segunda-feira, setembro 20, 2010

Não formamos: informamos

Carlos Chagas

Mais uma vez o primeiro-companheiro investe contra a imprensa. Generaliza, como se os meios de comunicação do pais inteiro se limitassem a três jornais do eixo Rio-São Paulo, além de uma revista semanal que não poupa seu governo. Exagerou, ao reivindicar, num palanque em Campinas, que ele, Dilma e o PT são a opinião pública, negando a propalada categoria dos “formadores de opinião”, no que pareceu correto.

Revelou-se atrasado, o presidente Lula. Porque há décadas, nos cursos de Comunicação, emergiu a corrente da humildade. Aquela que sustenta não sermos nós, jornalistas, “formadores de opinião”, excetuados alguns coleguinhas de nariz em pé e cérebro curto, assim como alguns de seus patrões.

A imprensa é apenas informadora, ou seja, quem se forma é a própria sociedade, estimulada por diversos fatores, um dos quais o de ser bem informada de tudo o que se passa nela de bom e de mau, de certo e de errado, de ódio e de amor.

Reivindicar a condição de formadores, artífices da opinião pública, orientadores da sociedade e outras bobagens será anacronismo digno dos tempos em que os jornais existiam para defender ou opor-se a idéias, interesses e situações. Evoluímos para transmissores de informações, mesmo sendo mantidos espaços para opinião, entretenimento e serviços. O fundamental para a mídia, porém, aquilo que faz sua razão de ser, é a noticia. A informação incapaz de ser confundida com a formação, constituindo-se apenas num dos fatores em condições de levar a sociedade a aprimorar-se e a decidir por ela mesmo.

Por fim, sobra a dúvida: quem deu ao presidente Lula, a Dilma e ao PT o privilégio de encarnar a opinião pública? Nem o sociólogo, de resto tão presunçoso, ousou chegar a tanto.

METENDO A MÃO EM VESPEIRO

Que o presidente Lula tenha lançado Dilma Rousseff, pretendendo manter o poder para o seu grupo político, nada a opor. Tem o direito, até mesmo, de subir em palanques e pedir votos para a candidata.

Justificam-se até seus interesses e sua preferência por certos candidatos a governador, seja por julgá-los melhores, seja para evitar a eleição de seus concorrentes.

O que não dá para entender é o presidente fazendo listas de quem quer e de quem não quer ver eleito para o Senado. Serão 54 vagas de senador a preencher em todo o país e se ficar recomendando uns e vetando outros, o primeiro-companheiro arrisca-se a quebrar a cara. É claro que sua popularidade poderá estimular a eleição de um e a derrota de outro, mas, como regra, não dá certo. Acabará sendo apontado como o presidente que tentou mas não conseguiu afastar um monte de adversários. Perderá pontos em sua biografia caso as oposições mantenham suas principais lideranças e até revelem outras.

“O Lula faz tudo para impedir a vitória de Tasso Jereissatti”, ouve-se no Ceará. Caso o ex-governador seja reeleito, como parece que acontecerá, quem terá perdido? Não quer Heloísa Helena, em Alagoas, nem Mão Santa, no Piauí, nem César Maia, no Rio, nem Marco Maciel, em Pernambuco, nem Aécio Neves, em Minas, e quantos outros, nos demais estados? E daí, caso seus adversários se elejam? E daí é que ficará tudo registrado.

E A CADEIA?

Acabam de ser soltos, mas antes foram presos, o governador e o ex-governador do Amapá. O mesmo aconteceu com o governador de Brasília, com Paulo Maluf e muitos outros.

A pergunta que se faz é porque Erenice Guerra e sua quadrilha, acusados pelos mesmos crimes, deverão ficar imunes à prisão, como se alardeia? Apenas por terem trabalhado sob a sombra do palácio do Planalto? Para não criar problemas na sucessão presidencial?

O ENCERRAMENTO

Está previsto para daqui a uma semana, na segunda-feira, 27, o comício de encerramento da campanha de Dilma Rousseff, na praça da Sé, em São Paulo, com direito à presença do presidente Lula. Esforços já se fazem em diversos setores para uma apoteose com um milhão de pessoas, coisa digna do comício das “Diretas Já”. Pode ser que a assistência não chegue a tanto, mas as imagens serão utilizadas nos três dias seguintes como uma espécie de confirmação prévia dos resultados do dia 3 de outubro. É bom ficarmos com a lição do humorista português, Raul Solnado, que depois da Revolução dos Cravos sentenciou: “Após a festa das flores, deve-se aguardar a conta do florista…”

Fonte: Tribuna da Imprensa