O principal suspeito era Juarez Ferreira Pinto. Ele havia sido reconhecido pela vítima e está preso desde o dia 17 de fevereiro.
Gladson Angeli, João Varella e Adriano Kotsan
Cinco meses depois do crime do Morro do Boi, ocorrido em 31 de janeiro, em Matinhos, no Litoral do estado, o caso teve uma reviravolta nesta terça-feira (30). Paulo Delci Unfried, preso na semana passada, confessou ter matado o estudante Osíris Del Corso e baleado Monik Pegorari Lima. O principal suspeito, até então, era Juarez Ferreira Pinto, preso em 17 de fevereiro e reconhecido por Monik. Ele sempre negou a autoria do crime. Os advogados de Juarez devem entrar com um pedido de indenização contra o Estado.
Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (30), o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, responsável pelas investigações, negou que tenha havia erro por parte da polícia. "Nem eu, nem a polícia admitimos erro. Se isso aconteceu foi uma conjuntura probatória, pois existiam provas fortes e o reconhecimento da vítima", afirmou o delegado.
Cartaxo disse que as provas existentes até então eram suficientes para a conclusão do inquérito. "Não foram puladas etapas da investigação. A polícia não trabalha para produzir informações e sim pela verdade", disse o delegado, ao ser questionado se a comoção pública sobre o caso gerou alguma pressão para que alguém fosse preso. "Não mudaria nada do que fiz até agora nesse caso e faria tudo de novo. Não mudei de opinião", afirmou.
Novos rumos
Paulo Delci Unfried foi preso depois de invadir uma casa e violentar uma mulher, no balneário de Betaras, em Matinhos, na noite de quarta-feira (24). Com ele foram encontradas duas armas, um revólver calibre 38 e uma garrucha calibre 22. A polícia realizou um exame de balística e comprovou que o tiro que matou o estudante partiu da arma apreendida com Unfried. O delegado Cartaxo afirmou que a arma foi comprada legalmente em Cascavel (Oeste) e depois passou pela mão de três pessoas. Nenhuma delas era Juarez Ferreira Pinto.
Mesmo com a comprovação de que o tiro que matou o estudante saiu da arma de Unfried, de acordo com o delegado Cartaxo ainda não é possível afirmar que ele é o autor do crime. "Falta o Judiciário se pronunciar se Paulo é o autor", afirmou o delegado.
Segundo informações do Ministério Público do Paraná (MP-PR), Unifried teria tentado suicídio por enforcamento dentro da cadeia pública de Matinhos e após ser socorrido, já de volta à Delegacia de Polícia, confessou a autoria do crime.
Depois de serem informadas da tentativa de suicídio, as promotoras de Justiça Carolina Dias Aidar e Fernanda Maria Motta Ribas interrogaram o detido. No depoimento, segundo as promtoras, o novo suspeito teria caído em contradição diversas vezes ao descrever o crime. Para o esclarecimento do caso, as promotoras pediram que seja realizada a reconstituição do crime segundo a versão de Unfried.
“A polícia vai fazer as diligências pedidas pelo Ministério Público, inclusive uma nova reconstituição dos fatos no Morro do Boi para esclarecer as dúvidas”, afirmou Cartaxo, que disse não haver data prevista para essa nova reconstituição. Unfried, no entanto, alega que foi um assalto e diz que não cometeu o estupro em Monik. "Hoje a investigação não está nas mãos da polícia. É um processo na Justiça", definiu o delegado.
Suspeitas
A prisão de Unfried levantou suspeita sobre a autoria do crime em razão da semelhança dele com o retrato falado feito com base no depoimento de Monik. Mesmo assim, na semana passada, o delegado Cartaxo afirmou que não havia semelhança. “Não existe a possibilidade de mudar esse quadro [o julgamento de Juarez pelo crime]”.
O advogado de Juarez, Nilton Ribeiro, já pediu a soltura de Juarez e espera que na quarta-feira (1º) à tarde o cliente consiga a liberdade. Os advogados que defendem Juarez vão dar uma entrevista coletiva na quarta para dizer o que vão fazer daqui para frente. “Tudo nos indica que vamos entrar com uma ação de indenização. A coletiva (entrevista do delegado Cartaxo) só reforçou o que a defesa já afirmava”, disse o advogado Mario Lucio Monteiro Filho, que acompanhou a entrevista de Cartaxo e faz parte do escritório que defende Juarez.
Dois baleados no Morro do Boi
O crime aconteceu na tarde do dia 31 de janeiro, quando a jovem Monik Pegorari de Lima e o namorado dela, Osíris Del Corso, estavam em uma trilha no Morro do Boi e tentavam chegar à Praia dos Amores. No caminho, os dois foram baleados. A moça contou aos bombeiros que, chegando à gruta da praia, por volta das 17h30, o agressor tentou abusar sexualmente dela.
Na tentativa de defendê-la, o namorado levou um tiro no peito e morreu. A moça foi atingida por um tiro nas costas e ficou caída no local, enquanto o agressor fugiu. Perto das 21 horas, segundo relatos da própria vítima aos bombeiros que a resgataram, o agressor voltou até o local do crime e cometeu abuso sexual. Os dois só foram localizados na tarde de domingo (1º). A jovem esperou por 18 horas na mata até ser resgatada.
Ainda no hospital, a jovem teria dito ter reconhecido uma camiseta amarela encontrado perto do local do crime. Nunca ficou claro a importância dessa peça para a investigação. Nesta terça, Cartaxo voltou a descartar a camiseta. Disse que ela não caberia em Paulo Delci Unfried.
A Polícia Civil divulgou o retrato falado do homem que seria o autor do crime, feito com base nas conversas de policiais com a jovem.
A prisão de Juarez
Em 17 de fevereiro, Juarez foi preso em um balneário de Pontal do Paraná, com autorização da Justiça.
Quatro dias depois da prisão do suspeito, a polícia mudou a versão para o crime. Em vez de homicídio, Juarez teria praticado um latrocínio (roubo seguido de morte). A afirmação da polícia se baseou em supostos R$ 90 que teriam desaparecido da roupa de Monik. O próprio delegado Cartaxo disse dias antes da nova versão que nada havia sido roubado. Em conversa com a reportagem da Gazeta do Povo questionado sobre essa contradição, o delegado usou palavras de baixo calão e desligou o telefone sem se despedir (escute a entrevista aqui).
Também houve um recuo na questão do suposto estupro que a jovem teria sido vítima. A Polícia Civil disse, em uma segunda versão, que houve apenas atentado violento ao pudor, quando não há conjunção carnal.
Diante dos vários questionamentos, a polícia chegou a divulgar um vídeo onde a vítima reconheceria o assassino de seu namorado.
A promotora de Justiça Carolina Dias Aidar de Oliveira concordou com o requerimento da polícia que presidiu o inquérito e pediu que a prisão temporária do acusado fosse convertida em preventiva. O caso foi denunciado formalmente no dia 3 de março, menos de um mês depois da prisão de Juarez.
Julgamento
Começou na manhã do dia 16 deste mês a audiência de instrução e julgamento de Juarez, o até então apontado como o autor do crime. A sessão, que deveria ter o depoimento de 16 pessoas, entre defesa e acusação, foi suspenso. Nem todas as testemunhas arroladas no processo puderam comparecer ao Fórum de Matinhos.
Fonte: Gazeta do Povo