O senador petista - ? – Eduardo Suplicy (SP).em muitos anos de sucessivos mandatos, conquistou a justa notoriedade pela sua compostura e lealdade, além da obstinação com que defende a fórmula mágica para o salário mínimo. Por todas estas razões e outras, foi com o espanto de uma decepção que assisti pela televisão, com repeteco, a sua contraditória e absurda atuação no plenário do Senado ao pedir a expulsão do presidente, senador José Sarney (PMDB-AP), sacudindo da tribuna um enorme cartão vermelho para expulsar de campo, num gesto de árbitro de futebol, o jogador Sarney que não se sabe em que posição foi escalado no time do improvisado juiz no gramado do Senado.Francamente, é com pesar que exponho a posição patusca do senador paulista. Em primeiro lugar pelos tropicões na incoerência. Para sacar do bolso o cartão vermelho e expulsar o senador Sarney, o senador Suplicy teria que se desligar do PT. Pois, o PT do presidente Lula e da ministra-candidata Dilma Rousseff é aliado do presidente Sarney, amigos de afagos e de mesa.Não cometo a injustiça de duvidar da coragem do senador dissidente do PT para mandar o partido às favas e expulsar de campo o presidente Lula junto com Sarney.Suponho que o senador Suplicy exagerou na avaliação da sua influência no PT e tomou o bonde errado. Depois, senador, cartão vermelho tamanho-família para expulsar do gramado do Senado o presidente da Casa é uma paródia circense, que atinge no rebate o futebol brasileiro pentacampeão do mundo, às vésperas da disputa de mais um título, sob o comando de Dunga.O Senado da crise da roubalheira atravessa uma das piores fases da sua história. Necessita de um mutirão para a tentativa desesperada da sua reabilitação ética e moral, pois não há democracia sem Congresso. É recente o exemplo da patuscada dos 21 anos da ditadura militar que manteve o Congresso aberto para a sua imagem externa, mas submetido às humilhações dos recessos punitivos, dos infamantes atos institucionais, do senador-biônico – que sobrevive no senador de garupa, que se elege sem um voto – da boçalidade do AI-5, das cassações de mandato, da abominação das torturas, da bomba do Rio-Centro, das execuções sumárias de centenas de presos.O senador Suplicy lutou na resistência à ditadura militar. E precisa zelar pela sua biografia. Até por uma razão tática. É de uma obviedade solar que o senador José Sarney não será candidato à reeleição. Nem pelo Maranhão ou pelo Amapá. E o cartão vermelho pode ser a justificativa para o risco de disputar novo mandato sem campanha. Ou limitado ao horário eleitoral. Para ganhar ou para perder.
O Conselho de Ética do Senado, depois de um desempenho vexante, foi esvaziado com a renúncia dos nove representantes da oposição. Nada que uma boa conversa não resolva. O governo já pagou boa parte dos seus pecados. Menos o do apagão do registro dos freqüentadores do Palácio do Planalto.Como sumiu também a bolsa, com a agenda da ex-secretaria Lina Vieira, da Receita Federal, o caso está encerrado para a felicidade geral do governo.
O circo não avisou se hoje tem espetáculo. Os fanáticos devem comparecer, mesmo correndo o risco de perder tempo. O que no Congresso é um saudável hábito. Em boca fechada não entra mosca. Nem se repetem bobagens do rico vocabulário parlamentar.
Fonte: Villas Bôas-Corrêa