Celso Nascimento
As sessões plenárias da Assembleia Legislativa às vezes são trágicas, outras vezes são cômicas. Na maior parte do tempo, porém, conseguem conjugar as duas “qualidades” – e então se tornam tragicômicas. É verdade: há deputados sérios, preocupados realmente com questões de interesse público. Certos ou errados, defendem seus pontos de vista com honestidade e honram cada voto que os colocou lá.
Infelizmente, porém, o plenário das tardes de segunda à quarta-feira costuma ser um enfadonho desfile de discursos irrelevantes – uns a elogiar o governo por motivos banais, outros a desenvolver retóricas de crítica sem suficiente embasamento fáctico, técnico ou político. Há deputados que tentam se fazer de engraçados, grunhem, descabelam-se. E há também os que passam o tempo lendo os e-mails que recebem de supostos eleitores, hipotéticas pessoas reais.
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Neste último caso notabiliza-se o veterano e aplicado deputado (100% de presença!) Antonio Belinati. Todos os dias, invariavelmente, ocupa a tribuna por 15 longos minutos para ler cada mensagem que recebe em seu computador. A maioria elogiando sua atuação parlamentar ou contendo pedidos de emprego. Tem boa intenção o deputado – afinal, é um dos poucos que se comunicam tão diretamente com o povo.
Mas ontem, contudo, certamente porque não cuida de identificar a origem e a seriedade das mensagens, Belinati acabou sendo vítima de um trote. Tratava-se de e-mail enviado por um piadista, falsamente identificado como bioquímico formado na USP, de 77 anos, morador no município de Francisco Alves, vítima de abusos sexuais na adolescência. Ele pedia a colaboração do deputado para concluir importante pesquisa científica que teria desenvolvido em seu laboratório caseiro ao longo dos últimos 22 anos.
De que tratava a pesquisa? De um assunto muito caro a Antonio Belinati, objeto até de um projeto que apresentou tempos atrás: a castração de estupradores e pedófilos com o uso de salmora e pimenta.
O “bioquímico” disse ter projeto mais humanitário: esterilização com o uso de uma droga inventada por ele a partir da semente de girassol e que, aplicada no criminoso, lhe causaria dificuldades de ereção. Segundo o “signatário” do e-mail, os ratos que submeteu ao tratamento perderam o desejo sexual e reduziram a produção de espermatozoides. Uma maravilha da ciência que precisaria ser testada em humanos com a ajuda da Universidade Estadual de Maringá – tudo em nome da justiça, inclusive divina.
Belinati leu com todo o respeito o e-mail sem saber que se tratava de uma brincadeira de muito mau gosto, criminosa até. Ele não sabia, mas outros deputados sabiam e não advertiram o colega... Ingênuo em sua boa vontade, em querer ajudar o “cientista”, o deputado apelou ao próprio governador para que autorizasse testes com o seu produto.
O episódio pode ter três efeitos. O primeiro deles é desacreditar as mensagens que Belinati lê (as passadas e as futuras). Outro, é fazer com que o deputado não gaste mais tempo lendo e-mails. E o terceiro efeito, talvez o principal, é reconhecer que o presidente da Assembleia, deputado Nelson Justus, que se recusa a autorizar a instalação de CPIs, tem razão. Provavelmente por medo do nível dos debates.
Fonte: Gazeta do Povo