Carlos Chagas
Com toda pompa e circunstância, esta semana, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral entregou um milhão e trezentas mil assinaturas ao presidente da Câmara, acompanhando um projeto de iniciativa popular capaz de impedir o registro de candidatos já condenados na Justiça de primeira instância por crimes capitulados no Código Penal.
Com todo o respeito, prepara-se o Congresso para fazer jogo sujo em defesa dos fichas-suja. O projeto não será votado para entrar em vigência nas eleições do ano que vem, apesar do propósito de seus subscritores. E também será modificado, conforme informou o deputado Michel Temer, estabelecendo que apenas a condenação na segunda instância impedirá o registro. Isso para os candidatos que não são parlamentares, porque para os que pleiteiam a reeleição haverá regime diferente. Estão, pela condição de deputados ou senadores, sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal. Sem condenação, farão jus aos registros.
Eis mais um exemplo de como a classe política torce e distorce a lei em favor de seus interesses. O resultado dessa ampla mobilização popular liderada pela CNBB será zero. As portas do Legislativo permanecerão abertas a quantos cometeram crimes, exceção de uns poucos punidos pelos tribunais estaduais, em grau de recurso. Mesmo assim, apenas nas eleições de 2014.
Depois reclamam pelo abominável estado da imagem parlamentar. O corporativismo mostra-se presente na imensa maioria dos atos e decisões de seus dirigentes, tudo naturalmente superado pela máxima de que “ruim com eles, pior sem eles”. Um dia casa cai.
A selva salva, a selva condena
Depois de comandar a Força de Paz Internacional no Haiti e de haver ocupado o Comando Militar da Amazônia, o general Augusto Heleno ocupa a chefia do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. Continua o mesmo oficial empenhado em ver ressaltada a soberania nacional e lembra a preparação das unidades militares sediadas na Amazônia e demais zonas de fronteira. Apesar das dificuldades e da falta de recursos, julga nossas forças armadas preparadas para colaborar com o desenvolvimento sustentável da região. Os diversos pelotões de fronteira constituem a linha avançada de nossa defesa, registrando-se fato singular: a grande maioria dos soldados e subalternos é de índios. Os melhores soldados, conhecedores da selva e prontos para qualquer eventualidade. Porque a selva, para eles, é a salvação, mas para hipotéticos invasores, a condenação.
Augusto Heleno lembra que o Supremo Tribunal Federal não reconhece validade para acordos internacionais que consideram as diversas etnias e tribos indígenas brasileiras como nações.
A referência às opiniões do general insere-se, quando perguntado, na questão das chamadas bases americanas na Colômbia. Ele não vê perigo na presença de militares dos Estados Unidos naquele país, até porque lá se encontram faz muito. E principalmente por não haver, da parte deles, outra preocupação que não o combate às Farcs. Mesmo assim, permanece a doutrina criada pelo então ministro do Exército, anos atrás: para enfrentar potências militarmente muito superiores, a solução está sendo transformar guerreiros em guerrilheiros. Entrar, supostos invasores poderão. Sair, jamais, a não ser derrotados.
Atenção nos redatores do programa de Dilma
O dia não está marcado, mas, salvo inusitado ou mudanças de última hora, PMDB e PT celebrarão este mês o pré-contrato de aliança na sucessão presidencial. Consagrarão a candidatura de Dilma Rousseff e iniciarão entendimentos para a escolha do peemedebista que comporá a chapa. Pode ser Michel Temer, pode não ser. A data dependerá do presidente Lula, quando retornar do exterior, semana que vem.
O aspecto mais importante desse acordo será a constituição de uma comissão destinada a traçar as linhas-base de um projeto comum de governo para o próximo mandato. Dona Dilma não ficará muito feliz com a intromissão de seus aliados nas diretrizes que, por sinal, ainda não anunciou. Mas não terá como rejeitar a proposta, se dela depender o engajamento do PMDB em sua campanha. Até porque, planos, programas e projetos, no Brasil, servem para enfeitar prateleiras.
A simples designação dos componentes da comissão servirá como chave para ir abrindo a porta do futuro.Quem Dilma indicar, certamente com a participação do Lula, estará posicionado para integrar o futuro ministério. Caso, é claro, a ministra chefe da Casa Civil obtenha sucesso nas eleições. Quem pensar em Aloísio Mercadante arrisca-se a acertar.
Veto fora de hora
No ninho dos tucanos pouca gente entendeu a intervenção do ex-presidente Fernando Henrique, em Recife, vetando a hipótese da formação de uma chapa com José Serra para presidente e Aécio Neves para vice. Pode ter sido um gesto de cautela, para não ver a sucessão antecipada. Pode, também, ter revelado mais um capricho do sociólogo, inconformado em gradativamente perder influência no PSDB. Afinal, Serra tem sérias restrições ao neoliberalismo do governo FHC, assim como lembrará sempre que Tancredo Neves não o engolia. Se o sentimento tiver passado para o neto, ficaria segurando o pincel, sem escada em baixo, durante um hipotético governo do partido. Sempre homenageado mas poucas vezes considerado…
Nem tudo é o paraíso
D. Mauro Morelli é Bispo Emérito da Igreja Católica, equivale a dizer, Bispo sem Diocese. Durante anos comandou a Baixada Fluminense, destacando-se por suas rígidas posições contra a ditadura militar. Hoje sua Diocese é o país inteiro, quem sabe o mundo, empenhado na campanha pela alimentação e nutrição do bilhão de almas que passam fome nos cinco continentes. Defende a supressão dos agrotóxicos na mesa dos brasileiros e lembra o Lula dos primeiros meses de governo, na luta contra a fome. Tem sofrido incompreensões na própria Igreja, ouvindo mais de uma vez de párocos e até de um cardeal exortações para não se meter no território deles. Claro que não aceitou nem aceitará conselhos desse tipo, atuando como Bispo e como cidadão brasileiro numa série de projetos destinados a melhorar a qualidade da alimentação e da nutrição de todos, fiéis e agnósticos.
Uma reclamação de D. Mauro Morelli refere-se à CNBB, que integrou e liderou por muito tempo, mas da qual se acha excluído por não ocupar uma Diocese. Caso seja convocado um concílio, no Vaticano, estará imediatamente relacionado, mas, por ironia, não pode dispor de voz e voto na CNBB. Uma pena para os seus colegas Bispos…
Fonte: Tribuna da Imprensa