Todos os escândalos que estarrecem a opinião pública, têm uma procedência que vem de longe e se agrava cada vez mais: a falta de autenticidade do voto, e logicamente da representatividade. A mistura de voto proporcional com voto majoritário, uma EXCRESCÊNCIA, confunde o eleitor, não permite que ele escolha candidatos verdadeiros e acima de qualquer suspeita.
(Cândido, ingênuo, inseguro, já numa idade em que deveria deixar de se refugiar atrás de palavras, o ínclito e impoluto senador Pedro Simon, defende a eleição de representantes que tenham REPUTAÇÃO ILIBADA. Palavras não, senador, reforma do sistema, de forma clara, tranquila e transparente).
Nem o Aurélio ou o Houaiss conseguem definir o que é reputação ilibada. Os que serão eleitos pela nova ordem eleitoral aprovada ontem no senado, (e que certamente será ratificada pela Câmara em alta velocidade), aceitando essas vantagens e privilégios é evidente que não terão REPUTAÇÃO ILIBADA.
Por que? Foi só uma proposição aprovada, mas Nossa Senhora, que bandalheira coletiva. É o seguinte, que destruirá a imagem de qualquer candidato. Naturalmente menos da cúpula dos partidos, sempre e eternamente beneficiada e privilegiada.
Falo da DOAÇÃO OCULTA para as campanhas eleitorais. É evidente que o cidadão-contribuinte-eleitor não entenderá nada disso, o que é natural pois foi feito exatamente para enganá-lo, confundi-lo,permitir que fique cada vez mais confuso.
Acompanhem, vou explicar em linguagem simples o que é essa DOAÇÃO OCULTA.
Pela nova ordem, não existe mais, a partir da próxima eleição, o financiamento INDIVIDUAL para campanhas.Digamos que pessoas ou empresas, preocupadas com o futuro do Brasil e tendo recursos, resolvam melhorar a representatividade? Não podem mais fazer doações personificadas.
Terão então sempre que destinar recursos para os partidos, quer dizer para as cúpulas. Estas, naturalmente beneficiarão íntimos, que darão imediatamente a devida reciprocidade, numa campanha dupla, beneficiados-beneficiadores. E há mais e inexplicável, até mesmo para um repórter que maneja a simplicidade das palavras.
Os doadores, empresários (principalmente empreiteiras, seguradoras, bancos, indústria naval, mas não apenas essas) só terão suas doações conhecidas, depois de 6 meses. Ha! Ha! Ha! Por isso chamaram de DOAÇÃO OCULTA.
Anteontem pela manhã, Sarney antecipava essa aprovação e dizia: “É MELHOR UM PARLAMENTO RUIM, DO QUE NENHUM PARLAMENTO”. Está aí o que o presidente do senado antevia e antecipava: um PARLAMENTO RUIM. Pior do que essas, “eleito” por DOAÇÕES OCULTAS, é impossível.
E a reforma política? Não virá nunca. Já escrevi na Tribuna impressa, vários artigos, relacionando em cada um, 10 itens que precisam ser eliminados e outros que têm obrigatoriamente de ser colocados na lei.
1- Fim do voto proporcional junto com o majoritário. 2- Voto distrital. 3- Redução dos mandatos de deputados e senadores. 4- Quem tiver dúvida sobre o exagero no número de deputados e senadores no Brasil, comparem com outros países, principalmente com os EUA, o que foi feito por Rui Barbosa.
5- Fim dos suplentes, democracia com “representantes” sem voto e sem povo, não existe. 6- Acabar com a coincidência das eleições. Verifiquem, o Brasil é o único país que realiza todas as eleições no mesmo dia. Existem outras reformas, se não farão estas, nem examinarão outras.
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PS- Gilberto Amado no seu livro, “Presença na Política”, fez a observação magistral. “Antes de 1930, a eleição era falsa, mas a representação era verdadeira. Depois de 30, a eleição passou a ser verdadeira mas a representatividade é falsa”.
PS2- Hoje a eleição é cada vez mais falsa, e a representatividade, farsa, fraude, falcatrua contra a democracia.
Fonte: Tribuna da Imprensa