Por: Carlos Chagas
Ficou todo mundo contra. Marina Silva não quis, Dilma Rousseff rejeitou, o PT desconsiderou e o presidente Lula estrilou. Fala-se da proposta do senador Eduardo Suplicy de realizar uma prévia entre as duas candidatas, no âmbito do PT, para saber qual delas o partido lançaria. A prévia evitaria a passagem de Marina para o PV e devolveria aos companheiros ao menos parte de sua autonomia, surripiada pelo presidente Lula.
Até data para a consulta ás bases petistas o senador sugeriu: 20 de setembro, tempo necessário a que as duas candidatas visitassem os principais diretórios regionais e fizessem proselitismo de suas indicações.
O problema é que o primeiro-companheiro sentiu-se ofendido por Suplicy. Afinal, foi dele a escolha-imposição de Dilma Rousseff. Abrir a hipótese de outra candidatura equivaleria a desautorizá-lo.
Sendo assim, o desembarque da ex-ministra do Meio Ambiente está por poucos dias. Ela deixará o PT, mesmo entre lágrimas. Não passa por suas cogitações vingar-se da chefe da Casa Civil, atrapalhando seus planos. Se foi levada a demitir-se do ministério, é coisa do passado, mesmo sabendo haver sido Dilma o principal fator interno de sua retirada. O PT, pela palavra do líder Aloísio Mercadante, comprometeu-se a não reivindicar o mandato de Marina, mesmo com a decisão da Justiça de que os mandatos pertencem aos partidos. A futura candidata verde ficará no Senado até dezembro do próximo ano.
Razões fundamentais
Deve-se a uma evidência nacionalista a próxima divulgação do marco regulatório do pré-sal e da empresa a ser criada para gerir seus resultados. Mesmo delegando à Petrobrás as operações, a Petrosal será senhora da riqueza a ser extraída e oferecida no mercado internacional, sem que os lucros precisem ser divididos com multinacionais e especuladores. A razão surge simples: por obra e graça do então presidente Fernando Henrique a Petrobrás, quase privatizada, teve parte de suas ações negociadas na bolsa de Nova York. Quer dizer, o esperado faturamento monstro das reservas petrolíferas recém-descobertas teria que ser repartido com o capital internacional. Com a nova empresa, fica tudo por aqui.
Por conta disso, cresceu a pressão sobre o governo Lula. Não foi outro o recado do general James Jones, Assessor de Segurança Nacional do presidente Barack Obama, em recente audiência com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Mesmo preservando sua postura conciliatória e educada, o senador pelo Maranhão deixou claro ao gringo: “não vem que não tem…”
Mais um
O presidente de honra do PMDB, Paes de Andrade, acaba de exprimir o anseio maior das bases do partido, apesar de reprimido pela direção atual: a candidatura própria à presidência da República tornou-se uma necessidade. Enquanto a sucessão caminhava para configurar um plebiscito a respeito do presidente Lula, mesmo representado por Dilma Rousseff, a omissão do PMDB ainda podia ser explicada, mesmo não justificada. Agora que entram no palco Marina Silva e Ciro Gomes, muda tudo de figura. A disputa será para saber quem vai para o segundo turno, junto com José Serra. Dilma, Marina e Ciro dispõem das mesmas chances. Nesse caso, por que o PMDB deixaria de concorrer com nome próprio? Constituindo-se no maior partido nacional, com mais vereadores, prefeitos, governadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores, além de diretórios nos mais de 5 mil municípios do país, o PMDB sairia com vantagem, nessa corrida.
Nomes? Paes de Andrade não hesita e lembra o governador Roberto Requião, do Paraná, com todas as condições de empolgar as bases. Faz um excelente governo em seu estado e sustenta teses nacionalistas, voltadas para a defesa do interesse nacional.
LamentosDe público, nenhum companheiro reconhece, até para não ferir Dilma Rousseff, mas nos conciliábulos reservados do PT, são muitos os lamentos a respeito de não ter o presidente Lula feito com José Dirceu e com Antônio Palocci aquilo que agora faz com José Sarney: sustentá-los a todo custo. Se o ex-chefe da Casa Civil e o ex-ministro da Fazenda tivessem recebido o apoio do Lula, não precisariam deixar suas funções. Estariam até hoje no governo, necessitando decidir apenas qual deles seria o candidato, ambos com peso político bem superior a Dilma. Poderiam, Dirceu e Palocci, até mesmo formar uma chapa pura de respeitável densidade eleitoral, tanto faz qual deles a encabeçaria. Afinal, a proximidade de um com Delúbio Soares, e do outro com um caseiro-espião, constituíram denúncias muito inferiores àquelas jogadas sobre os ombros do presidente do Senado.
Fonte: Tribuna da Imprensa