Dora Kramer
Da constatação do presidente Luiz Inácio da Silva de que “não é fácil” acabar “rapidamente” com a violência no Rio, ou em qualquer parte do planeta, não se pode discordar. Inclusive porque é impossível, mesmo vagarosamente, banir o crime do mundo.
Só não é possível se conformar que autoridades públicas se limitem a constatar obviedades e depois mudem de assunto sem se sentirem minimamente na obrigação de dizer como e quando pretendem cumprir o dever constitucional de zelar pela segurança do cidadão.
Muito menos é possível aceitar que fujam de suas responsabilidades com discursos de puro escapismo à falta de elementos para estabelecer um diálogo sério com a sociedade, em particular com aqueles que vivem em áreas conflagradas sob ameaça diária da ação do banditismo e do desnorteio do estado. O uso do plural justifica-se porque tal conduta não é apenas do atual presidente, mas é ele o responsável no momento.
De alguém há sete anos no comando da Nação é de boquiabrir escutar que “a presença do narcotráfico tirou o romantismo das favelas cariocas, locais sempre citados por sua ligação com o samba”.
Em que mundo vive o presidente da República, cujo maior atributo é sua comprovada identificação popular, sua proclamada capacidade de compreender as aflições dos desvalidos?
“Hoje, o narcotráfico é uma realidade e, com ele, não tem poema”, acrescentou, parecendo não compreender que tal conceituação poética há muito deixou de fazer parte daquele cotidiano.
Evidentemente o presidente Lula sabe disso. O que não sabe é o que dizer e o que fazer diante disso. Por isso diz o que lhe vem à cabeça e que lhe pareça mais apropriado para falar sem se comprometer com uma questão em tudo e por tudo pertencente à sua alçada, atinente à sua condição de condutor dos processos de mudanças aos quais, diga-se, prometeu fazer frente na campanha eleitoral e depois repetiu nos discursos das duas posses.
É bem verdade que, em ambas as ocasiões, passou quase ao largo do tema para quem sucedia um governo que havia fracassado assumida e fragorosamente no atendimento a uma das maiores angústias dos brasileiros.
Disse Lula em janeiro de 2003: “Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o país e fizeram do cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos contra todos. Por isso inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal em parceria com os estados, a serviço de uma política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente”.
Disse Lula em janeiro de 2007: “Sinto que, em matéria de segurança pública – um verdadeiro flagelo nacional – crescem as condições para uma efetiva colaboração entre a União e os estados da Federação, sem a qual será muito difícil resolver esse crucial problema”.
E, sobre isso, das frases de efeito não passou, a despeito das inúmeras vezes em que celebrou o trabalho da Polícia Federal no combate ao “crime organizado” para fins de autoexaltação.
Fiscais de Lula
O comando do PSDB assegura que não aceitará o convite do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, para a oposição vistoriar as obras do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.
A posição do líder do partido na Câmara, José Aníbal, que manifestou vontade de ir “por ser uma boa ocasião para a gente fiscalizar”, não será seguida pelo partido e é considerada ingênua ou produto de simulação de nobreza.
Na avaliação do alto tucanato, essa fiscalização a favor iria a se somar a uma série de gols contra que o PSDB acredita ter cometido nos últimos dias. Ao assistir quase embevecido à turnê eleitoral de Lula e Dilma pelo São Francisco e escutar praticamente em silêncio (conivente) o presidente alçar a simbologia de Judas à condição de paradigma de conduta dos políticos nacionais.
Carochinha
Se a oposição quer mudar de posição e apoiar a entrada da Venezuela no Mercosul, é bom que o faça sem tentar embromar a plateia, invocando um acordo de procedimentos pelo qual o governo Hugo Chávez assinaria um “compromisso de respeito aos protocolos políticos e econômicos” do grupo, como “respeito à oposição e à propriedade privada”.
Eleito em 1998 para cumprir um mandato de quatro anos, Hugo Chávez desrespeitou todas as instituições venezuelanas e quem não conseguiu cooptar destruiu ou tentou desmoralizar.
De posse desses instrumentos mais a “autoridade” conferida pelo poder econômico do petróleo, refez boa parte da Constituição do país e, mesmo tendo perdido em plebiscito, ganhou em referendo o direito de concorrer a sucessivas e infinitas reeleições.
Não será um acordo de grupo setorial cujo presidente do principal país signatário aceita suas barbaridades que Chávez vai respeitar.
Fonte: Gazeta do Povo