sexta-feira, março 12, 2010

Aliança de Wagner/Borges corre risco

evandro matos

A aliança entre o governador Jaques Wagner (PT) e o senador César Borges (PR), que estava prestes a ser fechada mesmo diante da resistência de alguns integrantes da base governista, pode não acontecer. O casamento dependia de uma série de fatores para dar certo, mas havia no meio do caminho muito fogo amigo para provocar a sua implosão. Tanto que as conversas vinham sendo conduzidas diretamente por Wagner, que assumiu o risco por considerá-la fundamental para o seu projeto de reeleição.

Embora sem confirmação, especula-se que o senador César Borges reivindicava participação no governo desde agora, mas Wagner só aceitava conversar no futuro. O senador não confirma esta versão. A necessidade de uma definição imediata, aliada à pressão dos partidos envolvidos, contribuiu para que a aliança sofresse um retrocesso no presente, mas não se sabe se as conversas serão retomadas quando Wagner voltar da viagem que fará a Israel, como avalia o deputado Pedro Alcântara, líder do PR na Assembleia Legislativa. “Está tudo em andamento, não tem nada encerrado”, disse Alcântara, defensor da aliança.

Uma grande pedra encontrada no caminho é a aliança proporcional. Para integrantes dos dois grupos que caminham para uma junção, há de se considerar também as implicações na eleição proporcional que envolve a reeleição dos deputados federais e estaduais, uma operação difícil de ser fechada. “É preciso ter cautela e que se converse com responsabilidade. Precisamos consagrar a majoritária e discutir a proporcional. O que for melhor para todo mundo, sem preconceito e retaliação”, alertou Alcântara, recomendando prudência e revelando que existe desencontro nas conversas. “A eleição não é só de deputado”, acrescentou.

Segundo revelação de um deputado oposicionista feita no início desta semana, César Borges não fecharia com Jaques Wagner nem com Paulo Souto, e sim com o ministro Geddel Vieira Lima, pré-candidato ao governo pelo PMDB, atendendo às implicações nacionais do seu partido. Pelo acordo, que passaria também pelos democratas, Borges seria o único candidato ao Senado na chapa do ministro Geddel e a chapa de Souto também só lançaria um nome. Tal acordo teria desdobramentos na eleição para o governo, com uma possível aliança num eventual segundo turno.

Diante das dificuldades para selar um acordo com o PT na chapa proporcional, aliado à resistência de alguns setores governistas em relação ao nome de César Borges para o Senado, os deputados do PR já admitem novas alianças. Ontem, integrantes da bancada federal afirmaram que pretendem definir até o próximo dia 20, junto com o senador César Borges, presidente do PR, a posição que a legenda vai seguir na eleição.

A revolta da bancada teria aumentado após receber o resultado da conversa entre Borges e Wagner, no domingo passado. A principal queixa foi que Wagner teria transferido para os partidos aliados a responsabilidade para definir a coligação na proporcional. “Eles só querem a vaga de Senado e o tempo de TV do PR”, teria dito um deputado. Reforçando a tese, dias atrás o deputado federal João Carlos Bacelar revelou que o partido só fecharia na majoritária se houvesse coligação também na proporcional.

Problemas da possível aliança

A aliança Wagner/César enfrentava sérias resistências entre os governistas históricos, principalmente os petistas e socialistas. Além de condenarem a presença de um ex-carlista na chapa, que estaria relacionado diretamente às questões ideológicas, os resistentes, preocupados com a resposta das urnas e com uma eventual perda de cadeiras, já que os republicanos têm nomes de alta densidade eleitoral, questionavam exatamente por isso a pretensão dos republicanos, que insistiam numa aliança ampla para a chapa majoritária e proporcional.

Aliado a todo esse quadro, tanto Wagner quanto César Borges devem ter parado para repensar os prós e contra da aliança. Para Wagner havia a grande vantagem de conquistar mais tempo no horário eleitoral da TV e rádio, desarticularia o seu principal adversário – supondo-se que Borges fecharia com Paulo Souto -, além de ter a companhia de um senador bem avaliado no seu palanque.

Afora isso, tomaria por base a coligação que elegeu Waldir Pires governador da Bahia em 86 – com dois candidatos ao Senado vindos da base adversária, Jutahy Magalhães e Rui Bacelar, além de um vice oriundo das oligarquias do sertão, Nilo Coelho – agora dando à sua chapa um ar republicano, abolindo os rótulos de antigamente que dividiam a Bahia em carlistas e anticarlistas.

Para César Borges havia mais vantagens que desvantagens. Forçado pela coligação nacional do PR, que praticamente fechou com a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, o senador teria dificuldade de, no plano regional, estar num palanque diferente – leia-se do ex-governador Paulo Souto, onde desfilará, naturalmente, o tucano José Serra.

Como contraponto apenas a reivindicação dos deputados de seu partido, que queriam a aliança também na eleição proporcional, hipótese ainda rechaçada pelos petistas. Ainda há tempo para os principais interessados neste jogo encontrarem o caminho do entendimento.

Fonte: Tribuna da Bahia