Carlos Chagas
O PMDB, porque está por cima. O PT, porque está por baixo. Através de suas bancadas no Congresso, ontem, os dois partidos reagiram com desdém à informação de que o presidente Lula vai promover a aliança de ambos nas sucessões estaduais. Trata-se de missão impossível, essa de unir desuniões legítimas nos estados onde já emergiram. Alguma coisa como obter previamente a concordância de a parte que for derrotada tomar veneno.
Mesmo perdendo as eleições, porque só um governador será eleito, tanto PMDB como PT necessitam de candidatos a governador para puxar a fila de pretendentes ao Congresso e às Assembléias Legislativas. Para sensibilizar o eleitorado. Como exceção poderá haver entendimento e formação de um único palanque num ou outro estado, mas, como regra, peemedebistas e petistas estarão jogando a própria sobrevivência nas disputas regionais.
Mesmo que Michel Temer e Ricardo Berzoini insistam, não serão ouvidos. Depois de almoçarem com o Lula, esta semana, os dois presidentes prometeram empenhar-se, mas, experientes que são, saberão da inviabilidade de acordo na maioria dos estados.
Tome-se o Rio Grande do Sul. Tarso Genro, aliás ministro da Justiça, admitiria abandonar sua candidatura e subir no palanque de José Fogaça? E a recíproca, seria verdadeira? Vale o mesmo para Santa Catarina, Paraná, São Paulo e assim por diante, até chegarmos ao Acre. Nesse particular, valem muito pouco as determinações do palácio do Planalto.
A fixação do presidente está na própria sucessão. Sabendo da fragilidade da candidata Dilma Rousseff, seu objetivo é de engajar o PMDB inteiro na campanha, mesmo precisando sacrificar o PT em muitas disputas estaduais. O problema é que os companheiros tem engolido tudo, desde submissão até humilhações, mas não chegarão a cometer suicídio. O que pensar, então, do PMDB, posto a cavaleiro na equação sucessória federal?
O infindável saco de maldades
Não tem tamanho o saco de maldades da equipe econômica. A última, agora, é vincular ao PIB o reajuste dos aposentados que recebem acima do salário mínimo. Quer dizer, se a economia andou mal, se a especulação financeira sobrepujou a produção, se o governo mostrou-se incompetente – a conta irá para os aposentados. Em vez de dar aos velhinhos menos miseráveis o mesmo percentual de aumento concedido aos mais miseráveis de salário mínimo, o governo inventa atrelar sua ação ao crescimento do Produto Interno Bruto. Por que não à performance do Flamengo do campeonato brasileiro? Ou ao número de pontos obtidos pela Escola de Samba campeã do último carnaval?
O presidente Lula vetou o projeto que reajustava em 16.5% os aposentados acima do salário mínimo. ~Como presidente do Congresso o senador José Sarney não marcou nem marcará data para a sessão de apreciação dos vetos presidenciais. Para não ficar tão mal junto à categoria dos aposentados, o governo promete uma compensação. Mas essa de vincular o reajuste ao PIB não dá. Inventem outra…Ninguém para defender
Ontem o senador Jarbas Vasconcelos pronunciou um dos mais veementes discursos contra o presidente Lula, a quem chamou de aprendiz de ditador, responsável pela mediocridade da política brasileira e pela maior crise já vivida pelo Congresso nos últimos anos. Pois bem: nenhum senador governista ergueu a voz para defender o chefe do governo. Os que estavam presentes sequer ergueram os olhos.
Eduardo Suplicy, que minutos antes agredira José Sarney, ficou calado. O presidente do Senado, também.
A Deus nada se recusa
Cristóvan Buarque é do PDT, partido que apóia o palácio do Planalto, mas não perde oportunidade de criticar o governo do qual foi ministro. Também bateu firme no presidente Lula, que para ele não é apenas um líder político, porque transmudou-se no Padre Eterno. Imagina-se Deus, colocando-se acima dos três poderes da União.
Para não renunciar ao poder e suas benesses, disse o ex-governador do Distrito Federal, o PT aceitou o retrocesso ideológico. Abandonou princípios do passado e sonhos do futuro. Também não foi contestado.
Fonte: Tribuna da Imprensa