Alex Ferraz
Aos poucos, o presidente Lula e o PT vão deixando Sarney (PMDB-AP) sozinho em meio a uma crise que só faz aumentar. Percebendo o enorme desgaste político de assumir a defesa do indefensável, o presidente e seus aliados lavaram as mãos e deixaram a cargo, agora, da Polícia Federal, cuidar do caso.
Hoje (22), mais uma notícia bombástica vem juntar-se ao enorme dossiê que já resulta das inúmeras denúncias e investigações que recaem sobre o presidente do Senado e ex-presidente da República: diálogos gravados pela Polícia Federal, com autorização judicial, revelam atuação direta de Sarney na nomeação de parentes (nepotismo), além de evidenciar sua proximidade com o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia na prestação de favores e na autorização de atos secretos.
As informações estão em reportagem da edição desta quarta-feira do jornal "O Estado de S. Paulo", trazendo como exemplo uma conversa entre Fernando Sarney e sua filha, Maria Beatriz (neta de Sarney), sobre um cargo que estaria vago na área administrativa do Senado. O irmão de Beatriz, Bernardo Brandão Cavalcanti Gomes, havia pedido demissão e a neta de Sarney pede, então, a ajuda do pai e do avô para que seu namorado, Henrique Bernardes, ocupe a vaga.
A gravação põe em xeque as insistentes declarações de Sarney de que jamais interferira para a contração de parentes seus pelo Senado. Tanto assim que, em outra ligação gravada pela PF, Sarney afirma que iria falar com Agaciel Maia sobre o caso. E oito dias após essa conversa, lá estava Bernardes nomeado por ato secreto.
As gravações foram feitas durante a Operação Boi Barrica, que investigou o filho de Sarney após denúncias de fraudes financeiras no Maranhão, principalmente no setor energético. Foram quatro dias de troca de telefones, que começram no dia 30 de março de 2008. Na época, o presidente da Casa era o senador Garibaldi Alves.
CRONOLOGIA DA CRISE
Além das diversas denúncias sobre uma lista de parentes da família de José Sarney empregados no Senado (sobrinhas, neto e uma prima e uma sobrinha de Jorge Murad, genro do presidente da Casa), estopim da crise que agora, pelo visto, chega ao ápice, houve uma sequência de denúncias outras que enfraqueceram cada vez mais a posição praticamente insustentável de Sarney na presidência do Senado. Vamos a uma cronologia recente:
17 de junho
A Polícia Federal Federal revela que investigou Ana Clara Sarney, filha do empresário Fernando Sarney e neta de José Sarney, por suspeita de recebimento de dinheiro ilegal de Paulo Guimarães, conhecido no fim dos anos 1990 por ser dono do bingo virtual Poupa Ganha e por suspeita de lavagem de dinheiro.
25 de junho
Explode a denúncia de que a casa do senador José Sarney, em Brasília, serviu de ponto de encontro para aproximar o grupo empresarial Abyara, de São Paulo, com Fábio Lenza, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, em março do ano passado.
28 de junho
A Polícia Federal decide esquadrinhar a atuação da empresa Sarcris na intermediação de empréstimos a servidores do Senado. A empresa tem como sócio José Adriano Cordeiro Sarney, 29 anos, neto do senador José Sarney e filho do deputado Zequinha Sarney.
17 de julho
Diálogos captados pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica revelam que o empresário Fernando Sarney tentava interferir em indicações e negócios realizados pela Eletrobrás, empresa estatal do setor elétrico, área controlada por seu pai, o presidente do Senado.
Fonte: Tribuna da Bahia