Carlos Chagas
Há um cheiro de chantagem nessa história da escolha do candidato à vice-presidência na chapa de José Serra. O DEM realiza hoje sua convenção e até ontem pairava no ar a hipótese de o partido não apoiar o ex-governador de São Paulo por conta da indicação ainda não formalizada de Álvaro Dias, do PSDB do Paraná. Se os Democratas aceitavam Aécio Neves e a chapa-pura dos tucanos, por que rejeitam o senador paranaense? Acresce não terem um nome de prestígio para apresentar.
A pergunta que se fazia ontem era a respeito da alternativa do DEM, caso desembarque da candidatura Serra. Farão o quê, os antigos integrantes do PFL e da Arena? Lançar candidato ao palácio do Planalto não podem, porque não possuem, pelo menos em termos eleitorais.
Parece inócuo ficar ameaçando o PSDB com a perda dos minutos que cederiam a Serra na propaganda eleitoral gratuita. Não apoiando o candidato, o tempo de rádio e televisão deixaria de valer alguma coisa. Além, é claro, de o DEM perder a chance de integrar o governo Serra, na hipótese hoje mais distante de o candidato sair vencedor.
Em suma, um estrilo sem sentido lógico, que só faz desmoralizar a oposição e inflar ainda mais o balão de Dilma Rousseff.
De que investimentos ela falou?
A um grupo de artistas em São Paulo, na noite de segunda-feira, Dilma Rousseff prometeu que, se eleita, reduzirá a zero os impostos sobre investimentos. Melhor teria feito se guardasse o anúncio para uma platéia de empresários, mas, mesmo assim, é bom tomar cuidado.
Porque os investimentos privados, quando nacionais, são feitos com maioria de recursos do próprio governo, ou seja, do BNDES. O problema é que a maior parte dos investimentos realizados no Brasil são externos. O resultado seria maior favorecimento ao capital estrangeiro, já tão beneficiado desde os tempos do sociólogo. Logo surgiria alguém sugerindo as mesmas facilidades para o capital-motel, aquele que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã depois de haver estuprado um pouquinho mais nossa economia. Não faltariam vozes, até no Banco Central, a confundir a especulação com o investimento. E sem pagar impostos de espécie alguma, como já pagam tão pouco, o Brasil se tornaria o grande paraíso da especulação, superior até às ilhas de Tonga-Bonga ou Songa-Monga…
O nome disso é censura
Não há como deixar de meter nossa colher política na panela do futebol. Decidiu a Fifa “controlar” as imagens produzidas pela televisão da África do Sul e exibidas no mundo inteiro, até nos telões situados nos estádios onde se realiza a copa do mundo. O argumento é de evitar críticas a erros de juizes e bandeirinhas, logo expostos através da tecnologia eletrônica. Assim, bolas que entram e não são vistas pelos juízes, ou gols em impedimento, deixam de ser apresentados. Prevalece o erro, claro que de boa fé, ainda que não se possa afastar a hipótese de vigarices.
Em linguagem universal, isso se chama censura. Cerceamento à liberdade de informação.
Enfim, um refrigério
O presidente Lula compareceu à livraria Cultura, na noite de ontem, em São Paulo, para prestigiar Aloísio Mercadante, que lançava um livro analisando e elogiando o governo atual. Já não era sem tempo. Os companheiros paulistas vinham-se queixando do distanciamento do Lula da campanha de seu líder no Senado, candidato meio desconfortável ao palácio dos Bandeirantes. Nas pesquisas, os índices de Geraldo Alckmin superam de muito os dados ao candidato do PT, ainda que as esperanças petistas se baseiem numa espécie de colagem entre Lula, Dilma e Mercadante. Pode ser, mas a premissa assenta-se no engajamento ostensivo do presidente e da candidata nos esforços do senador. Mesmo sem precisar ler o livro.
Fonte: Tribuna da Imprensa