Carlos Chagas
Quando eclodem as guerras, os países envolvidos dedicam-se a analisar suas causas, justificando-se pelo envolvimento nos confrontos. Ainda em 1939 as democracias européias acusavam a Alemanha de invadir outras nações, ao tempo em que Adolf Hitler alegava o esbulho do Tratado de Versailles contra o povo germânico.
Sucedem-se as explicações sobre a conflagração no Rio, com a polícia e as autoridades denunciando a extensão do crime organizado no controle das favelas e os narcotraficantes sustentando que a miséria e o desemprego não lhes deixaram outra opção de sobrevivência.
Só que ambos os lados em choque, com raras exceções, omitem o fator principal de responsabilidade pela conflagração: os usuários de droga. Não tivessem os viciados se multiplicado em progressão geométrica e não estaríamos assistindo essa novela de horror.
Os números não deixam mentir: só da Vila Cruzeiro escaparam perto de 600 narcotraficantes, refugiando-se no Complexo do Alemão. Multiplique-se pelas outras mil favelas fluminenses o número de bandidos empenhados em adquirir, vender e distribuir cocaína, maconha e outras drogas, e se terá o número aproximado de dezenas de milhares de criminosos assolando a antiga capital e adjacências.
Isso significa número muito maior de viciados, daqueles que recebem a droga a domicílio ou freqüentam as bocas de fumo. Duzentos mil, quinhentos mil, no Rio? São eles os responsáveis pela guerra. Carregam a culpa pela intranqüilidade da população inteira, mais os assassinatos, os roubos e as depredações. No entanto, são tratados como vítimas, coitadinhos, pobres doentes contaminados pela angústia…
Aqui para nós, é preciso criminalizá-los. Identificá-los. Expô-los à sociedade. Torná-los responsáveis perante a Justiça, aplicando-lhes penas que, mesmo não sendo de prisão, precisam ser conhecidas dos vizinhos, parentes, patrões e empregados. Em especial os melhor favorecidos, os ricos e os integrantes das elites. Vale repetir, são eles os culpados pelo que vai acontecendo, porque se não existissem, não existiria o narcotráfico. Nem a guerra.
APOIO POPULAR
O povo do Rio aplaudiu a entrada das Forças Armadas na guerra travada em seu território. A Marinha saiu na frente, com os fuzileiros navais e seu equipamento. O Exército entrou ontem, assim como a Aeronáutica. Algo de novo aconteceu no cenário institucional, mais do que elogiável. Foram superadas décadas de indecisão. Ainda bem. Importa menos saber quem comanda as operações, pois a defesa da ordem pública é dever dos militares.
DILMA NO RIO?
O senador Pedro Simon sugeriu ontem, da tribuna do Senado, que a presidente Dilma Rousseff siga para o Rio o mais breve possível, solidarizando-se com a população e apoiando as autoridades empenhadas na guerra contra o crime organizado. O problema é que o presidente Lula ainda não foi. Talvez possa ir hoje, quando voltar da Guiana.
IMPASSE
PMDB e PT ainda não se entenderam a respeito da presidência da Câmara. A tradição recomenda que o partido com a maior bancada indique o presidente. Nesse caso, seria um petista, assim como a presidência do Senado está e continuará com o PMDB, com número superior de senadores. Quanto a promover um rodízio entre os dois partidos, na Câmara, só se for estendido ao Senado. Não chega a ser uma iniciativa ética buscar a formação de blocos com outras legendas, visando quebrar as maiorias. Até porque, o vento que sopra de um lado, sopra de outro.
Fonte: Tribuna da Imprensa