quinta-feira, junho 17, 2010

PF desvenda fraude em concursos

FOLHAPRESS

Doze pessoas foram presas ontem em uma operação da Polícia Federal contra uma quadrilha que fraudava concursos públicos em todo o país. De acordo com a PF, os clientes do grupo pagavam até US$ 150 mil (quase R$ 270 mil) pelo resultado das provas. Entre os presos na operação batizada de Tormenta está um policial rodoviário federal de São Paulo.

As investigações que identificaram a quadrilha tiveram início após concurso para Agente de Polícia Federal, realizado em 2009. De acordo com a corporação, foram identificados 53 candidatos que tiveram acesso à prova. Dessas pessoas, seis teriam conseguido chegar à fase final do concurso e seriam empossadas na próxima sexta-feira. Eles foram expulsos ontem.

Além disso, outras 26 pessoas tiveram acesso a uma prova da OAB. Há indícios ainda de que 41 tenham fraudado prova da Receita Federal, ocorrida em 1994, o que revela que a prática criminosa ocorre há pelo menos 16 anos. Segundo informações da Polícia Federal, a quadrilha atuava em todo o país, mediante o acesso aos cadernos de questões, antes da data de aplicação das provas.

Nesse concurso da Receita, a suspeita de fraude foi investigada logo após a aplicação da prova, mas essas 41 pessoas suspeitas conseguiram direito na Justiça para que fossem empossadas, além do recebimento de indenização no valor de R$ 3 milhões cada um pelo tempo em que não puderam assumir o cargo.
A polícia aponta que mesmo após o início das investigações e a divulgação de fraude na prova da OAB, os criminosos tentaram fraudar ainda, sem sucesso, em concursos da Caixa Econômica Federal, da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), do INSS, da AGU (Advogado da União), da Santa Casa de Santos, de Defensor Público da União e da Faculdade de Medicina de Ouro Preto.

Todas as pessoas apontadas como clientes da quadrilha foram indiciadas, mas permanecem soltas. Elas devem responder pelos crimes de interceptação e estelionato. Já os suspeitos de fraudar as provas devem responder por formação de quadrilha, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos públicos, entre outros.

As investigações apontam que a quadrilha atua por meio de aliciamento de pessoas que tinham acesso ao caderno de questões. As respostas eram passadas aos candidatos por ponto eletrônico durante a realização do concurso. “A quadrilha atuava ainda na falsificação de documentos e diplomas exigidos pelos concursos quando o candidato não possuía a formação exigida”.

Governo prevê demissões

O ministro Paulo Bernardo (Planejamento), chefe da pasta que regula a administração federal, disse que todos os servidores que ingressaram no governo por meio de fraude serão demitidos.

Ele ainda defendeu mudanças nas regras dos concursos públicos, prática que, segundo o próprio ministro, atrai anualmente cerca de 5 milhões de pessoas.
“Isso tem que levar a uma revisão das regras dos concursos. Não podemos ter concursos vulneráveis, sujeitos a fraudes. O concurso tem que ter lisura, transparência’’, afirmou, sem especificar possíveis mudanças.

Segundo Paulo Bernardo, que conversou ontem com o chefe da PF, Luiz Fernando Corrêa, havia servidor favorecido pela fraude pedindo para atuar em áreas estratégicas do governo. “Tem gente que queria entrar para fazer maracutaia’’, declarou.

Os concursos da PF e da OAB foram organizados em 2009 pela Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos), da Universidade de Brasília -cerca de 1,1 milhão de pessoas se inscreveram em concursos elaborados pela instituição.

O Cespe, responsável por transportar as provas, informou à Folha de S. Paulo que a fraude ocorreu quando o material estava nas dependências da Polícia Rodoviária Federal.

Afirmou ainda que não tinha conhecimento de nenhuma fraude nos concursos públicos.

Fonte: Tribuna da Bahia