sábado, maio 29, 2010

Tudo por dinheiro no Bolsa Família

Bolsa Família: Mais de mil, sob sol e chuva

Lucy Andrade

Centenas de pessoas viraram a noite no relento, dormindo na calçada, para garantir o atendimento no cadastramento do bolsa família, que apesar de disponível em 27 postos, a população lotou o Centro de Atendimento, localizado na Rua Djalma Dutra – Sete Portas. Ontem, a fila atingiu em torno de 1 km, onde mais de mil pessoas se aglomeraram nas calçadas para garantirem o atendimento. “Isso é uma miséria. Tenho três filhos, sou diarista e meu marido é pintor, quando tem serviço ganhamos, quando não tem, vivemos de boa vontade. Cheguei aqui às 10h (22h), dormi no papelão para garantir o meu lugar”, disse Maria Inês dos Santos, 40 anos.

Quem dormiu na fila, conseguiu atendimento às 8h, quem chegou às 4h da manhã, só conseguiu atendimento às 11h. “É um absurdo, estou há mais de 6 horas na fila esperando, além de tudo, tem os espertinhos querendo passar na frente. Pobre para conseguir alguma coisa tem que ser humilhado, até em posto de atendimento temos que dormir, disse Elza de Jesus, 35 anos.

O movimento mais intenso nos últimos dois dias foi em decorrência da campanha lançada em 17 de maio para famílias que nunca foram cadastradas com renda per capita de R$140. Para elas, o prazo expira amanhã. Têm direito ao cadastramento famílias com renda per capita de até R$140 reais. Os beneficiários podem receber de R$20 a R$200. A meta é inscrever 48 mil pessoas. Até quinta-feira, 22 mil já tinham efetuado o cadastramento.

O aglomerado de pessoas em frente ao posto de atendimento da Djalma Dutra - Sete Portas é um cenário já comum para quem transita pelo local e para os comerciantes, que reclamam do tumulto na frente de seus estabelecimentos. Muitos estabelecimentos só abriram às 9h, em decorrência do número de pessoas em frente às lojas. “Quase todos os dias é essa confusão, gente espalhada nos passeios, crianças chorando, pessoas entrando nas lojas para fugir do sol e da chuva. Essa “muvuca” acaba afetando as vendas, as pessoas preferem comprar nas lojas do outro lado da rua, que estão livres”, reclamaram os comerciantes.


Mesmo com o reforço de funcionários que a Prefeitura encaminhou para o local, o fluxo de pessoas no posto de atendimento perdurou o dia inteiro. Às 12 h a fila ainda se estendia pela Djalma Dutra. Quase no final dela, Antônio Barreto, 42 anos, que chegou ao local às 7h, ainda nem sabia se iria ser atendido, - “eu sabia que seria assim, cheguei atrasado, nem sei se vou conseguir”.

De acordo com a assistente social e coordenadora de gestão de benefícios, Cristiane Monteiro, não há necessidade das pessoas dormirem nas calçadas e nem chegar ao posto de madrugada. “Existem mais 27 locais de atendimento, funcionando das 7h às 17h para atender essa campanha, mas como essa é uma central de referência que faz todos os procedimentos, as pessoas acham que aqui vai ser mais rápido para conseguirem o beneficio, e isso acaba multiplicando o fluxo. As pessoas não precisam dormir na porta do posto; todos os dias atendemos mais de 800 pessoas; na quinta-feira passou de mil atendimentos”, ressaltou.

A coordenadora de Gestão de Benefícios esclareceu que a prefeitura disponibilizou mais de 500 funcionários para o atendimento. Porém, como a campanha já está na fase final e o centro realiza outros serviços, a aglomeração de pessoas estava bem maior do que nos outros dias. O programa Bolsa Família foi criado em 2003 pelo Governo Federal. Em Salvador, até o mês de abril, cerca de 160 mil pessoas foram beneficiadas com o programa.

A meta é que 200 mil famílias recebam a colaboração, que serve para amenizar as mazelas da pobreza. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Salvador tem um PIB per capita menor do que a média nacional. Os dados mais recentes, de 2004, mostram a cidade com uma renda anual de R$5.400, contra R$9.700 na média de todos os municípios do país.

Locais e como se cadastrar

As pessoas interessadas em se cadastrar deverão comparecer aos postos munidas de carteira de identidade, carteira de trabalho (caso assinada, levar contracheque), comprovante de residência, CPF de todos os membros da família residentes no mesmo domicílio e maiores de 18 anos ou certidão de nascimento, para menores.

Postos: Centros de Referência de Assistência Social (Cras) , Bairro da Paz, Brotas, Bonocô (Codesal), Cajazeiras, Tororó, Barroquinha, Coutos, Itapagipe, Massaranduba (Mangueira), Liberdade, Lobato, Avenida Afrânio Peixoto, nº 384 (Suburbana) – Lobato, Mata Escura, Nordeste de Amaralina, Paripe, Parque São Bartolomeu, Parque São Cristóvão, São Cristóvão, Tancredo Neves, Valéria.

Posto Avançado do Cias, Rua Abelardo Andrade de Carvalho, nº. 141 (anexo à Escola Municipal IMEJA, Boca do Rio); Serviço Integrado de Atendimento Regional (Siga), Siga Pituba - Rua Várzea de Santo Antonio / P.S. Vicente/ Caminho das Árvores, s/n. (próximo ao Restaurante Gerimum); Siga Cabula - Rua Teodolo de Albuquerque, nº 839, (depois do módulo policial sentido Arenoso). Casas do Trabalhador: Boca da Mata - Fazenda Grande IV, Setor B, fim de linha; Cajazeiras-Estrada do Coqueiro Grande, 1902 s/02 Fazenda Grande II . Mais informações nos telefones (71) 3176-0850 ou 156.

Fonte: Tribuna da Bahia