Tasso Franco
A presença do presidente Lula da Silva na próxima quinta-feira, 10, em Salvador, às vésperas da Convenção nacional do PSDB na Bahia, 12, no Centro Espanhol, com a presença de José Serra e de toda cúpula tucana, coloca pimenta na moqueca política baiana numa semana que agiatará o cenário político local e põe o Estado em posição relevante no Nordeste, 4º colégio eleitoral, e base de ações dos partidos para a região. A visita de Lula foi programada após a divulgação bem antecipada da festa tucana. Ao que tudo indica, servirá de contraponto à investida da coligação DEM/PSDB no estado em reforço a Paulo Souto e também a Serra no Nordeste. Óbvio que Wagner não iria deixar que fosse servido esse vatapá em seu terreiro sem uma reação.
E isso virá com a presença do seu mais forte cabo eleitoral, o presidente Lula, o qual, segundo a última pesquisa Ibope/Rede Globo divulgada no fim de semana, tem a marca de 82% de aceitação de ótimo/bom no NE, com apenas 4% de ruim/péssimo, número extraordinário e nunca conseguido por outro presidente. Além disso, a pesquisa revelou sua candidata a presidente (Dilma) em ascensão com 37% das intenções de votos; contra 37% de José Serra; 9% de Marina Silva (PV). Numa hipótese de segundo turno, Dilma (42%); José Serra (42%). Uma polarização nunca vista numa fase ainda de pré-campanha restando apenas 7% do eleitorado que ainda não se decidiu.
Portanto, amparar-se em Lula é sempre um reforço considerável. Diz-se que o presidente não virá somente para a inauguração do Palácio Rio Branco, mas, também, trará um pacote de bondades para a Bahia, incluindo o Centro Histórico de Salvador. Estratégia, aliás, que não é nova no PT. Lula, quando eleito pela primeira vez, em 2002, teve uma extraordinária votação em Salvador, mais de 80% dos votos válidos, mas, estranhamente, ficou quase um ano sem vir à Bahia. Época do então governo Souto e do prefeito Antonio Imbassahy, no final de 2003, quebrou o jejum para anunciar a retomada das obras do metrô. E, evidente, ajudar o companheiro Nelson Pelegrino, o qual era candidado a prefeito de Salvador.
Imbassahy saiu em 2004 da Prefeitura de Salvador. Quem venceu o pleito foi João Henrique (PDT), num segundo turno contra César Borges (PFL) e Pelegrino (PT) ficou em 3º lugar, com o PT alinhando-se, posteriormente, ao governo de João. Imaginava-se, pois, que o metrô avançasse. Ao contrário, encolheu. Wagner ganhou a eleição em 2006 com a casadinha acarajé/abará Lula/Wagner e assumiu em janeiro de 2007. E Lula engrenou seu segundo mandato em 2007. Juntos, pois. Aí a relação governo da Bahia com governo federal se modificou, ainda que se esperava mais dessa aliança em resultados para o estado.
Isso não aconteceu de forma mais direta porque a engrenagem, a engenharia política e de gestão maltratada na relação Souto/Lula, teve que começar praticamente do zero. E outros estados do NE, que já vinham embalados, especialmente Pernambuco e Ceará, avançaram. O governo federal tem dispensado atenção à Bahia. Tem. A questão é que os projetos são estruturantes e demoram anos para serem executados: Transposição das Águas do Rio São Francisco, Ferrovia Oeste/Leste, Ponte Itaparica/Salvador e remodelagem do Recôncavo, recuperação do Porto e Malha Rodoviária e assim sucessivamente. E Wagner tem que apresentar resultados agora, até outubro de 2010, para dar continuidade ao seu projeto político.
A presença do presidente Lula em Salvador tem, assim, dois significados: pagar dívida com o Estado que sempre lhe dá um número de votos excepcional e ajudar o companheiro Wagner, a joia mais importante do PT na Federação. Dilma vencendo com Wagner governador é uma coisa. Com Souto é completamente diferente. E se for Serra/Souto, então, é a morte para o PT.
Fonte: Tribuna da Bahia