Fernanda Chagas
Fica cada vez mais acirrada a “guerra” entre o PT e o PMDB baianos. Em meio ao fogo cruzado, o governador Jaques Wagner, entretanto, acabou por surpreender ao atacar de forma direta o ex-aliado Geddel Vieira Lima. Ontem, ao final da carreata em Governador Mangabeira, cuja prefeita peemedebista Domingas Oliveira declarou apoio a sua candidatura, o líder petista, num claro sinal de afronta ao PMDB, disse que é um grande prazer estar ao lado dela.
“Pois, Domingas tem trajetória semelhante ao povo do Brasil, povo negro que já foi escravo. Desde que a conheci, me apaixonei pela figura humana e política, pela sua coragem e destemor de não aceitar que lhe coloquem cabresto ou ordem. Tenho muito orgulho dessa parceria”.
Por tabela, Wagner aconselhou a prefeita a não ligar para as ‘bobagens’ ditas pelos adversários. “Obra para mim não tem nada a ver com partido político. A mãe de todas as obras é a necessidade do povo, que é o dono delas, porque paga os impostos. Durante a minha gestão, eu sempre trouxe o que a cidade precisou, sem olhar para o partido de prefeito A, B ou C.
Alguns não querem entender que o mundo mudou e que política não se faz mais com chicote na mão e dinheiro na outra. O dinheiro de emergência que foi liberado para a cidade é o do povo e não tem por que ninguém capitalizar”, disparou num claro recado ao PMDB.
Wagner citou ainda como exemplo algumas obras que já estão com verba liberada, entre elas a reforma do Centro Médico Otto Alencar, a construção do Posto de Saúde da Família, a revitalização da Fonte das Cabeças e a construção de uma quadra poliesportiva. Por fim, o governador, fugindo ao seu tom habitual, reiterou o profundo orgulho que sente pela amizade com a prefeita. “Negra, ex-doméstica e mulher, ela se fez respeitar nessa cidade”.
Domingas Oliveira, por sua vez, reiterou que tem sofrido muito com as pressões que vem recebendo, mas enfatizou que todas as obras dessa cidade vieram através de Wagner e Lula. “Está forte a pressão porque eles querem o meu mandato, mas eu não vou largar Wagner e estou tomando todas as providências para responder a eles. Não tenho medo de nada e peço para vocês me presentearem votando em Wagner”, disse, complementando ter sido destratada pelos irmãos e humilhada, por apoiar o governador.
“Mas não arredarei o pé do PMDB. Em 2008, fui eleita com o apoio do PMDB e do PT, que estavam unidos. Portanto, não podem me acusar de infidelidade”, reforçou.
Gestor de Cachoeira reforça crise
A Executiva Estadual do PMDB recorreu ao Conselho de Ética ameaçando Domingas de expulsão. O partido suspendeu a gestora por 60 dias até o julgamento da questão e quer ainda a perda do seu mandato pelo mesmo motivo. Para tanto, recorre à Resolução Nº. 03/2010, que diz: “Todos os filiados do PMDB deverão respeitar os candidatos escolhidos na convenção, inclusive participando da campanha, vedando o apoio direto ou indireto a candidatos que não sejam da coligação”. Em entrevista recente à Tribuna da Bahia, o secretário geral do partido, Almir Melo, disse que “tantos que cometerem infidelidade serão expulsos”.
Reforçando a crise, ontem mais um prefeito do PMDB aderiu à campanha do PT. Tato Pereira, líder do Executivo de Cachoeira, externou seu apoio a Wagner, Pinheiro, Lídice e Otto em meio a uma carreata pelas principais ruas da cidade. “O governo do estado foi um verdadeiro parceiro de Cachoeira através do PAC das cidades históricas, além de trazer universidades para a região.
Por isso eu confio no time de Wagner. Tenho certeza que ele fará um governo ainda melhor que o primeiro, e Pinheiro e Lídice serão essenciais para esse trabalho”, declarou o prefeito.
Wagner, sem esconder a satisfação do crescente apoio de prefeitos que não fazem parte da coligação, ressaltou mais uma vez a importância de eleger os dois senadores da sua chapa, Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSC). “É importante lembrar que precisarei de Pinheiro e Lídice no Senado. São eles que, com João Durval, vão ajudar meu governo e o de Dilma”. (FC)
Fonte: Tribuna da Bahia