Paixão Barbosa
Seria até engraçada, se não envolvesse tema tão sério, a tranquilidade com que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso desancou o Congresso Nacional, afirmando que o Parlamento brasileiro está "bambo" e "não representa mais nada", após tantas denúncias de descalabros e irregularidades surgidas nos últimos meses.
"Nosso sistema de representação, está bambo, não representa mais nada. Isso é visível, provocando um efeito de desmoralização extraordinário", disse FHC, em São Paulo, defendendo a mudança das regras eleitorais como forma de resolver a situação: "Nosso sistema eleitoral é ruim, se não mudarmos vamos ter a repetição de Congressos do mesmo tipo. A relação de quem vota e de quem é votado é tênue. Quem é votado se sente à vontade para não prestar contas".
Ele até tem razão nas críticas, mas considero engraçada a postura do ex-presidente porque ele parece esquecer que esteve à frente do governo federal durante oito anos e nada fez para corrigir a situação. Pelo contrário, suas lideranças políticas aproveitaram-se das fraquezas morais de parte do Congresso que hoje condena para garantir a aprovação do instituto da reeleição, que o beneficiou diretamente. À época, falava-se em rios de dinheiro correndo soltos entre a Esplanada dos Ministérios e o Congresso.
Agora, na oposição, é muito cômodo criticar, posar de moralista. Ele aposta no esquecimento crônico que tanto afeta os brasileiros e que faz a festa de políticos, especialmente dos ex-governantes.
Fonte: A Tarde