Carlos Chagas
Quinta-feira, na mesma hora em que em Nova York o Conselho de Segurança das Nações Unidas pronunciava-se pelo fortalecimento do tratado de não proliferação de armas nucleares, em Brasília o presidente em exercício, José Alencar, sustentava a necessidade de o Brasil dominar a tecnologia nuclear, inclusive produzindo a bomba atômica, importante para a garantia do petróleo do pré-sal.
No Conselho de Segurança da ONU, presidido pelo presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, estavam delegados da Rússia, China, Inglaterra e França, todas potências nucleares. Quer dizer, eles podem, além de alguns outros, mas o resto do mundo, não. Estamos proibidos de seguir-lhes o exemplo. Trata-se de desfaçatez. Malandragem e prepotência. Fingimento puro, voltado nesse momento contra o Irã e a Coréia do Norte. Entrará o Brasil no rol dos países proscritos, caso o presidente Lula dê seguimento às exortações de seu vice?
Parece difícil, ainda que não impossível. O heróico José Alencar tem o dom de falar a verdade, mesmo incômoda. Há sete anos insurge-se publicamente contra os juros astronômicos, contrariando a política econômica do titular. Ninguém, a começar pelo Lula, teve e tem coragem para pedir ao vice-presidente que se cale. Agora, também, na defesa do direito de nos tornarmos potência nuclear.
Dobradinha em ascensão
Hoje, no Rio Grande do Norte, os governadores José Serra e Aécio Neves confraternizaram outra vez. Compareceram à convenção regional do PSDB e não perderam oportunidade para, de novo, trocarem elogios e reafirmarem a disposição de seguirem juntos na sucessão do próximo ano. Apesar das negativas de formação de uma chapa única, que se divulgada agora enfraqueceria um deles, parece óbvia a dobradinha. Serra para presidente, Aécio para vice. E quem alegar tratar-se de uma volta aos tempos da República Velha, quando o acordo café-com-leite dominava a política nacional, é bom lembrar: há sete anos a aliança São Paulo-Minas manda no país. Ou o Lula representa Pernambuco, apesar de ter nascido lá?
Desafio
O senador Mário Couto, do PSDB do Pará, ocupou novamente a tribuna do Senado para agredir o diretor-geral do DENIT, José Luís Pagot. Disse que o alto-funcionário rouba dinheiro público. Não teve meias palavras, desafiando o agredido a processá-lo, oportunidade para apresentar provas.
A gente se pergunta como um episódio desses pode passar em branco, mas não é a primeira vez. Mário Couto já denunciou antes o mesmo personagem, pelos mesmos motivos. Pagot é suplente do senador Júlio Campos, de Mato Grosso. Dias atrás, preferiu não assumir, quando da licença do titular. Certamente para evitar atrito ainda maior com o representante do Pará. O diabo é que essa baixaria não acontece num grêmio estudantil ou na diretoria de um clube de futebol. Verifica-se no Senado Federal, com transmissão direta para todo o país, via rádio e televisão.
Nova lambança
Para ficar no Senado, vale registrar o apelo do senador Pedro Simon para que a mesa diretora dos trabalhos recue na decisão de permitir a seus membros e aos líderes dos partidos nomearem mais três funcionários não concursados, cada um, para ficarem em seus estados de origem. E com salários de mais de 9 mil reais por mês. Claro que para trabalharem na campanha de reeleição dos líderes e dos membros da mesa.
Simon lembrou o argumento do senador José Sarney, de que autorizou as nomeações a pedido dos líderes dos partidos. Mais ainda, disse que os líderes do DEM, do PSB e do PT desmentiram a reivindicação e até afirmaram ser contra, não devendo, assim, nomear mais três funcionários. Para o representante do Rio Grande do Sul, só uma palavra define a lambança: ridículo.
Aproveitou para outra crítica ao presidente do Senado, em suas palavras dono de diversos órgãos de comunicação no Maranhão, mas que criticou a imprensa por pretender representar o povo.
Fonte: Tribuna da Imprensa