Léo Arcoverdedo Agora e Folha Online
Dois policiais civis acusados de ter extorquido dinheiro de dois integrantes da quadrilha chefiada pelo megatraficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, no primeiro semestre de 2007, foram presos na madrugada de ontem. Até a conclusão desta edição, outros três policiais supostamente envolvidos no crime estavam foragidos.
Advogado de defesa nega crime
André Barcelos, piloto de Abadía, e Daniel Marostica, que, segundo as investigações, atuou como "laranja" do traficante, repassaram um carro, uma moto e R$ 400 mil em dinheiro aos acusados em troca da liberdade, de acordo com o delegado Caetano Paulo Filho, da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo.
O autor do crime de extorsão mediante sequestro contra Barcelos foi, segundo a corregedoria, o policial civil Christian Rener Fernandes de Godoy, 33 anos, que trabalha no 41º DP (Vila Rica), na zona leste da capital. A polícia diz que ele recebeu R$ 400 mil e um carro do piloto de Abadía.
Já o policial Thiago Luiz Berbare Bandeira, 33 anos, do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro SP) de Santo André (ABC), teria recebido uma moto de Daniel Marostica com a condição de não entregá-lo à polícia.
Ainda de acordo com a corregedoria, os dois policiais detidos negaram participação no crime, mas não souberam justificar a aquisição dos veículos nem o dinheiro, bens obtidos alguns meses antes de agosto de 2007, quando ocorreu a prisão de Abadía.
A polícia diz que grande parte desse dinheiro foi "lavada" na compra de "bens móveis e imóveis", mas a corregedoria não informou ontem que bens foram esses.
InquéritoFoi a partir de um depoimento de Abadía, na sede da Polícia Federal, na Lapa (zona oeste de SP), que a corregedoria instaurou o primeiro inquérito contra policiais com atuação em toda Grande São Paulo, acusados de ter extorquido dinheiro de vários integrantes da quadrilha chefiada pelo megatraficante.
O pagamento teria sido para que a quadrilha não fosse presa quando traficou drogas para fora do Brasil a partir de São Paulo, entre 2005 e 2007.
Em setembro do ano passado, o delegado Caetano Paulo Filho assumiu o caso e desmembrou o inquérito em quatro investigações distintas. De lá para cá, 20 pessoas foram indiciadas por extorsão, extorsão mediante sequestro e formação de quadrilha. Dessas, 17 são policiais civis ou delegados. Desses 17 policiais indiciados, dez eram do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos).
Paulo Filho afirmou ontem, porém, que "gansos" (informantes da polícia) e comerciantes já foram identificados como comparsas nos crimes.
A estimativa é que os cinco crimes tenham rendido pouco mais de R$ 3 milhões aos 17 policiais, agora chamados na polícia de o "outro PCC", sigla para policiais civis corruptos.
Outros quatro policiais civis foram indiciados sob a a acusação de exigir R$ 400 mil de Ramón Maznuel Yepes Penagos, o El Negro, outro megatraficante colombiano ligado a Abadía, para apresentá-lo à Justiça como se fosse um comerciante mineiro.
Os inquéritos sobre as extorsões contra os megatraficantes Abadía e El Negro deverão ser concluídos e entregues à Justiça na próxima semana.
Fonte: Agora