Tribuna da Bahia Notícias-----------------------
O tensionamento entre o PT e o PMDB, partidos que inegavelmente medem forças na política baiana, foi confirmado ontem na Lavagem do Bonfim. Sem a menor aproximação, nem mesmo da Basílica da Conceição da Praia, onde as autoridades participam de ato pela paz – o governador Jaques Wagner, não se sabe por que motivo, nem sequer chegou perto –, pode-se afirmar que as siglas caminharam em lados opostos. O PT e sua comitiva, como de costume, saíram na frente, seguidos pelo Afoxé Filhos de Gandhy, e somente após uma distância significativa da militância petista o PMDB deu a partida. Reforçando o fato, o deputado federal Nelson Pelegrino, do PT, não hesitou em afirmar que, levando em consideração a eleição da Mesa Diretora na Câmara Municipal, onde o PT ficou de fora, aliado à movimentação do PMDB com o DEM, “chegou a hora de o PT sentar-se à mesa com o PMDB e discutir 2010. “Ou seja, mudar o jogo para que não haja retrocesso”, enfatizou, ressaltando que essa conversa poderia envolver até mesmo o Executivo municipal. Quando o assunto é o rompimento com o partido liderado pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, o governador Jaques Wagner, embora continue preferindo minimizar a polêmica, vai mais além. Segundo ele, o PMDB é mais do que aliado, faz parte do governo. “Temos dois secretários da legenda que integram a nossa equipe e, assim como sento com os integrantes do meu partido, sento com eles também. O que as pessoas precisam entender é que política tem e sempre terá tensão e negociação, entretanto, posso assegurar que para mim o que está em pauta agora é uma agenda de extenso trabalho para 2009 e eu não vou ficar refém de 2010”, disparou, rodeado de “baianas” e centenas de militantes petistas. Questionado sobre o seu posicionamento em relação à disputa pela presidência na Assembléia Legislativa da Bahia, o governador endureceu o discurso e declarou não ter como ficar de fora deste processo, pois se trata de dois Poderes do Estado – Executivo e Legislativo – que se complementam e se ajudam. “E pensando por esse lado, não tenho como apoiar Elmar Nascimento, que a meu ver é um candidato de oposição. Portanto, continuo marchando com Marcelo Nilo, que durante esses dois anos se mostrou capaz de conduzir o parlamento de forma independente e com resultados bastante positivos tanto para a própria Assembléia como para o Estado”, disse, ressaltando que a disputa não deve ser o ponto de articulação da oposição. “Pois, não é bom para o funcionamento do Estado”, complementou. No que diz respeito, aos embates na Câmara Municipal e União das Prefeituras da Bahia (UPB), o governador reiterou que prefere ficar de fora. Contudo, no que depender do vereador petista recém-eleito Henrique Carballal, o PT não abrirá mão de entrar na disputa. “E, principalmente, não vamos permitir que o DEM, que tem ‘know how’ em aplicar golpes, saia vitorioso”, atacou, ressaltando que o democrata Paulo Magalhães Jr. já se autoproclamou presidente. “Não tem sequer humildade de se classificar como deve, que é presidente interino”. De acordo com ele, o ministro e o prefeito têm responsabilidade nesse processo, “afinal são aliados do DEM” e precisam se posicionar sobre o assunto. “Caso contrário, nós nos posicionaremos não apenas do ponto de vista político e jurídico, mas convocaremos toda a nossa militância, e isso só tende a sangrar a Casa”, concluiu. (Por Fernanda Chagas)
Democratas sai na frente do governador
O Democratas inovou ontem a sua participou na Lavagem do Bonfim. O pelotão oposicionista comandado pelo ex-governador Paulo Souto e pelos deputados federais ACM Neto e José Carlos Aleluia saiu na frente da comitiva oficial do governador Jaques Wagner (PT). O bloco contou também com o senador César Borges, presidente estadual do PR, além de outros parlamentares, lideranças e correligionários dos partidos aliados. Concentrados no Segundo Distrito Naval, eles saíram antes das 9 horas, sendo bastante saudados por populares durante a caminhada. “Tudo isso é muito emocionante. Esta é uma festa que leva uma mensagem de paz ao mundo inteiro. É o momento de fé do povo baiano, de sincretismo e de respeito às diferenças”, declarou o deputado ACM Neto, um dos mais solicitados durante a caminhada. Neto ouviu vários eleitores que votaram nele na eleição passada pedirem para que continue a sua luta em defesa dos interesses de Salvador. “Vamos continuar trabalhando muito por Salvador no Congresso, buscando, inclusive, ajudar o prefeito João Henrique Carneiro naquilo que for bom para a cidade”, declarou. ACM Neto também falou sobre a polêmica envolvendo a sucessão de Alfredo Mangueira (PMDB), que renunciou na última sexta-feira à presidência da Câmara de Vereadores. O democrata disse que a Procuradoria Geral da Casa vai