Em sua volta à política, a ex-governadora do Rio Rosinha Matheus (PMDB) encontrou um cenário dramático no reduto onde ela e o marido, o ex-governador Anthony Garotinho, iniciaram suas carreiras. Ao assumir a prefeitura de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, Rosinha encontrou repartições às escuras, carros oficiais parados por falta de combustível e telefones desligados. O caos é fruto das dívidas de cerca de R$ 200 milhões com fornecedores que a prefeita diz ter herdado do antecessor, Alexandre Mocaiber (PSB), adversário do casal Garotinho.
Além das dificuldades financeiras, Rosinha assumiu a prefeitura há dez dias em meio a uma das piores enchentes dos últimos anos, provocada pela chuva que deixou centenas de desabrigados e não poupou nem mesmo o gabinete dela. Com o prédio da prefeitura deteriorado, a sala de Rosinha sofre com infiltrações.
Diante das irregularidades que diz ter encontrado, Rosinha pediu auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em todos os órgãos da prefeitura. Ela determinou a revisão de contratos e o recadastramento de servidores, mas seus primeiros decretos não puderam ser publicados no Diário Oficial do município, porque a cidade, desde o dia 1º, não tinha mais uma empresa contratada legalmente para rodar a publicação.
Rosinha venceu o deputado Arnaldo Vianna (PDT-RJ), apoiado por Mocaiber, na eleição do ano passado. Desde o pleito, se queixa de falta de informações da gestão anterior. Os dois grupos políticos, que já foram aliados, disputam o poder na cidade numa sucessão de escândalos que levou até à anulação da eleição municipal de 2004.
A penúria de Campos não combina com os números do Orçamento da cidade, a maior beneficiária dos royalties e participações especiais da exploração de petróleo na Bacia de Campos. O orçamento aprovado para 2009 é de pouco mais de R$ 1,5 bilhão. Cerca de 80% da receita do município vem do petróleo, mas governo de Rosinha já estima em 30% a redução da receita dos royalties este ano com a queda do preço do barril e a crise mundial. A cidade usa mal a riqueza do petróleo destinando boa parte dos recursos à contratação de mão-de-obra. Rosinha disse ter encontrado 60 pessoas lotadas apenas em seu gabinete. No ano passado, a Justiça determinou a demissão de 40% dos terceirizados.
Apesar das dificuldades, a prefeita determinou uma série de medidas para cortar gastos e reorganizar a administração para implementar logo promessas de campanha, como a passagem de ônibus a R$ 1, prevista para maio, e a construção de casas populares, com licitação de duas mil unidades marcada para fevereiro.
"Este ano vai ser de levantamento e preparação do terreno para reconstruir a cidade", prometeu Rosinha, que tomou posse com direito a desfile em carro aberto ao lado do marido. "Estou começando do zero, tendo que trocar combustível com o avião no ar. Preciso de um tempo e sei que a população vai me dar."
Algumas faturas não lhe dão muito tempo. Para evitar mais cortes de energia e restabelecer o fornecimento em um museu e no Mercado Municipal, Rosinha teve que se comprometer com a concessionária Ampla a pagar ainda em janeiro 50% da dívida de R$ 4,4 milhões referente ao consumo da prefeitura em 2008, cujas contas não foram pagas por Mocaiber. Procurado, o ex-prefeito não foi encontrado. Segundo empregados, ele está viajando.
Depois de deixar o Palácio Guanabara, Rosinha havia decidido abandonar a política, mas foi convencida por Garotinho a disputar em 2008. A reconquista da prefeitura de Campos deu novo fôlego a Garotinho, que foi prefeito da cidade duas vezes, governador do Rio e candidato a Presidência, mas vive no ostracismo desde a eleição do governador Sérgio Cabral (PMDB), de quem diverge no partido como presidente regional.
Na capital, onde comanda um programa de rádio popular, Garotinho elegeu a filha, Clarissa Matheus, para o primeiro mandato de vereadora aos 26 anos. Ela será líder do PMDB na Câmara.
Fonte: Tribuna da Imprensa