Helio Fernandes
A expectativa geral não é nem de longe o ministério. Quando há dias, perguntava aqui mesmo se “seria Dona Dilma estrategista”, me referia precisamente a essas articulações. Era um terreno minado, cheio de obstáculos naturais e armadilhas nem tanto.
Toda e qualquer transição, tem o óbvio: o desespero dos derrotados, a arrogância dos vitoriosos. Neste caso, junta-se mais o ainda presidente, que faz a patética proclamação não escrita, de que “gostaria de ficar mais algum tempo”. E que o porta-voz Gilberto Carvalho ratifica; “Se houver dificuldade, Lula pode voltar”.
Não existe governo sem dificuldades, nem mesmo nas ditaduras. Estas dificuldades estarão na razão direta dos avanços e até mesmo dos retrocessos. Não é contradição e sim a reafirmação de que governar é contrariar interesses. Ou então, o que raramente acontece, satisfazer vontades e necessidades do povo. Aí, a elite endinheirada ou enriquecida, protesta imediatamente. Não se quer, não se exige , não se espera o empobrecimento dos ricos, e sim o enriquecimento dos pobres. Mesmo porque não existe fórmula para isso, nem à vista nem a prazo. (A elite do dinheiro é fanática pelo “Bolsa Família”. Uma multidão não precisa trabalhar, a culpa não cai em cima deles).
Lula conseguiu o que ninguém admitia. Isolado na fortaleza do Poder, e protegido pelos donos de órgãos de comunicação. Está deixando o governo, com a mesma cicatriz-tatuagem de Vargas: “PAI dos pobres e MÃE dos ricos”. Lula é hoje o ÍDOLO maior desses “proprietários da opinião pública”, que bradavam: “Lula quer acabar com a LIBERDADE DE EXPRESSÃO”.
Pode ter sido um jogo de cartas marcadas entre o presidente que sai e a presidente que entra. No auge e no apogeu do grupo dos “DIREITOS HUMANOS”, tudo se encaminhava para isso. Todos eles, que pregavam abertamente a censura total e irreversível, foram esquecidos, abandonados, demitidos sem decreto no Diário Oficial.
Não existe o inesperado em matéria de Poder, tudo é programado, planejado, executado, da forma exibida ou da forma contrária, ninguém se lembra de mais nada. Logo depois de vitoriosa, Dona Dilma começou a se pronunciar como ESPECIALISTA na PRIMEIRA EMENDA. A impressão: não tivesse feito outra coisa na vida, a não ser estudar, absorver e admirar a Constituição dos EUA.
E Lula? Não está aí para coisa alguma, não perde o sono com qualquer problema, existente ou agravado e fundamentado por ele mesmo. E o secretário particular que permanecera? Agora sem função específica, mas não intocável como imagina.
Dentro do ponderável, Dona Dilma surpreenderá muita gente. O imponderável nunca está sujeito a análise ou formulação, acontece e pronto. Em 1945, Vargas queria “Constituinte com Prestes”. Em 1950, Golbery e Lacerda quase impedem a sua posse. Nesse distante 1951, ninguém imaginava que o 1954 estava tão próximo e tão fora de expectativa.
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PS – Gostaria de imaginar qual seria (ou será) o primeiro grande impacto de Dilma sobre a opinião pública. Falo em matéria de choque, de confirmação de planos, projetos, compromissos.
PS2 – Também seria esclarecedor, qual Ministro ficaria mais íntimo e mais assíduo com Dona Dilma. Os da “casa”, do Planalto (principalmente Palocci reabilitado) não contam. Mas nenhuma dúvida: no mesmo cargo, Palocci não terá nem 20 por cento da influência e importância de Dona Dilma.
PS3 – Dilma jamais repetirá Lula em relação a Palocci ou a qualquer outro: “Espero que ele me dê sinal verde para reduzir os juros”. Pode até não haver perseguição. Mas não esperem concessão da parte dela.
PS4 – A camisa 10, com o nome de Dilma, será vestida unicamente por ela. Não dividirá o Poder com ninguém, para errar ou para acertar. Meirelles sabia disso, tentou escapar da guilhotina, só que ele é especialista em FMI e não em Revolução Francesa.
PS5 – Palocci tem dois sonhos ou obsessões. Ficar os 4 anos na Casa Civil, e depois, seja o que Deus quiser. E quem será a Erenice Guerra de Palocci? Com a reputação que trouxe do município, e “consolidou” na Fazenda, pode ser um caseiro qualquer.