segunda-feira, dezembro 13, 2010

Escolhas polêmicas

Beto Richa e Dilma Rousseff indicaram secretários e ministros que estiveram envolvidos em escândalos políticos

Publicado em 13/12/2010 | Caroline Olinda

A presidente eleita, Dilma Rousseff, e o futuro governador do estado, Beto Richa, parecem não temer a polêmica que pode ser causada por algumas indicações que fizeram para os ministérios e o secretariado, respectivamente. Dos 16 ministros já confirmados por Dilma, ao menos seis são suspeitos de envolvimento em ilegalidades, como loteamento de cargos, compra de votos e até lavagem de dinheiro. No Paraná, alguns dos futuros secretários também já enfrentaram problemas na Justiça ou estiveram no centro de escândalos recentes da política paranaense.

Dos futuros chefes da Esplanada dos Ministérios, quem talvez carregue o maior peso do passado seja Antonio Palocci. O próximo ministro-chefe da Casa Civil deixou o governo Lula em 2006, após o escândalo da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, testemunha do caso da República de Ribeirão Preto – mansão que empresários da cidade paulista usavam para fazer lobby em Brasília. Palocci foi absolvido pelo Supremo, mas o escândalo marcou sua história e ainda pode servir de munição para a oposição atacar o governo Dilma.

Richa reproduz nepotismo de Requião

Além de escolher políticos que já estiveram envolvidos em escândalos e problemas na Justiça para compor o seu secretariado, o futuro governo Beto Richa também não temeu possíveis críticas e indicou a mulher, Fernanda Richa, e o irmão, José Richa Filho, para secretarias importantes.

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Entre os confirmados para o secretariado de Richa até agora, Cassio Taniguchi (DEM) é o que já enfrentou mais polêmicas. O ex-prefeito de Curitiba chegou a responder à quase 30 processos na Justiça por supostas irregularidades durante a sua gestão na capital do estado e enfrentou denúncias de caixa 2 na campanha à reeleição, em 2000. No ano passado, Taniguchi deixou o governo do Distrito Federal em meio ao escândalo do mensalão do DEM. Na época em que as denúncias contra o ex-governador José Roberto Arruda (ex-DEM) começaram a surgir, Taniguchi ainda era secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal, cargo que assumiu em 2007. O escândalo não chegou a atingir diretamente o ex-prefeito, que nunca foi citado nas investigações da Polícia Federal.

Na avaliação do especialista em marketing político Carlos Manha­nelli, a população tende a esquecer escândalos do passado. “As pessoas não só esquecem como perdoam. Principalmente quando não há condenação na Justiça, a população tende a não se importar com o passado dos futuros ministros ou secretários. Então, isso não pesa tanto na imagem dos novos governos”, diz. Para ele, a população só passa a se preocupar com quem está ocupando ministérios e secretarias no momento em que o governo vai mal ou surgem denúncias muito fortes.

O professor Bianco Zalmora, do departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Lon­­drina, tem opinião semelhante. “A gente percebe um descaso [dos futuros governantes] com a opinião pública. Mas essas práticas são tão costumeiras que começam a gerar uma apatia na população”, avalia. Apesar disso, ele observa que práticas fisiologistas podem ter a capacidade de prejudicar os novos governos.

Para Zalmora, algumas das indicações feitas por Richa para acomodar interesses de aliados, por exemplo, podem criar poblemas de credibilidade para o futuro governador. Uma vez que, durante a campanha eleitoral, ele reforçou o discurso de renovação das práticas políticas. O cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca a indicação de Taniguchi para a Secretaria de Planejamento como um fator que pode diminuir a expectativa da população de que haja mudanças com o governo Richa.

“Ao menos o eleitor mais esclarecido já se sente ludibriado. Porque houve a indicação de um nome que não concorreu à reeleição para deputado federal por já saber da sua rejeição e não participou da campanha de Richa. É mais grave que no caso de Palocci porque ele estava presente na campanha da Dilma desde o começo”, comenta. “Aquele que esperava renovação começa a perceber que ela não veio”, conclui.

Fonte: Gazeta do Povo