sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Fraude no INSS pode ter beneficiado prefeito

Mário Bittencourt, da sucursal Eunápolis
>>Vice-prefeito de Alcobaça é preso
A fraude no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) de Alcobaça (821 km de Salvador), extremo sul da Bahia, cujos principais acusados foram presos na quarta-feira, dia 4, durante a Operação Espantalho, da Polícia Federal (PF) , pode ter contribuído para eleger o prefeito do município Leonardo Coelho Brito (PMDB).O gestor nega favorecimento e afirma que pouco conhece o seu vice, Ademar Santos Botelho, apontado pela PF como líder da quadrilha. “Eu conheço pouco Ademar. Ele foi escolhido durante a convenção e só sei que ele é ligado ao sindicato rural”, declarou, pouco depois de Botelho, filiado ao PSL, ter sido preso em casa.O delegado federal Maurício Salim, que comandou a operação, informou que, durante as investigações, iniciadas há 9 meses, não detectou nada que ligasse a fraude com as eleições do ano passado. “Não há nada nesse sentido, por enquanto. Mas estamos dando continuidade às investigações e fatos novos podem surgir”, disse.Salim observa, porém, que o prefeito de Alcobaça pode ter sido favorecido com a fraude pelo fato de Botelho ser o líder da quadrilha e de o ex-vereador Jacinto Silva (também preso), estar envolvido. “Há um viés político por trás da fraude”, sugeriu o delegado, informando que no interrogatório os acusados ficaram calados.ROMBO – Foram descobertos, até o momento, cerca de 500 benefícios irregulares, concedidos nos últimos cinco anos. O rombo na previdência, por enquanto, é de R$ 200 mil. O delegado Maurício Salim informou que outros benefícios estão sendo analisados. “Os que estiverem irregulares serão cancelados”, disse Salim.O esquema foi descoberto a partir do momento em que pedidos de aposentadoria negados pelo INSS de Caravelas – município vizinho a Alcobaça e distante 847 km de Salvador – iam para a Justiça e os interessados em recebê-los apresentavam na defesa os mesmos documentos que tinham mandado para o órgão federal.“Os funcionários da Justiça desconfiaram dos documentos e vimos que eram falsos”, relatou Salim. No esquema – explica – eram forjadas relações trabalhistas rurais, comodatos e notas fiscais, com o intuito de conseguir aposentadorias. Quando o benefício era adquirido, os líderes da quadrilha recebiam de 5% a 10% do valor.Os benefícios eram feitos com data retroativa e quando chegavam eram pagos valores altos, segundo as investigações da PF, que apurou ainda que havia funcionários dos INSS de Caravelas que facilitavam a fraude. A PF descobriu também que as notas fiscais, emitidas para comprovar que o falso beneficiário tinha ligação com o meio rural, eram de uma empresa fantasma, do vice-prefeito Ademar Botelho.BUSCAS – Dentre os locais de busca e apreensão da PF, está a casa do gerente do órgão federal em Caravelas, Ancelmo Tadeu Vilas Boas, e do vigilante Tomé Gomes Trindade. Segundo Vilas Boas, foram tirados encaminhamentos de aposentadorias da sua casa, mas ele negou participação na fraude. A PF fez buscas também na casa de Tomé Trindade, de onde levou vários documentos para análise.Ao todo, foram apreendidos 14 malotes de documentos e três máquinas de datilografar que estavam no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alcobaça (Sintra) e seriam usadas para falsificar os documentos. Da Operação Espantalho participaram a PF, o Ministério Público Federal (MPF) e a Força Tarefa Previdenciária. Quatro mandados de prisão e sete de busca e apreensão foramcumpridos.Além do vice Ademar Botelho e Jacinto Silva, que era secretário do Sintra, estão presos Manoel Madeira (presidente do sindicato) e Maria Aparecida Madeira (secretária e filha de Manoel). Eles estão na 1ª Delegacia Circunscricional de Porto Seguro e não quiseram dar declarações à imprensa.Renderson Feitosa, advogado que está fazendo a defesa de Jacinto, Manoel e Maria Aparecida, disse que provará a inocência dos seus clientes. “Eles não falsificaram documentos. Se houve crime, foi político. Não tinha necessidade de a polícia fazer essa operação”, afirmou o advogado. A TARDE tentou contatos com a advogada do vice-prefeito, de prenome Rosa, mas não obteve sucesso.
Fonte: A Tarde