CIDADE DE GAZA e PARIS - O governo de Israel disse que é bem-vinda a proposta feita pelo Egito e pela França, ontem, para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, mas também deu luz verde para seus militares ampliarem as operações no território palestino, em seu assalto contra o grupo islâmico Hamas. Israel disse que precisa garantir que qualquer cessar-fogo irá acabar com o lançamento de foguetes e evitará o rearmamento do Hamas. Já o Hamas pede que os cruzamentos na fronteira da Faixa de Gaza com Israel e o Egito sejam reabertos. O Hamas rejeita o envio de tropas internacionais de paz para a região, algo que está na proposta da França e do Egito.
No começo da noite de ontem, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse que os Estados unidos apoiam a proposta franco egípcia para uma trégua na Faixa de Gaza. O embaixador do Egito na Organização das Nações Unidas (ONU) disse na noite de ontem que representantes de Israel, da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e do grupo islâmico Hamas concordaram em se reunir amanhã no Egito para discutir a crise na Faixa de Gaza.
O embaixador Maged Abdelaziz disse que "todo mundo concordou em enviar uma delegação técnica" com a finalidade de conversar sobre a proposta franco egípcia para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, cujos termos ainda não são totalmente conhecidos.
"O mais importante é que alguma coisa comece, tem que haver um movimento positivo. E o movimento positivo é o cessar-fogo", disse o embaixador, se referindo à ONU e à Faixa de Gaza.
O plano franco egípcio pede uma trégua imediata no conflito entre Israel e o Hamas, que passará a vigorar por um período ilimitado para permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Israel retomou os ataques contra a Faixa de Gaza logo após uma trégua humanitária de três horas que durou até o meio-dia. No começo da noite, o doutor Moawiya Hassanein, chefe dos serviços médicos na Faixa de Gaza, disse que o número de palestinos mortos nos 12 dias de ofensiva havia passado dos 700, dos quais mais de 200 eram crianças. O número de palestinos feridos, segundo ele, passa de 3,1 mil. No total, foram mortos ontem 29 palestinos, incluídos 22 civis e dois militantes do Jihad Islâmica. Em um dos ataques, uma família palestina de quatro pessoas foi morta por um míssil israelense que destruiu o carro onde circulavam, disseram os médicos.
No campo de refugiados de Jabalyia, os moradores compareceram ao funeral de 40 pessoas mortas ontem num ataque israelense contra uma escola da Organização das Nações Unidas (ONU). Israel diz que militantes do Hamas usavam uma área próxima à escola para disparar morteiros e que a ação que resultou na morte das 40 pessoas foi uma resposta israelense.
A expansão da ofensiva foi aprovada hoje pelo gabinete de defesa do governo israelense e prevê uma "terceira fase" das operações. A primeira fase, os ataques aéreos, começaram em 27 de dezembro do ano passado. A segunda fase, a invasão terrestre da Faixa de Gaza, começou no sábado passado, dia 3 de janeiro.
O porta-voz do Exército de Israel, o general de brigada Avi Benyahu, disse que 120 supostos militantes foram detidos. Ele também disse que soldados israelenses conduziram buscas e encontraram armas escondidas e túneis que eram usados pelos militantes.
"Nós descobrimos vários túneis, alguns que seriam usados para guardar soldados sequestrados e pelo menos um carro-bomba", disse Benyahu ao canal 10 da televisão israelense. Acredita-se que o Hamas tivesse 300 túneis no território antes do começo da ofensiva. Mesmo com a intensidade da ofensiva israelense, o Hamas conseguiu disparar 14 foguetes contra Israel nesta quarta-feira.
Trégua temporária
Na manhã de ontem, Israel implementou uma trégua de três horas para permitir a entrada de alimentos e combustíveis na Faixa de Gaza para os sitiados civis palestinos. No total, 80 caminhões, com alimentos e combustíveis para as termelétricas que geram parte da eletricidade no território, puderam entrar. Médicos tentaram recuperar corpos em áreas onde, por causa do fogo cruzado, era difícil se aproximar. O som das ambulâncias podia ser ouvido à distância, enquanto muitos veículos levavam feridos para o Egito. Vários bombardeios e disparos de tanques israelenses foram ouvidos logo após o final da trégua humanitária de três horas.
Gestões francesas
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou mais cedo ontem, em Paris, que Israel e a Autoridade Palestina aceitaram um plano elaborado por França e Egito para a Faixa de Gaza. Sarkozy não mencionou o Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza. O governo de Israel não confirmou a declaração de Sarkozy, de que havia aceito a proposta de cessar-fogo.
As declarações do líder francês foram divulgadas em comunicado. Sarkozy disse que "saúda fortemente" a aceitação pela Autoridade Palestina e por Israel do plano apresentado na terça-feira pelo presidente egípcio, Hosni Mubarak. O texto não traz detalhes sobre a proposta e a Autoridade Palestina não tem envolvimento na guerra atual, que é entre Israel e o Hamas.
Israel disse, por um porta-voz, que "saúda" o projeto. O funcionário disse que o país poderia aceitar o plano se houvesse o fim do "fogo hostil" em Gaza e também medidas para evitar o rearmamento do Hamas.
Fonte: Tribuna da Imprensa