dar a posição final sobre o assunto. Ele garantiu que o seu partido vai fazer tudo dentro da legalidade, respeitando o regimento da Câmara. “Se por acaso a gente chegar à conclusão de que deve haver uma nova eleição, vamos sentar com o PMDB para decidir o que fazer”, ponderou. “Mas nós estamos tranqüilos, aguardando uma definição jurídica do processo. Acho que os demais partidos deveriam fazer o mesmo”, acrescentou. Nesta mesma linha, o ex-governador Paulo Souto disse que os democratas ainda acreditam num acordo com o PMDB para manter o vereador Paulo Magalhães Júnior na presidência da Câmara Municipal de Salvador. Souto disse que vê com naturalidade a pretensão de Magalhães querer continuar no comando da Casa. Como argumento, ele lembrou que o DEM faz parte da base aliada do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB). Por volta das 12h30min a comitiva chegou à Colina Sagrada. Um pequeno incidente envolvendo a tropa montada da PM chegou a irritar alguns oposicionistas, que foram proibidos de avançar até a Igreja, mas o deputado federal ACM Neto e o senador César Borges conseguiram chegar até lá.(Por Evandro Matos)
Velhos discursos voltam com partidos diferentes
O discurso outrora sustentado por partidos como o PT, PSB e PCdoB não lhes pertence mais. Agora, as questões sociais, como a fome, violência, educação, guerra e crises econômicas, estão nas bandeiras do PSOL, PSTU e PDT. Ontem, durante o cortejo do Bonfim, isso ficou evidenciado na avenida. Mas a manifestação popular e religiosa trouxe ainda protestos de sindicatos e grupos excluídos. Logo em frente ao Mercado Modelo, uma enorme faixa reclamava contra o recente aumento na passagem de ônibus em Salvador. “Transporte é um direito, não uma mercadoria”, dizia a mensagem. Surpreendentemente, o PSTU apareceu no cortejo com um discurso mais agressivo e com uma maior presença de pessoas do que o PSOL, partido que disputou a última eleição municipal com o candidato Hilton Coelho e tem a ex-senadora Heloisa Helena como a sua principal estrela. O PSTU trouxe faixas em defesa da estabilidade do emprego, um alerta sobre a crise econômica e a defesa do povo palestino. “Nenhuma demissão” e “Que os ricos paguem pela crise”, diziam algumas faixas. “Estamos aproveitando para divulgar com os trabalhadores sobre a crise. O que Lula disse que era uma marolinha é um tsunami”, declarou Lucas Ribeiro, do diretório de Salvador. Mas o PSOL, com uma manifestação mais tímida, também protestou. “Fora Israel. Palestina livre”. Com esta faixa os militantes do partido romperam a caminho da Colina Sagrada. Contudo, não faltaram protestos também sobre as questões locais. O polêmico PDDU, um dos principais temas explorados por Hilton Coelho durante a sua campanha pela prefeitura de Salvador em outubro de 2008, também foi ostentado numa das faixas carregadas pelos militantes do partido de Heloisa Helena. (Por Evandro Matos)
Candidatos a presidente da Câmara prometem autonomia
A menos de 20 dias para a eleição da presidência da Câmara, os quatro deputados que brigam para chegar ao comando da Casa adotaram estratégias e discursos semelhantes. Nas conversas e nos telefonemas que disparam aos colegas, Michel Temer (PMDB-SP), Ciro Nogueira (PP-PI), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Osmar Serraglio (PMDB-PR) prometem recuperar a autonomia do Congresso. As plataformas de campanha dos candidatos lançam bandeiras contra interferências do Legislativo, com a edição das medidas provisórias, e do Judiciário, que estaria legislando em muitos casos. Por outro lado, evitam falar de questões incômodas aos parlamentares que possam significar a perda de votos, como a reforma tributária e nepotismo. No corpo-a-corpo por votos, um dos temas mais recorrentes é a fidelidade partidária. Aos colegas eleitores, os candidatos prometem colocar em votação um projeto do deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) que flexibiliza as regras sobre a filiação partidária. Os quatro reconhecem o entendimento do Judiciário de que o mandato pertence aos partidos, mas defendem uma regra que permita ao parlamentar escolher se quer mudar de legenda após três anos de eleito. “É preciso encontrar uma forma de cumprir a regra, sem engessar o parlamentar”, disse Ciro. Os deputados também demonstram a seus eleitores que seguem a mesma linha em relação às medidas provisórias. O próximo presidente da Casa terá que articular a votação do segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que muda o rito de tramitação das MPs. “É imprescindível terminar esta votação. Esta bandeira se tornou questão de honra para o Congresso. O Executivo precisa ter consciência de que medida provisória é questão de urgência e relevância e não um instrumento para ser utilizado a toda hora”, disse Aldo.
Fonte: Tribuna da Bahia