Carlos Chagas
Continuam a baixaria e a fantasia a marcar os principais lances da sucessão presidencial. No primeiro caso, porque cada candidato tem aumentado o diapasão de agressões aos demais, como se destruir fosse a chave para a vitória. Dilma, Serra, Marina e até os outros sete penduricalhos esquecem-se, cada vez mais, de construir. Pouco ou nada falam de seus programas e planos para enfrentar as grandes questões nacionais, preferindo denegrir as realizações do governo Lula ou do passado governo Fernando Henrique, dependendo de quem ocupe câmeras e microfones. Falta pouco para a transformação de adversários em desafetos.
Não que esse entrevero seja novidade, porque em outras campanhas foi até pior. Os mais velhos lembram que Jânio Quadros agitava um bambu com um rato morto pendurado na ponta da corda, proclamando ser a imagem de Ademar de Barros, que por sua vez, com outro bambu, balançava um gambá igualmente falecido, comparando-o ao inimigo. Ainda recentemente, Fernando Collor ameaçava botar José Sarney na cadeia e o Lula, antes da Carta aos Brasileiros, falava na prisão dos especuladores.
As coisas não chegaram a esse limite, mas é bom tomar cuidado. Os postulantes ao palácio do Planalto já estão se chamando de lobos em pele de cordeiro, para continuarmos no reino animal.
O reverso da medalha também gera preocupações. Falamos da fantasia que toma conta das campanhas. Dado o empate entre os dois favoritos, nas pesquisas, e mais a frustração dos outros, deixam-se todos iludir pelo sonho do período da propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e a televisão.
A partir de 17 de agosto tudo será diferente, para eles, acreditando que através das câmeras e microfones conseguirão alcançar a vitória fácil. O que não aconteceu por meio de entrevistas, passeatas, conferências e até alguns bissextos debates, acontecerá agora pelo milagre dos marqueteiros. E de suas próprias qualidades por enquanto enrustidas, é claro.
Enganam-se os candidatos se imaginam passes de mágica. Primeiro porque experiências anteriores demonstraram estar o índice de audiência desses programas bem abaixo das novelas, de abomináveis lambanças e até do noticiário apresentado pelas grandes redes. Depois, porque parte dos ouvintes e telespectadores costuma desligar os aparelhos. Outros vão para a cozinha tomar um cafezinho. Há os que se dedicam a selecionar o ridículo dos postulantes a cargos eletivos, em especial os candidatos a deputado estadual e deputado federal. Chega a dar saudade do saudoso dr. Enéias, aquele do “meu nome é”, por falta de mais tempo.
As informações são de que os comandos de campanha esmeram-se em preparar grandes produções, apesar dos constrangimentos da nova legislação eleitoral. Artistas continuam proibidos de fazer campanha para seus preferidos. Cenas externas também despertarão restrições. O ideal, nesse arremedo de espetáculo de mau gosto, seria que os candidatos aparecessem sentados num banquinho, olhando para a luz vermelha e dizendo a que vem. Que propostas dispõem para o Brasil. Há quem preveja terem conquistado maiores índices de audiência os jogos da recente copa do mundo de futebol. Com certa razão.
Deu certo no silêncio
Quando, cercado de malícia, o presidente Juscelino Kubitschek comprou um porta-aviões, também chamado de navio-aeródromo, que cessou grande parte da má vontade de Marinha e Aeronáutica cultivada contra ele. Afinal, quem pilotaria os aviões do “Minas Gerais”? Durante anos, ninguém, dada a disputa entre as duas forças.
Mais tarde, Castello Branco, na presidência da República, resolveu decidir a tertúlia, que de cômica ameaçava transformar-se em trágica. Depois de mil estudos e pareceres, o primeiro general-presidente deu ganho de causa à Aeronáutica, com base na doutrina de que tudo o que voasse a ela pertencia. Houve entendimento entre marinheiros e aviadores, mas o mundo andou para a frente.
Já em plena Nova República, os chefes militares chegaram à conclusão de que os aviões deveriam ser pilotados por oficiais da Marinha. Sem alarde, para não dar a impressão da existência de vencedores e vencidos, as Forças Armadas firmaram nova doutrina, até estabelecendo que o Exército deveria ter os seus próprios pilotos, no caso, para conduzir seus helicópteros.
Assim estamos, do governo Sarney para cá. E tomara que tudo continue no clima de entendimento, mas para que não sobrevenham surpresas seria bom o presidente Lula decidir de uma vez por todas onde comprará os imprescindíveis 36 aviões de caça de que precisamos para atualizar tecnologicamente nossos pilotos. Pelo jeito, porém, o governo continuará empurrando a decisão com a barriga: nem franceses, sem americanos, nem suecos. Enquanto isso a Venezuela continua comprando da Rússia montes de esquadrões de Sukhois…
Fonte: Tribuna da Imprensa