governador de Pernambuco (do PSB) ainda se deu ao luxo de VETAR Ciro Gomes para vários cargos, deu por terminada sua atuação, assim: “Ciro Gomes ATIROU para todos os lados”. E por enquanto ficou sem nada.

Tarso Genro, governador eleito do Rio Grande do Sul, ministro com ela e como ela, reivindicou muito (um direito representativo dele) mas recebeu pouco. Os que podem ter cacife para 2014 dentro do PT, precisam ser vigiados, embora não hostilizados.

Eduardo Braga, também reeeleito, cheio de planos, queria o Ministério do Meio Ambiente. (Anunciei um ano antes, quando deixou o governo do Amazonas, com uma senatoria certa esperando).

O Meio Ambiente era do Carlos Minc, que quando se desincompatibilizou, deixou a competente Isabela Teixeira, preferiu que ela continuasse. Braga, ficou “amuado”, que palavra, Dona Dilma fingiu que não percebeu, ele ficou sem nada.

***

PS – Não surpreendentemente, o maior perdedor, evitadíssimo, foi o governador do Estado do Rio. Medíocre, vil e ignaro (royalties para o grande jornalista J. E. de Macedo Soares), tentou invadir o espaço da própria Dilma, saiu abalado e rastejando, nenhuma novidade.

PS2 – Se estivéssemos não na época de Natal e sim na Páscoa, cabralzinho seria o Judas deste sábado. Mas foi ridicularizado, humilhado e vilipendiado (merece as palavras), ao pretender implantar um ministro pela intimidação.

PS3 – E Dona Dilma (como eu havia confidenciado), não esqueceu o episódio, vergonhoso (para ele) e que se transformou politicamente em desastroso. Dona Dilma, como contei, nem atendeu mais os telefonemas dele. E nomeou um ministro do Estado do Rio, sem a menor ligação com cabralzinho. (Foi Luiz Sergio).

PS4 – O deputado do PT, não lembrado para nada, acabou Ministro das Relações Institucionais, embora o PT do Estado do Rio seja muito menor do que o PMDB.

PS5 – Desde 1998, quando Vladimir Palmeira ia ser governador, Dirceu e Lula, ainda sem terem chegado ao Poder, fizeram intervenção no Rio, com medo do prestígio do futuro governador. No Rio o PT acabou ali.

PS6 – Como ficou a ver navios, cabralzinho podia ter preenchido o Ministério dos Portos. Nem isso conseguiu. Mas promete se vingar. Ha!Ha!Ha!

Helio Fernandes/Tribuna da Imprensa