terça-feira, fevereiro 24, 2009

Chuva, suor e muito beijo na boca

Nem mesmo a chuva fina no começo do percurso conseguiu esfriar a animação dos fãs de Claudia Leitte no seu primeiro dia na avenida, puxando o bloco Os Intternacionais, no tradicional circuito do Campo Grande. Ela levou a multidão ao delírio com sucessos como Bola de Sabão e Exttravasa e decretou o momento máximo da folia com o convite para que os foliões e fãs estabelecessem um novo recorde de beijos na boca, inspirados em seu novo sucesso, Beijar na Boca, o hit do verão em todo o Brasil.
Sucesso que já lhe valeu os prêmios maiores da folia concedidos pelas duas maiores emissoras AM e FM da Bahia – Radio Sociedade e Piatã FM. Era a consagração que faltava para fazer de Beijar na Boca o tema desta folia.
Se recorde bateu ou não está cedo para saber, mas a iniciativa serviu para mostrar que a Bahia faz o mais ordeiro e animado Carnaval do Brasil. Acionada pela produção da cantora, a PM designou um oficial de alta patente, o major Pita, para estimar o público presente para a partir daí poder se mensurar se houve ou não recorde. Imagens foram congeladas com a multidão se beijando, não só no Campo Grande mas em toda a Avenida Sete, até onde o som do trio e o apelo de Claudia chegava.
Aliás, a avenida fez uma festa especial para a nova musa da música baiana. Sacadas foram improvisadas de camarote e por onde ela passava a animação reinava absoluta. Bandeiras tricolores se incumbiam de aproximá-la ainda mais da grande nação tricolor, exultante com o time em campo, líder invicto do Campeonato Baiano e com a performance da musa e madrinha do clube.
E nesse clima de cumplicidade ela levou seu bloco pela avenida vestindo um lindo modelito dourado, simbolizando as ilhas gregas, criação do estilista paulista Waldemar Iódice. Um show a mais na avenida, ressaltando o corpo surpreendentemente sarado para uma mamãe de menos de cinco semanas.
Mamãe tão precoce que nas imediações da Piedade ela teve de interromper o desfile por uns 10 minutos para com a ajuda de um equipamento especial realizar uma espécie de ordenha mecânica já que os seios teimavam em vazar e, cheios, a pesar cada vez mais.
Ordenha feita, ela voltou ao palco para invadir a noite com a mesma energia da largada, já se preparando para a grande jornada de hoje, puxando o Bloco da Barra, no circuito Barra-Ondina, e tendo como atração maior os big brothers Mirla e Ralf.



Nada se compara ao Carnaval no centro da cidade



Aqui não existem camarotes suntuosos. O luxo fica por conta de uma velha freezer na sala ou um latão com cerveja gelada coberta com barras de gelo e papel jornal para ajudar a conservar. Velhas sacadas viram camarotes. Becos e ruelas são camarotes privilegiados do povão, com direito a espetáculo duplo, quando um trio cruza com o outro – um na Avenida Sete, outro na Carlos Gomes.
Foram mais de cinco horas, quase seis, mas que ficaram marcadas como as mais divertidas e intensamente vividas por Claudia Leitte neste Carnaval. O centro velho de Salvador recebeu a musa do beijo na boca com um carinho sem tamanho. Aqui os acenos são efetivamente sinceros, os beijos jogados parecem estalar no rosto tamanha a intensidade e o amor de quem os envia. Os olhares trocados refletem um misto de alegria e gratidão do encontro do fã com o ídolo que quase invade sua casa tão curta é a distância entre as sacadas e o trio.
"Claudinha, que Jesus ilumine seus passos" diz um cartaz improvisado numa amarelada folha de cartolina sacudida numa sacada empoeirada onde crianças de 5 a 10 anos se espremem com os olhinhos grudados na musa apenas na espera de um aceno, um beijo, quem sabe. Alguns metros adiante o cartaz já fala em Deus, pede que Ele a conserve e proteja e a Davi também.
Claudia se emociona, a testa franzida reflete o quanto difícil está sendo conter o choro. Respira fundo, procura uma música bem agitada para repor as forças para mais tarde admitir:
- Nada, absolutamente nada se compara a puxar um trio na avenida. É o momento mais maravilhoso dessa festa e se puder, ano que venho quero sair pelo menos dois dias na avenida. Aqui está a raiz da baianidade, está meu povo. Aqui as torcidas do Bahia e do Vitória se dão as mãos num Carnaval da paz e da alegria e os rostos parecem mais puros.
Uma chuva de papel picado cobre o trio quase que com a intensidade do temporal que desabou no início da festa. Ela contempla a saudação que vem do alto, de anônimos foliões que passaram dias para produzir aquela montanha de papel picado, momento tão especial na vida de um artista, só visto no velho Centro Histórico de Salvador.
Você é nossa diva. Não esqueça nunca da gente – diz mais um cartaz estendido por duas garotas que aparentam ter se muito 10 anos. Foi rabiscado por elas revelam os traços das letras. As pequenas fãs fazem de tudo para chamar a atenção de Claudia que afinal enxerga aqueles dois pontinhos quase que perdidos no meio da multidão e lhes joga um beijo. O script de mais uma história de amor e paixão entre fã e ídolo está completo. Elas se abraçam como se a comemorar um feito inédito. Um presente divino. Uma começa a chorar, a outra acompanha. Claudia desvia os olhos procurando força para não chorar. Assim se escreve mais uma página do Carnaval de Salvador.
Um Carnaval onde musas e fãs dividem a mesma emoção.(por Paulo Roberto Sampaio)

Fonte: Tribuna da Bahia