Por Tales FariaÉ realmente instigante o tabuleiro da política. Até ontem, estava praticamente enterrada a candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a presidente da República pelo PSDB. Com o governador de São Paulo, José Serra, disparado nas pesquisas, não havia chance de a vaga sobrar para o mineiro.Mas eis que veio a doença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. E, quando todo mundo esperava que o anúncio de um câncer pudesse enterrar de vez as pretensões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer da moça a sua sucessora no Palácio do Planalto, a coisa teve um efeito contrário. Parece que o eleitorado se solidarizou com a dor da ministra.Segundo pesquisa do Instituto DataFolha divulgada no domingo, a diferença entre Serra e a petista diminuiu 8 pontos percentuais em relação ao último levantamento. Serra caiu de 41% para 38% na preferência do eleitorado, e Dilma subiu de 11% para 16%. O DataFolha perguntou aos entrevistados ainda o que eles acharam de a ministra ter revelado que tinha câncer: 81% aprovam o gesto de Dilma.Ontem foi a vez de a Confederação Nacional da Indústria divulgar a sua já tradicional pesquisa CNT/Sensus. Serra e Dilma apareceram tecnicamente empatados com 5,7% e 5,4% das intenções de voto na pesquisa espontânea, aquela em que os eleitores apresentam por conta própria o nome dos seus candidatos. Já na pesquisa estimulada, Serra ganharia com 40,4% das intenções de voto contra 23,5% de Dilma. Em março, Serra tinha 45,7% e Dilma, 16,3%. Pelo levantamento, a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) receberia 10,7% dos votos, contra 11% em março. Os votos em branco, nulos e indecisos somam 25,6%.Curioso é que, na pesquisa do DataFolha, Dilma já força a realização de um segundo turno e, na pesquisa CNT/Sensus, está muito próxima disso. É aí que nascem os problemas todos com o sucesso, para os governistas.Primeiro, porque se Dilma continuar crescendo muito rapidamente, os tucanos podem começar a achar que Serra tem um teto, e que Aécio Neves, embora esteja ainda sem um grande eleitorado, tem maior potencial de crescimento. Aliás, essa é uma tese que corre solta em muitos corações tucanos e que ganhou força agora.Depois, porque um crescimento grande e rápido de Dilma pode levar Ciro Gomes (PSB) a desistir de concorrer à Presidência. E os números ainda não garantem um segundo turno para Dilma. Com Ciro na disputa, o segundo turno é mais provável.Bem, por fim, este colunista resolveu provocar o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que havia declarado aqui sua convicção de que Dilma será derrotada, provavelmente ainda no primeiro turno das eleições. Montenegro não se dá por vencido:– Olha, eu continuo com a mesma opinião. Defendo tudo aquilo que disse antes. Na minha análise, Dilma foi muito mal nessas pesquisas. Não estou levando em conta os números da espontânea, porque acho que este tipo de dado é pouco significativo a esta altura do campeonato. Voltando: Dilma foi mal porque as pesquisas mostram que ela já é conhecida de cerca de 80% do eleitorado. Serra é conhecido de 90% e tem manifestações de votos próximas de 40%. Dilma, com 80% de conhecimento, só tem 16% das pessoas dispostas a elegê-la. Acho que a ministra, sim, está chegando ao teto. Vamos olhar a rejeição à Dilma: bateu em 32,4%. É muito alto. Maior do que a do Aécio e a do Serra. Acho que, de fato, o anúncio da doença pode ter aumentado a velocidade de crescimento da ministra, neste momento, mas continuo na tese de que esta questão do câncer não irá refletir nas urnas. Nem contra, nem a favor. E também continuo achando que, contra a Dilma, o Serra será eleito em primeiro turno. Não vai ser fácil para a Dilma explicar, na campanha, essa história de que foi terrorista e assaltou banco. Brasileiro não gosta disso. Só haverá segundo turno se ficarem muitos candidatos na disputa. Mas acho que o Ciro Gomes, por exemplo, vai acabar desistindo.
Fonte: JB Online