Fernando Rodrigues
No mesmo dia em que surgiu mais um caso de impostura no Congresso, saiu o resultado da pesquisa Datafolha com uma oscilação positiva na aprovação de deputados e de senadores.
Para 19% dos brasileiros o Congresso tem um desempenho "ótimo" ou "bom". Em março, ainda no início da atual onda de estripulias no Legislativo, o percentual era de 16%. Não há motivo para comemoração. Pelo contrário, trata-se apenas da consolidação de uma tendência há anos detectada.
Desde o início desta década, a aprovação do Congresso variou de 11% a 22% em pesquisas Datafolha.
Os 19% atuais estão dentro dessa faixa de tolerância da sociedade.
Sempre há, historicamente e em qualquer lugar, um grupo disposto a olhar com extremo desdém para as mazelas do país -por desinformação, desânimo ou ambos.
A estabilização do Congresso nesse patamar de aprovação ao rés do chão tem sido à custa de mais de 50 episódios de ações incorretas e mau trato do dinheiro público. Ontem, a notícia ruim veio do Senado.
Integrantes da Câmara Alta licenciados para ocupar cargos de ministros continuam recebendo auxílio-moradia. Foram R$ 345,8 mil para o ralo. Nada acontecerá.
Um dos senadores licenciados é Alfredo Nascimento, do PR do Amazonas, hoje ministro dos Transportes. O PR é o ex-PL, sigla das mais desenvoltas no escândalo do mensalão. Como se vivesse numa bolha e desconectado da sociedade, o político amazonense declarou estar esperando ser "informado oficialmente pelo Senado sobre o assunto". Depois, "examinará a necessidade e a qualidade das medidas a serem tomadas".
O político recebe auxílio-moradia como senador sem ser senador.
Não contente, acha necessário "ser informado oficialmente" sobre seu ato. Atitudes assim garantem o congelamento da aprovação do Congresso no patamar dos 20%.
Fonte: Folha de S. Paulo (SP)