José Cruz/ABr
Requião, em coletiva em Brasília: “A candidatura do Temer é uma imposição do grupo parlamentar que comanda o partido”Ex-governador mantém a pré-candidatura à Presidência e diz que Michel Temer – que vai compor a chapa com a petista Dilma Rousseff – pode ser o vice dele na chapa peemedebista
Brasília - O que era para ser uma festa para comemorar a harmonia peemedebista na aliança com o PT na eleição presidencial pode parar na Justiça. Após levar o “cano” do presidente do PMDB, Michel Temer, em um encontro marcado para ontem à tarde na sede do partido em Brasília, o ex-governador Roberto Requião anunciou que recorrerá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para impedir a realização da convenção nacional da legenda, amanhã, caso não possa apresentar-se como pré-candidato ao Palácio do Planalto. “Se o Temer faz tanta questão, pode ser meu vice”, cutucou o paranaense.
O edital de convocação da convenção, publicado no dia 2 de junho, chama os delegados da legenda a “aprovar” Temer como candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pela ex-ministra Dilma Rousseff (PT). O mesmo texto, porém, faz referência a uma resolução do partido que estabelece que o registro da pré-candidatura pode ser feito até 48 horas antes da convenção. Ao todo, foram protocolados quatro pedidos indicando Requião desde novembro de 2009 – o último deles foi realizado na quarta-feira passada, ainda dentro do prazo, com uma carta assinada por ele próprio.
Acompanhado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), Requião concedeu à tarde uma entrevista coletiva na Câmara dos Deputados e assinou, na presença de jornalistas, uma procuração na qual autoriza o advogado Milton Cava a recorrer ao TSE para impedir a realização da convenção, caso ele não possa apresentar sua pré-candidatura. “Será um desgaste desnecessário para o Temer e para o PMDB. Sabemos que vamos perder, mas não custa deixar o Requião falar o que pensa”, disse Simon.
O acordo poderia ter ocorrido ontem, mas não aconteceu porque Temer viajou para o Rio de Janeiro. “Deve ter acontecido alguma catástrofe por lá”, ironizou Requião. Temer convocou para hoje uma reunião da executiva do partido, quando o assunto deve ser resolvido.
Para Simon, o grande medo do presidente do partido é que ceder espaço para Requião possa alimentar outras dissidências na legenda. “Todo mundo sabe que há gente que prefere apoiar o [José] Serra e o PSDB, o que é considerado perigoso por esse pessoal que só quer saber de uma aliança com o PT.” A pré-candidatura do paranaense tem o apoio formal dos diretórios estaduais do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Nos quatro há segmentos favoráveis aos tucanos. “A candidatura do Temer é uma imposição do grupo parlamentar que comanda o partido”, atacou Requião. Ele também criticou as propostas levantadas pela ala do PMDB favorável ao acordo com os petistas.
O ex-governador abriu a coletiva criticando o apoio desse grupo à autonomia do Banco Central. “Esse é o partido das classes populares, e não dos banqueiros.” Se puder discursar como pré-candidato na convenção, ele esboçará alguns pontos de um plano de governo que deve incluir o fim do câmbio flutuante e o aumento dos salários.
A movimentação de Requião nesta semana em Brasília não tem contado com o apoio de lideranças paranaenses do partido. Nem o presidente da legenda no estado, deputado estadual Waldyr Pugliesi, tem ajudado nas negociações. Além disso, a bancada do Paraná na Câmara tem sete peemedebistas e nenhum deles prestigiou o ex-governador.
Entre janeiro e fevereiro, Requião viajou por Piauí, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo para divulgar a pré-candidatura. Nos últimos meses, entretanto, ele tem se dedicado mais à pré-candidatura ao Senado. Apesar de defender a candidatura própria a presidente, ele tem se posicionado contra a escolha de Orlando Pessuti como nome do PMDB a governador e a favor de uma aliança com PT e PDT, encabeçada pelo senador Osmar Dias.
Requião já tentou disputar a convenção do partido em 1994 e 2002. Na primeira vez, chegou a participar de uma eleição interna, mas perdeu para o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia. Há 16 anos os peemedebistas não disputam as eleições presidenciais e, nesse período, revezaram-se em alianças com PSDB e PT.
Fonte: Gazeta do Povo