Carolina Hanashiro*
da Cidade do México para a BBC Brasil
Foi pedido para que os habitantes da Cidade do México fiquem em casa
O ministro da Saúde do México, José Córdova, divulgou novos números da gripe suína no país na noite desta quinta-feira. No total, há 300 casos confirmados da doença no país, além de 12 mortes relacionadas ao vírus.
Suspeita-se que quase 3 mil pessoas tenham contraído a doença no México, sendo que, a maioria delas, já teria sido curada. Dezenas de mortes podem ter sido causadas pela gripe, mas o governo avança lentamente para consolidar o número de vítimas fatais do surto."Vale ressaltar que o aumento não significa que tenha morrido mais gente nas últimas horas, mas que estão sendo submetidas para análises mais amostras, recolhidas desde o princípio de abril", disse Córdova durante uma coletiva de imprensa de manhã. "Também não vamos mais falar de casos suspeitos, apenas de confirmados."
O ministro disse que há apenas um laboratório no país preparado para realizar estes testes, mas que o governo está trabalhando para que seis novos centros comecem a atuar o quanto antes. "Não havia antecedentes de epidemia por este vírus, não tínhamos a técnica adequada aqui."
Segundo o ministro, quando o surto começou, eram realizadas 15 análises por dia. "Ontem foram 200 e esperamos chegar a 500 provas diárias em todos os laboratórios."
Córdova também disse que, para controle e tratamento de contágios, foram visitadas 77 casas de pacientes com suspeita de terem morrido em razão do novo vírus na capital mexicana e seis Estados do país.
"Encontramos apenas dois casos positivos para influenza A, que já estão sendo tratados."
Como parte dos novos esforços para conter o avanço da doença, o presidente do México, Felipe Calderón, anunciou a suspensão parcial de serviços não-essenciais entre os dias 1º e 5 de maio e pediu que a população ficasse em casa nesse período.
Recursos
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) doou US$ 1 milhão para apoiar a detecção de novos casos de infecção e autorizou um empréstimo de US$ 3 bilhões para ajudar no combate ao vírus.
Em comunicado, o BID disse que os recursos do empréstimo servirão para impulsionar programas de apoio às populações mais pobres que tenham sido afetadas pela situação de emergência sanitária e pela desaceleração causada pela crise econômica mundial.
O organismo advertiu ainda que a emergência em função do surto epidêmico no México pode aprofundar a contração da economia do país em 2009, que se somaria à desaceleração causada pela queda nas exportações e remessas.
No domingo, o Banco Mundial anunciou a liberação de US$ 205 milhões para o México combater a gripe, dos quais US$ 25 milhões seriam liberados de forma imediata, enquanto os outros US$ 180 milhões chegariam ao país no médio prazo.
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que a gripe suína deve ser considerada um "grande desastre para o México".
Nome
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a União Europeia (UE) decidiram parar de se referir a doença como gripe suína para evitar prejuízos maiores para a indústria de carne suína.
A OMS passa a se referir à doença como inflluenza A (H1N1), e a UE, nova gripe.
A comissária de saúde da UE, Androulla Vassiliou pediu nesta quinta-feira para que a população do bloco não entre em pânico, depois que outros dois países do bloco, Suíça e Holanda, confirmaram casos da doença.
A UE decidiu trabalhar "sem demora" em conjunto com a indústria farmacêutica para desenvolver uma vacina para a gripe suína. Vassiliou, disse que o bloco vai apresentar uma estratégia unificada de combate à gripe suína.
"Sem subestimar a seriedade da situação, acreditamos que estamos preparados para lidar com ela. Estamos preocupados, mas no controle, portanto não há motivo de pânico", disse ela.
A UE rejeitou um pedido francês de restringir viagens ao México, dizendo que cada país deveria decidir suas políticas individualmente.
Além de Holanda e Suíça (com 1 caso cada), a Espanha (13 casos), Grã-Bretanha (8), Alemanha (3) e Áustria (1) já confirmaram a doença. Dinamarca, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Polônia, Portugal e Suécia investigam casos suspeitos.
O diretor-geral para Políticas de Saúde e Consumo da União Europeia, Robert Madelin, alertou que o vírus causador da gripe suína poderia matar milhares de pessoas no continente.
"Não se trata de questionar se pessoas vão morrer, mas sim de quantas vão morrer. Serão centenas, milhares ou dezenas de milhares?", disse ele.
Mas correspondentes dizem que nenhum dos casos registrados no continente foi severo e as únicas mortes aconteceram no México e nos Estados Unidos.
Resto do mundo
O segundo país mais afetado, fora o México, é os Estados Unidos, onde há 111 casos confirmados em 13 Estados e onde houve a primeira vítima fatal fora do México, um bebê mexicano de 23 meses, que morreu no Estado do Texas.
A gripe suína foi confirmada em outros países como o Canadá (19 casos), Nova Zelândia (3) e Israel (2).
Nesta quinta-feira, o ministro da Saúde do Peru, Óscar Ugarte, que havia confirmado no dia anterior o primeiro caso de gripe suína no país, afirmou que exames posteriores não puderam confirmar que a paciente argentina Alejandrina Cocci tenha realmente a inflluenza A (H1N1), segundo a rádio peruana RPP.
Também nesta quinta-feira, o porta-voz do governo dos Estados Unidos, Robert Gibbs, informou que um dos funcionários da delegação americana que, junto com o presidente Barack Obama, visitou a Cidade do México, há cerca de duas semanas, teria apresentado sintomas da doença. Ele, no entanto, já teria se recuperado.
Segundo Gibbs, o funcionário também não teria tido contato próximo com o presidente Barack Obama.
Existem suspeitas de casos no Brasil (4 casos, três em Minas Gerais e um em São Paulo), Argentina, Austrália, Chile, Japão, África do Sul e Coreia do Sul.
Na quarta-feira, a OMS elevou o nível de alerta da gripe suína para cinco - um abaixo do estágio de alerta máximo da escala - e afirmou haver sinais de que uma pandemia da doença seja iminente. O nível cinco de alerta é acionado quando há transmissão da doença entre humanos em pelo menos dois países.
* Colaborou a redação da BBC Brasil em São Paulo
Fonte: BBC Brasil