Carlos Chagas
Nesta semana morta, a última do ano, dispõe o presidente Lula de tempo para pensar. Nada que se relacione com a sucessão presidencial, para ele já definida em seus mínimos detalhes. Precisará decidir, isto sim, como superar a debandada ministerial que se avizinha.
Primeiro, saber se espera o prazo máximo, 31 de março, para a desincompatibilização dos ministros candidatos às eleições de outubro. Sugestões não faltam para que promova as substituições logo no início de janeiro. Depois, optar pela nomeação dos secretários-gerais dos ministérios ou aproveitar a oportunidade para compor sua derradeira equipe de governo com expoentes nos diversos setores da vida nacional, selecionados na sociedade civil muito mais do que nos partidos políticos. Afinal, deputados e senadores, em imensa maioria, serão candidatos no mínimo à reeleição.
A diáspora está posta. Pelo menos 18 ministros pedirão para sair, a maioria interessada em permanecer até o último dia permitido em lei.
Além de Dilmã Rousseff, chefe da Casa Civil, lançada à presidência da República, são candidatos a governador: Tarso Genro, da Justiça, no Rio Grande do Sul; Patrus Ananias, da Integração Social, em Minas Gerais; Helio Costa, das Comunicações, também em Minas Gerais; Alfredo Nascimento, dos Transportes, no Amazonas; e Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, na Bahia.
Devem disputar a Câmara ou o Senado: Fernando Haddad, da Educação; Paulo Bernardo, do Planejamento; Reinhold Stephanes, da Agricultura; Carlos Minc, do Meio Ambiente; Marcio Fortes, das Cidades; Nelson Jobim, da Defesa; José Gomes Temporão, da Saúde; José Pimentel, da Previdência Social; Altemir Gregolim, da Pesca; Edison Lobão, das Minas e Energia; Carlos Lupi, do Trabalho; Orlando Silva, dos Esportes; e Celso Amorim, das Relações Exteriores.
Com todo o respeito, tirar do banco seus sucessores equivalerá a levar o jogo do Maracanã para a várzea. Os novos ministros, se quase todos anteriores secretários-gerais, nada poderão fazer senão dar seqüência a mornos projetos e esmaecidas visões de sua missão no governo. Talvez o Lula nem lembre o nome de todos. Para ele será um final melancólico, compensado apenas pela sua alta popularidade, mas vazio de impactos administrativos, precisamente num período em que as eleições estarão ocupando os maiores espaços e exigindo fatos e realizações.
Arrisca-se o presidente Lula a repetir, sem querer, o comentário de Otávio Mangabeira quando, nos últimos dias de seu governo na Bahia, recebeu um amigo e propôs-lhe tomar um café. Apertou diversas vezes a campainha, em seu gabinete, e ninguém apareceu. Levantando-se e convidando o interlocutor para irem ao bar da esquina, filosofou: “fim de governo é isso mesmo. Não se encontra quem sirva um café…”
Injustiça flagrante
Houve tempo, antes da Constituição de 1988, que senadores e deputados eram candidatos natos à reeleição, em seus respectivos partidos. Muitos se apresentaram e perderam, mas respeitava-se o direito de concorrerem, uma homenagem aos serviços prestados durante os mandatos. A inveja e o açodamento, em especial por parte de deputados diante de senadores, fizeram com que a obrigação fosse para o espaço. Corre o risco de não conseguir legenda o parlamentar que permanecer o tempo todo em Brasília, trabalhando mas sem cultivar suas bases nem bajular os dirigentes estaduais.
É o que acontece, por exemplo, com o senador Mão Santa, daqueles que mais se destacam nos microfones do Senado, ora presidindo as sessões, ora ocupando a tribuna. Quando olhou para o Piauí, viu-se garfado. Seu histórico partido, o PMDB, negava-lhe o direito de continuar onde estava. Figuras menos importantes detinham o controle das decisões no estado. Ofereceram-lhe lugar na chapa de deputados federais, que com dignidade ele recusou. Preferiu mudar de partido, optando por um desses pequenos, cuja sigla pouca gente conhece. Vai para a luta, escudado em invulgar popularidade que a TV-Senado ensejou. Existissem senadores nacionais, ou seja, eleitos por todo o país, e seria imbatível. Já no Piauí, por conta da implacável legislação eleitoral que regula as campanhas, ninguém sabe…
Dividir para gastar
Volta a assustar o Congresso a proposta de nova divisão territorial do país, expediente de políticos sem voto mas ávidos de permanecer no poder. Querem fatiar o Amazonas, o Pará e o Maranhão, não demorando muito aparecer outra vez algum mineiro sem juízo para propor a criação do Estado do Triângulo. Serão novas Assembléias Legislativas, Tribunais de Contas e Tribunais de Justiça, sem falar em novos governadores, secretários e toda a parafernália do Executivo. Uma exemplo perfeito da arte de dividir para gastar.
A propósito da divisão insólita de Minas, porém, haverá que referir diálogo havido entre o então governador Tancredo Neves e seu secretário de Planejamento, Ronaldo Costa Couto, que temeroso deu conta ao chefe de que se tramava no Congresso, em Brasília, o aparecimento do novo Estado do Triângulo.
Matreiro, o governador quis saber quantas assinaturas dispunha o projeto, assustou-se e mandou que suas bancadas na Câmara se mobilizassem. Para sustar a proposta? Nem pensar. Para que todos assinassem, com um adendo: assim que criado o Estado do Triângulo, o restante de Minas pediria sua adesão à nova unidade federativa…
Os presentes mais exigidos
Estava Papai Noel posto em sossego no Pólo Norte, depois de árdua passagem sobre os céus do planeta distribuindo presentes, quando seu computador entrou em paroxismo. Milhares de mensagens chegaram do Brasil inteiro, através da Internet, exigindo que contemplasse todos os estados com os regalos entregues apenas na Capital Federal. Não se lembrando do que mais havia sido presenteado por aqui, chamou um dos anões para reavivar-lhe a memória. Teve um susto. Mesmo se começassem a trabalhar em três turnos, nem no Natal do ano que vem suas oficinas estariam preparadas para produzir tamanha quantidade de exemplares dos presentes que o país solicitava. Quais? Pares de algemas…
Fonte: Tribuna da Imprensa