Marcelo Copelli
Grande parte da sociedade reclama do comprometimento das futuras gerações em virtude do descaso dos governantes. Alegam com justíssima razão que os representantes públicos não se empenham tanto quanto deveriam e conforme prometem durante suas campanhas. É fato. Entretanto, falhas que se repetem a cada gestão não justificam a omissão dos próprios reclamantes. A responsabilidade por mudar o cotidiano é de todos. Sem exceção.
Um caso que retrata tal descaso pode ser observado no fim das madrugadas cariocas, quando inúmeros jovens com idade entre 10 e 12 anos que insistem a todo custo se despir de seus traços e costumes ainda infantis, podem ser encontrados cruzando as ruas da cidade, vindos da curtição. Basta dar uma volta logo no início da manhã de um domingo qualquer, para se deparar com crianças em estado lamentável, bêbadas, fumando cigarros, acompanhando amigos de mais idade aos quais se miram em exemplos.
Por onde andam os seus responsáveis? Talvez em casa, mergulhados em agonia, aceitação ou indiferença. Evidentemente, não se trata de pregação contra a liberdade. À juventude se atrela o sabor da rebeldia e o tom de desafio. Mas, em tempos de violência e da consciência de que o perigo mora ao lado, todo cuidado e prevenção se fazem necessários. Só malhar as autoridades pelas estatísticas não vale. A orientação deve sempre começar pelo principal núcleo, a família. Se daí já começar envergado, fica difícil tomar o caminho reto.
Redução
A cada novo passo torto que a crise econômica dá, o que não falta é patrão com discurso decorado. É a tal flexibilização de direitos, a redução salarial e a necessidade de demissões. Isso, mesmo as organizações que registraram lucros recordes do último período. O maldito facão gira a mil por hora.
Protesto
Um dos casos mais expressivos é o da Vale, que pretende capar a metade dos salários de milhares de trabalhadores de Minas e Mato Grosso do Sul. E sem garantir os empregos. A galera que mete a mão na massa, entretanto, promete que não engolirá esse sapo. No próximo dia 11, às 12h, será realizada uma grande manifestação em frente à sede da empresa, no Centro do Rio. Os trabalhadores não estão nem um pouco dispostos a segurar os custos da crise. Batata quentíssima.
Promessa
Os concursados do Detran/RJ se reunirão, hoje, com o deputado Paulo Ramos (PDT) para organizar uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O motivo exemplifica a quantas anda a administração do órgão. O presidente do Detran, Fernando Avelino, assumiu o departamento no fim de 2008, passou janeiro de férias e deixou só na promessa a posse dos aprovados no concurso.
Na mão
Essa galera foi convocada em novembro e, às pressas, fez perícia médica para tomar posse. Cerca de 80 pessoas pediram demissão de seus empregos diante da garantia do setor de Recursos Humanos de que todos começariam a trabalhar já na primeira semana deste ano. Mas até agora, nada.
Inconstitucional
O Sindicato dos Servidores do Detran afirma que mais de 4 mil terceirizados ocupam cargos no órgão, o que representa cerca de 90% dos funcionários. O intrigante é que o limite constitucional é de 20%. Tremendo abacaxi.
Orelha em pé
Os ambulantes do Centro do Rio, mais do que nunca, trabalham com um olho no peixe e outro no gato. Virou rotina. Com o "choque de ordem" da nova gestão municipal, os camelôs não abandonaram seus postos, mas se mostram de orelha em pé a cada movimentação diferente. Na última semana, mais de dez se espalhavam com suas mercadorias genéricas em um trecho da Avenida Presidente Vargas, quando a Guarda Municipal apontou em uma das esquinas.
Agilidade
O primeiro que viu tratou logo de alternar entre gritos e apitadas que o "rapa" estava chegando. Foi uma correria de dar inveja a qualquer velocista. Os desavisados logo trataram de defender seus pertences ao confundir o movimento com um provável arrastão. É a tal conversa, pode ser até admissível que o cassetete tenha força suficiente para quebrar a presa ao meio. Mas, antes, é preciso agarrá-la.
De fora?
E, por falar no tal choque, grande parte da Zona Oeste da cidade parece ainda fora dos planos das atividades. Além dos ambulantes locais estarem bem mais à vontade nesse sentido, em determinadas regiões, condutores deitam e rolam na ilegalidade. Pau que dá em Chico, nem sempre dá em Francisco, pelo jeito.
Ilegalidades
Em Jacarepaguá, diversos motociclistas circulam sem placas ou pudor. Por acaso, exatamente próximo às comunidades dominadas por grupos paramilitares. E ainda tem político com reduto nessas áreas que jura de pé junto que nunca ouviu falar em desordem ou milícias. Por lá, a coisa continua correndo solta. Será que o Rio ficou reduzido ao Centro, Tijuca e Zona Sul?
"Flanelinha"
Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei do deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que torna crime a cobrança habitual para vigiar veículos estacionados em vias públicas, normalmente praticada por "flanelinhas". Segundo o texto, a prática deve ser enquadrada no crime de extorsão indireta cuja pena prevista no Código Penal é detenção de um a três anos e multa.
Garantia
O petista afirma que é preciso impedir que os motoristas tornem-se "reféns da ação injustificada e desordenada de guardadores clandestinos que controlam as vias públicas sem possuir qualquer autorização do poder público". O problema vai ser ver polícia na rua assegurando que os motoristas não continuem sendo alvos dos malandros.
Rapidinho
Quanta ironia. Enquanto o deputado federal Edmar Moreira (DEM-MG) levou anos para construir um castelo avaliado na base dos milhões de dólares, em poucas horas, um vendaval sobre o assunto, foi capaz de desmontar a carreira política do democrata.
Interesse
Corre à boca miúda que enquanto a atenção nacional passava tal e qual um trator sobre a imagem de Moreira, não faltava gente lá dos andares mais elevados, interessadíssima em saber que foi o autor do projeto arquitetônico que traz intrínseco uma mistura de contemporaneidade com o passado de forma suntuosa. Ou seria, acintosa?
Fonte: Tribuna da Imprensa