segunda-feira, janeiro 25, 2010

Jogo de xadrez, não luta de boxe

Carlos Chagas

O PMDB voltou para cima do muro ao antecipar para o próximo dia 6 a convenção nacional destinada a reeleger Michel Temer para sua presidência. Porque além dessa mais do que óbvia decisão, o partido submeterá às suas bases a questão fundamental de ter ou não candidato próprio às eleições para presidente da República, em outubro.

A estratégia de Temer e da cúpula que dirige o PMDB é evidente: rejeitar a proposta da candidatura própria caso o presidente Lula, antes, dê garantias de haver esquecido a iniciativa de receber uma lista tríplice de indicados à vice-presidência na chapa de Dilma Rousseff, curvando-se à indicação única do nome do parlamentar paulista.

Caso contrário, não significa que o partido lançará imediatamente a candidatura de Roberto Requião, mas que deixará a decisão final para a convenção nacional de junho, mesmo abrindo desde já condições para a campanha do governador do Paraná. Haverá tempo para o jogo continuar.

Trata-se de uma delicada partida de xadrez, não de uma luta de boxe. Depois de saber da antecipação da convenção que reforçará a liderança de Michel Temer, o presidente Lula reagiu e mandou dizer que insiste na lista tríplice. Foi quando a direção nacional do PMDB treplicou, anunciando que será debatida, também, a questão da candidatura própria.

Aguarda-se o próximo lance, mas fica claro o favorecimento de Roberto Requião, já contando com o apoio de doze diretórios estaduais para sua candidatura. A manobra de Temer e seus companheiros poderá favorece-lo ainda mais, se bem que o objetivo maior do deputado paulista continue sendo apoiar Dilma Rousseff, mas só se for ele o companheiro de chapa.

Sem bispo não há rei

Para continuar no xadrez, vale aproveitar a lição do rei Jaime I da Inglaterra, depois de deixar de ser Jaime IV da Escócia, dizendo que sem bispos não há rei. Justificou assim sua submissão ao Papa e obteve a boa vontade do clero inglês, conseguindo governar.

Da mesma forma pode estar pensando o presidente Lula. Já não parece fácil emplacar a candidatura de Dilma Rousseff com o apoio do PMDB. Sem ele, a sucessão se transformará numa aventura, para o governo.

Sem medo de desmatar

Lembra o governador Eduardo Braga, do Amazonas, que as árvores, como tudo o mais, dispõem de um inexorável ciclo de vida. Nascem, desenvolvem-se, frutificam e, mais tarde, morrem. Devem ser cuidadas, aproveitadas, mas jamais indefinidamente preservadas, porque também acabam. Assim, ele rejeita a tese da transformação da Amazônia num imenso jardim botânico, intocável. O importante é aproveitar as riquezas da região sem prejudicar o meio ambiente. Países como a Noruega, a Suécia e a Alemanha são grandes exportadores de madeira porque, ordenadamente, plantam e abatem florestas.

Eduardo Braga criou, em seu estado, o bolsa-floresta, que dá ao morador da imensa região um auxílio financeiro semelhante ao bolsa-família, para tornar-se guardião e defensor do meio ambiente, mas, de forma alguma, mero espectador da natureza.

Quanto aos perigos de internacionalização da Amazônia, reage com a afirmação de serem os brasileiros, caboclos, índios, seringueiros e agricultores, os maiores defensores da soberania nacional. A Amazônia deve ser desenvolvida, jamais estagnada.

Vai insistir

Pelo que transpira no governo, se abriu mão de revogar a Lei da Anistia, o presidente Lula insistirá na preservação, dentro do Plano Nacional de Direitos Humanos, da criação de um conselho destinado a examinar o conteúdo da programação de emissoras de rádio e televisão. Tratando-se de uma concessão pública, telinhas e microfones precisam estar submetidos a algum tipo de controle, tendo em vista o volume das baixarias que assolam o país. Renovar as concessões precisaria subordinar-se a um mínimo de postulados éticos, em defesa da população.

A tese continua polêmica quando se atenta para o fato de que esse tal conselho poderia ser manipulado pelo poder público, capaz de sujeitar suas decisões à linha editorial das emissoras. Em outras palavras, à boa ou má vontade dos noticiários para com o próprio governo. Um perigo.

Fonte: Tribuna da Imprensa