Carlos Chagas
Corre o risco de surpreender o que parece ser uma convenção modorrenta e pasmaceira, hoje, quando o PMDB se reunir para reeleger Michel Temer seu presidente. Porque mesmo com a determinação dos caciques do partido de deixarem para junho qualquer decisão sobre a sucessão presidencial, poderá ser contestada a permanência de Michel na direção maior do partido. Pelo menos, é o que pretende o presidente de honra, embaixador Paes de Andrade, disposto a pedir a palavra, pela ordem, e ler documento onde fica caracterizada a candidatura do deputado Eunício Oliveira.
O documento foi entregue a Michel Temer, meses atrás, que mesmo não o tendo rubricado, parece que aceitou a sugestão. É o que sustenta Paes de Andrade, pronto para cobrar o compromisso.
De lá para cá as coisas mudaram. O próprio Eunício não parece muito empenhado em obter a presidência do PMDB, tanto que aceitou integrar o diretório nacional como Primeiro Tesoureiro.O problema é que Paes continua carne de pescoço. Empenha-se na candidatura própria do partido e forma no primeiro time dos defensores de Roberto Requião.
O governador do Paraná decidiu não comparecer à convenção, já que Temer proibiu o debate a respeito, sequer admitindo a discussão sobre sua própria indicação a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff. Prefere deixar a questão para junho, ganhando tempo enquanto enfrente as resistências o palácio do Planalto ao seu nome. Sendo reeleito presidente do PMDB, no entanto, demonstra sua força na legenda.
A intervenção de Paes de Andrade poderá acender o rastilho de pólvora, pois Temer será obrigado a declarar que a hipótese Eunício Oliveira não vale mais. Nessa hora, o ex-representante do Brasil em Portugal pode virar fera. É bom aguardar.
Incontinências verbais
Ciro Gomes não se emenda, ou melhor, continua o mesmo político de sempre, aquele que não esconde o pensamento com palavras amenas. Desgostoso com o ex-ministro José Dirceu, que pretende anular sua candidatura à presidência da República, Ciro disse que se receber do antigo chefe da Casa Civil algum apelo nesse sentido, “vai mandá-lo pastar”.
Ora, como quem pasta são os animais, está caracterizada a ofensa. Dirceu vem mantendo conduta exemplar, desde que teve seu mandato cassado. Faz o papel de bombeiro em cada crise eclodida no PT e adjacências. Defende a indicação de Dilma Rousseff com unhas e dentes. Até agora não retrucou a agressão de Ciro Gomes, mas, para quem o conhece, haverá que aguardar a tréplica. Possivelmente não verbal, por isso mesmo mais contundente.
Trocando de geladeiras
Certas histórias são significativas. Teotônio Vilela Filho, hoje governador de Alagoas, era senador e presidente do PSDB. Seus encargos políticos deixavam-no exausto, chegava em casa alta madrugada. Mulher e filhos ficaram em Maceió e ele costumava preparar as próprias refeições, quando podia. Morava num dos edifícios destinados aos senadores, com os apartamentos todos iguais. Certa feita, zonzo de tanto cansaço, entrou em casa e foi para a cozinha. Estranhou quando abriu a geladeira. Estava repleta de guloseimas, fritas e doces. Olhou bem para as prateleiras, muito bem arrumadas e caiu em si. Não estava no 504 e sim no 604. Sai de mansinho para não acordar o verdadeiro inquilino e jamais se referiu ao episódio.
Meses depois,Teotônio Vilela chegou outra vez extenuado e foi direto para a cozinha, desta vez em seu apartamento de verdade. Espantou-se ao ver o vizinho de cima abrindo a geladeira e praguejando porque estava vazia. Era o senador Roberto Requião, que também se enganara de andar. Diante da confusão, decidiram sair e buscar um restaurante ainda aberto na noite de Brasília…
Sai mas volta
Nos corredores do ministério de Minas e Energia, todo mundo especula a respeito do futuro do ministro Edison Lobão. Será candidato a governador do Maranhão? Ia pleitear novo mandato no Senado? Como reage às especulações sobre tornar-se companheiro de chapa de Dilma Rousseff?
Lobão permanece calado, mas um dia desses, percebendo a curiosidade dos auxiliares, aproveitou-se da análise de um projeto daqueles de longo prazo e, diante da perplexidade de um assessor a respeito de seu empenho e do tempo que demandaria a obra, surpreendeu-o: “é, eu vou embora, mas eu volto para a inauguração…”
Fonte: Tribuna da Imprensa