Emanuella Sombra e Patrícia França
Fernando Vivas / Agência A TARDE
Segurança do prefeito agrediu adolescente que protestava contra aumento da passagem do ônibus
>>Governador minimiza agressão
A participação do prefeito João Henrique (PMDB) na Lavagem do Bonfim, na quinta-feira, 15, foi marcada por um episódio que terminou em tiroteio e agressão a um adolescente. Sem cumprir o percurso completo, João Henrique preparava-se para sair em comitiva pela Rua Estado de Israel, quando um de seus seguranças agrediu o estudante do Colégio Oficina Luiz Eduardo Colavolpi, 17, que sofreu um corte no rosto. O segurança fugiu no carro onde estaria o prefeito, um Focus preto, cuja placa foi arrancada.
A confusão começou na altura do Túnel Américo Simas, quando João Henrique foi vaiado por populares. Mais adiante, um grupo de estudantes se posicionou atrás da comitiva, que era fotografada por jornalistas, protestando contra o aumento da tarifa do ônibus.
Segundo os estudantes, o segurança – de porte atlético, trajando camiseta rosa e calça jeans – tentou arrancar a faixa das mãos de Eduardo, que resistiu e foi esmurrado.
“Só me lembro quando eu já estava no chão”, disse Eduardo, antes de prestar depoimento na 3ª Delegacia do Bonfim e tomar três pontos na bochecha. A TARDE não presenciou o momento da agressão, mas viu quando o segurança, fugindo sob gritos de “segura”, tentou entrar num táxi e teve a arma apontada para a cabeça por um policial à paisana. “Um outro disse assim: libera, libera que é P2 (serviço de inteligência da PM)”, presenciou o estudante Gilcimar Brito, 22. Em meio ao tumulto, foi efetuado um disparo. Um Focus preto – modelo igual ao carro que A TARDE, minutos antes, identificou João Henrique no banco da frente – resgatou o segurança no final da rua. Após o agressor entrar no carro, um homem arrancou a placa do veículo, fato também presenciado por amigos de Eduardo. “Ele escondeu na roupa”, relatou Anderson Alves, 18, para quem “na hora da agressão, o prefeito entrou no Focus e nem olhou para trás”.“Eu vi quando ele (João Henrique) entrou, era o mesmo carro”, relatou Jean Sacramento, 29, presidente da Ordem dos Acadêmicos de Direito da Bahia (OAD).Contestação – Em nota, a Assistência Militar da prefeitura lamentou o incidente “envolvendo um segurança contratado para reforçar o apoio dado ao prefeito João Henrique durante os festejos”. E negou que o carro tenha sido o mesmo em que João Henrique saiu do cortejo.“No momento em que João Henrique se dirigiu ao carro que o aguardava, o grupo tentou furar o esquema de segurança. A partir daí se deu confusão, com o segurança sendo agredido com um pontapé. Nessa altura, com os ânimos alterados, o segurança revidou a agressão do manifestante”, acrescentou. De acordo com a nota, o disparo, para o alto, teria sido efetuado por “um policial civil, pertencente ao grupo do delegado Arthur Gallas”.Esquerda cega – O prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) lamentou o incidente envolvendo um segurança da sua equipe e um estudante, mas acusou os manifestantes de serem ligados “ao radicalismo de uma esquerda cega que tem a genética da guerrilha”.Por meio de nota distribuída pela Secretaria de Comunicação, João Henrique disse que vai apurar o fato, mas não deixou de criticar o grupo de manifestantes que, afirma na nota, são ligados a partidos políticos derrotados nas últimas eleições. “As eleições já passaram, saber perder é muito importante. Ao invés de tentarem promover a baderna, eles deviam amadurecer”, reagiu o prefeito. “Não é justo que partidos políticos ligados ao radicalismo de uma esquerda cega tentem promover a violência. São partidos que nasceram para fazer oposição sem razão, não têm competência para governar. Têm a genética da guerrilha e não vão evoluir jamais". O prefeito reconhece o protesto como ato democrático, mas diz que as agressões e o desrespeito não podem mais fazer parte da vida de Salvador em pleno século XXI. “Uma coisa é certa: podem até tentar, mas não vão atrapalhar o grande trabalho que a prefeitura fará pela cidade daqui para frente”, pontuou. O deputado federal Nelson Pelegrino (PT), que antes do cortejo participou, ao lado do prefeito João Henrique, do culto ecumênico no adro da Igreja da Conceição da Praia – no qual foi exaltada a paz entre os homens –, disse lamentar que o prefeito atribua aos partidos da oposição todas as críticas a seu governo: “O discurso do prefeito me lembra os mesmos discursos que ouvia na época em que eu era estudante e combatia o regime militar”.
Fonte: A Tarde