sexta-feira, agosto 13, 2010

De vidraça a pedra

Carlos Chagas

Virou moda, de uns dias para cá, atribuir a Aécio Neves a culpa pelos índices de preferência de José Serra estarem abaixo dos números de Dilma Rousseff. Queixas sucedem-se no ninho dos tucanos, como se o ex-governador de Minas fosse o responsável pela ascensão da candidata nas pesquisas.

Pode ser até verdade que, se Aécio tivesse sido o candidato a vice na chapa de Serra, seriam outros os resultados das consultas populares. Mas ele não quis, prerrogativa ligada tanto à sucessão em Minas, pela necessidade de ajudar Alberto Anastasia, quando pela estratégia futura. Caso o ex-governador de São Paulo viesse a perder as eleições com ele de vice, Aécio ficaria pendurado no pincel, sem escada, perdendo as chances de tornar-se o príncipe herdeiro da social-democracia. E diante da derrota na tentativa de reeleição do atual governador mineiro, hipótese por enquanto provável, o neto do dr. Tancredo estará preservado, com a vitória garantida para o Senado. Se errou mais do que acertou ao rejeitar a vice de Serra, ou, ao contrário, preservou-se, só as urnas revelarão, mas o que não dá é para assistir o PSDB nacional jogando pedras em Aécio Neves. Ele poderá muito bem virar o jogo e deixar de ser vidraça, caso se mantenha como a maior figura mineira da atualidade, opção óbvia para as eleições de 2014.

O singular nessa história é que até o adversário, Helio Costa, meteu sua colher na panela, censurando Aécio por não haver deixado o PSDB e ingressado no PMDB, quando poderia ter-se tornado candidato presidencial do próprio Lula. Trata-se de um raciocínio distorcido. Primeiro porque ninguém garantiria o apoio do presidente da República, depois porque o PMDB é mestre em tirar o tapete de seus próprios filhos. Que o diga o ex-governador Roberto Requião.

Em suma, Aécio Neves escolheu seu próprio caminho, preferindo o certo pelo duvidoso, mesmo se não conseguir eleger Anastasia. Logo chegará a hora de devolver as pedras recebidas, em especial sobre quantos têm telhado de vidro.

Dia de chegar em casa

A sucessão presidencial não permitirá, mas, por cautela, os candidatos deveriam ficar em casa, hoje. Uma sexta-feira, 13, em agosto, não é data que se ignore. Mesmo estando a astrologia fora de moda, seria sempre bom tomar cuidado. Afinal, ninguém pode escorregar, na corrida pelo palácio do Planalto. José Serra faz dias que não divulga mais sua agenda, dizem que para evitar movimentações de seus adversários. Dilma Rousseff tem dedicado uns dias, poucos, a permanecer reunida com assessores, sem eventos públicos, e hoje poderia ser um deles. Marina Silva parece que visitará o Acre, seu estado natal, onde sempre poderá abrigar-se à sombra da floresta. Só quem pode dar de ombros para a data é Plínio de Arruda Sampaio. Tanto como comunista quanto como católico praticante, porque nem a Igreja nem a extinta União Soviética davam bola para superstições.

As verdadeiras estrelas

À medida em que o tempo passa e as eleições se sucedem, mais aumenta a praga em parte responsável pelo descrédito do jornalismo. Porque deveriam os profissionais da arte de informar ter presente que em qualquer tipo de entrevista, a estrela é o entrevistado. É ele que devemos estimular e até provocar para que fale, exponha-se ou se enrole. Jamais o entrevistador deve julgar-se o centro da entrevista, procurando minutos de fama ilusória no quintal dos outros.

O que cada vez mais assistimos é jornalistas discursando e dando opiniões, em vez de perguntar. Além de se dedicarem à mal-educada prática de interromper respostas quando ainda incompletas. Pensam que o povo é bobo, que não percebe a distorção. Ledo engano. Basta atentar para os índices de audiência das entrevistas, cada vez mais baixos.

O nó da segurança pública

Anuncia-se para as próximas horas a divulgação, por José Serra, de seus planos para desatar o nó da segurança pública, ou seja, de que maneira enfrentará a insegurança que faz do cidadão comum um prisioneiro em sua própria casa ou uma vitima certa de ser atingida na primeira esquina. Envolver o governo federal na questão hoje em mãos dos governos estaduais e municipais pode ser um bom começo, até mesmo com a criação do ministério da Segurança Pública. Só que não basta a injeção de recursos federais nas precárias estruturas policiais de estados e municípios. Torna-se necessário reformular as leis penais, acabar com a farra dos benefícios para bandidos que pouco tempo depois de condenados estão nas ruas praticando os mesmos crimes. Atacar as causas, em vez de ficar combatendo apenas os efeitos, é outra estratégia imprescindível. A par com a repressão, é preciso a prevenção, voltada especialmente para a juventude. Além do emprego óbvio das forças armadas, pelo menos na vigilância permanente das fronteiras e no enfrentamento do contrabando de drogas e armas. E quanta coisa a mais?

Fonte: Tribuna da Imprensa