Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA – Missão impossível? Insignificante ou ridícula? Tanto faz, mas a verdade é que Celso Amorim bem que poderia estar aproveitando a semana para descansar em Fernando de Noronha ou para visitar o Paraguai, transformando em diálogos produtivos a argumentação enviada por escrito a Assunção, em defesa dos fazendeiros brasileiros lá instalados.
A presença do ministro das Relações Exteriores no Oriente Médio, iniciada ontem, insere-se no rol das iniciativas inócuas, além de insossas e inodoras. Mais do que passar despercebida pela imprensa internacional, constitui-se em incômoda perda de tempo para as autoridades israelenses, palestinas e outras.
Três objetivos impossíveis de alcançar seguiram na bagagem do chanceler: sugerir a realização, no Brasil, de uma conferência internacional reunindo representantes dos países, nações ou povos em conflito armado naquela região; apaziguar a ira de Israel diante da nota oficial do PT e das declarações do assessor especial Marco Aurélio Garcia, comparando os judeus aos nazistas; e indagar como seria recebida a visita do presidente Lula à Faixa de Gaza e a Jerusalém.
A primeira iniciativa é absurda. Nossa zona de influência não vai até o Oriente Médio. No caso de aceita a proposta, ninguém mandaria para cá mais do que um quinto secretário ou um funcionário burocrático de última categoria. A segunda é inviável, pois o governo israelense custará muito para absorver o agravo. A última é humilhante, já que o presidente brasileiro dificilmente obteria licença de Israel para ingressar no território palestino e correria o risco de ser recebido com agressividade no Parlamento judeu.
Em suma, uma incursão desnecessária que se ouve nos corredores do Itamaraty teve como objetivo maior evitar a ida do “chanceler do B” à zona conflagrada...
Quem paga a conta?
A compra de 49,9% do Banco Votorantin pelo Banco do Brasil demonstra, mais uma vez, a diferença de tratamento que o governo dos trabalhadores dedica aos potentados, de um lado, e aos cidadãos comuns, de outro. Esse auxílio singular de bilhões de reais para evitar a falência da instituição dedicada a financiar a aquisição de casa própria não beneficiará em um centavo os compradores inadimplentes. Quem continuar não podendo pagar o imóvel adquirido irá perdê-lo, conforme as leis do mercado. Já o banco, se salva da bancarrota com dinheiro público.
Na esteira do dr. Ulysses
Reforçado com a promessa de mais de 420 votos, entre 513, para levá-lo à presidência da Câmara, o deputado Michel Temer ameaça rever decisão tomada e anunciada anteriormente. Sua estratégia, quando ainda costurava o apoio dos colegas, era eleger-se a 2 de fevereiro e um dia depois licenciar-se da presidência do PMDB, entregando-a à vice-presidente, Íris Araújo, e, dentro de três meses, convocar uma convenção do partido para a eleição de um presidente definitivo.
Com isso, garantiria os votos da totalidade da bancada peemedebista, apaziguando grupos e setores que ameaçavam não votar nele caso imaginasse repetir o dr. Ulysses, que, além de presidir o PMDB, presidiu a Câmara e, de lambuja, a Assembléia Nacional Constituinte.
Além da deputada Íris Araújo, almejavam a presidência definitiva do partido o deputado Eliseu Padilha, o ex-presidente Paes de Andrade, o senador Romero Jucá e o deputado Eunício Oliveira.
Consolidada sua candidatura e sua provável vitória esmagadora, Michel Temer estaria revendo planos. “Se o dr. Ulysses pode, porque eu não posso?”
Ele estaria examinando a hipótese de nem licenciar-se da presidência do PMDB, ou, no máximo, licenciar-se, mas retornar três meses depois, acumulando as duas funções sem convocar a convenção. Até porque, Eliseu Padilha parece fora do páreo, depois que o procurador geral da República pediu a abertura de seu sigilo bancário, enrolado que está numa série de processos por malversação de recursos públicos. Paes de Andrade também desistiu de concorrer, abrindo mão para a indicação de seu genro, o deputado Eunício Oliveira, que por sua vez jamais agirá contra Michel Temer.
Quanto a Íris Araújo, ex-mulher do prefeito de Goiânia, Íris Resende, nada fará capaz de prejudicar a candidatura do ex-marido outra vez a governador de Goiás. Se insistir em empalmar a presidência definitiva, contribuirá para rachar o PMDB goiano.
Só há um problema: o dr. Ulysses era único...
Incógnita no Senado
Enquanto isso, no Senado, permanece a incógnita: caso Tião Viana cumpra a decisão de permanecer candidato, até mesmo se perder o apoio do presidente Lula, como reagirá José Sarney, que já admite ser candidato, mas desde que de consenso, sem disputar com ninguém?
Ainda que Tião Viana não venha a dispor de mais de vinte votos, iria bater chapa com Sarney, coisa que o ex-presidente da República não admite, ao menos por enquanto. Por mais estranho que pareça, para o presidente Lula a ida de Sarney para a presidência do Senado favoreceria mais o governo do que a eleição de Tião Viana, apesar de ele pertencer ao PT. Recente carta do senador pelo Acre a seus colegas irritou Lula, pois no texto seu companheiro declara-se adversário das medidas provisórias. Seria capaz, até mesmo, de imitar o atual presidente, Garibaldi Alves, devolvendo uma delas ao Planalto.
Quanto a Garibaldi, é candidato a permanecer no cargo, se a Justiça não vier a proibi-lo e, em especial, de por uma dessas voltas que a política dá José Sarney não se candidatar. A disputa, então, seria entre ele e Tião Viana.
Fonte: Tribuna da Imprensa