quarta-feira, outubro 27, 2010

País não pode descer “serra abaixo”, diz LulaPaís não pode descer “serra abaixo”, diz Lula

Na Cidade Industrial de Curitiba, presidente ataca adversários e recebe homenagem pelo aniversário

27/10/2010 | 00:14 | Carlos Eduardo Vicelli e Heliberton Cesca

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o comício de ontem à noite, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), para atacar a oposição – especialmente José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Sem a presença da presidenciável Dilma Rousseff (PT), que buscava votos na Região Nordeste, Lula usou um trocadilho para dizer que os curitibanos não deveriam eleger o tucano. “Não é possível que um estado como Paraná, um dos mais desenvolvidos deste país, com um padrão de vida altíssimo, permita que o país desça serra abaixo”, disse, recebendo aplausos de correligionários. Frase semelhante foi usada por Dilma ontem em Caruaru, interior de Per­­nambuco.

Com o time dividido – e os holofotes exclusivos –, Lula incorporou o personagem do velho sindicalista para atrair a atenção do público por cerca de 27 minutos. Estimativa da Polícia Militar é de que aproximadamente 3 mil pessoas tenham comparecido à Rua Senador Accioly Filho. Público menor que o comício do 1.º turno no bairro Sítio Cercado. Os seguranças chegaram a encurtar o espaço destinado aos militantes para evitar grandes vazios, o que prejudicaria a imagem do comício.

Candidata usa mesmo trocadilho do presidente em Pernambuco

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, também fez um trocadilho com o nome do seu adversário e disse, ontem, em rápido discurso em Caruaru (PE), que no próximo domingo o eleitor escolherá entre “continuar o que está dando certo ou descer serra abaixo”.

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“Como podemos confiar em alguém que fica atacando uma mulher a todo momento? Como alguém assim quer ser presidente? Imagine depois [de eleito] como vai ser com a gente [povo]”, ressaltou o presidente, que completa 65 anos hoje, com direito a várias “festas” espalhadas pelo Brasil, como divulgou ontem a organização da campanha petista.

Lula, contudo, parece ter se rendido a pelo menos uma proposta do adversário: o 13.º para o Bolsa Família, o principal programa social da gestão petista. “O Bolsa Família, que eles tratavam como esmola antes, agora estão prometendo até dar o 13.º. A dona Márcia [Lopes, ministra do Desenvol­­vimento Social e Combate à Fome] certamente vai fazer aqui”, disse.

Além de Márcia, o ministro do Planejamento Paulo Bernardo também representou o primeiro escalão do governo federal. Entre as autoridades locais, o governador do Paraná Orlando Pessuti (PMDB), que puxou um tímido “parabéns a você” em homenagem a Lula, foi o primeiro a discursar. Breve, se resumiu a pedir votos à petista, “a melhor opção para o Brasil”. Quem assumiu o microfone na sequência foi o ex-governador e senador eleito Roberto Requião, também do PMDB. Bem mais incisivo, usando palavras fortes, Requião pediu com veemência para a população de Curitiba não votar em Serra, lembrando da polêmica iniciativa do tucano que, há 22 anos, durante a Constituinte, foi foi relator do texto que definiu exceções às regras de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre energia elétrica e petróleo. Ao contrário de todos os demais produtos que estão na base do ICMS, a norma determina que a arrecadação sobre eles só ocorre no estado consumidor (de destino), o que prejudica os cofres paranaenses – e beneficia São Paulo, estado de origem do tucano.

Estavam ainda no palco o senador Osmar Dias (PDT) e a senadora eleita Gleisi Hoffmann (PT). Demonstrando abatimento por causa da derrota para Beto Richa (PSDB) na disputa pelo governo do estado, Osmar encurtou a fala. Além de seguir o roteiro agendado, pedindo apoio a Dilma, agradeceu os votos que obteve na cidade – 300.975 contra 690.823 do adversário.

Gleisi tinha mais a dizer. Olhando para Lula, a petista se emocionou ao lembrar que o comício de ontem era o último do petista no Paraná na atual gestão como presidente da República. Foi a deixa para a surpresa da noite. Pessoas comuns subiram ao palco para agradecer diretamente ao presidente por terem alcançado uma “vida nova”. Um agricultor lembrou dos programas destinado aos trabalhadores rurais. Um estudante negro e “filho de trabalhador” ressaltou o fato de pode cursar uma faculdade. Ao redor, um grupo de crianças, todas vestidas de branco, agitavam balões vermelhos em formato de estrela.

No fim, quebrando o protocolo, Lula caiu nos braços do povo. Desceu do palco para abraçar populares, encerrando a última tentativa de levar os curitibanos para o lado de Dilma.
Fonte: Gazeta do Povo