Por: Carlos Chagas
Brasília - Só no último round um dos contendores chamou o outro de descompensado, avesso ao diálogo, indelicado e vilão verde. Reagia contra golpes onde aparecia como falso, por combinar uma coisa e falar outra com a imprensa. Nem se fala dos entreveros anteriores, onde as agressões foram maiores, entre os ministros Carlos Minc, do Meio Ambiente, e Reinhold Stephanes, da Agricultura.
O singular nessa história é que nada acontece, ou seja, ambos continuam ministros, despacham com o presidente da República e sentam-se à mesma mesa, nas reuniões ministeriais. Não são os primeiros a desentender-se publicamente sob o olhar complacente do Lula.
Em outros governos pelo menos um, senão os dois, já teriam sido despachados para a estratosfera. E nem se fala das administrações militares, onde a pedido do todo-poderoso Delfim Netto, os generais-presidentes catapultaram vários.
Paira no ar sugestão para Dilma Rousseff cuidar da briga, ou melhor, apaziguar os beligerantes. Não basta. Os ministros são da livre escolha do presidente da República. A ele caberia no mínimo mandar parar. Porque a moda pega, ou melhor, já pegou. Não se passa uma semana sem que Mangabeira Unger dispare sua metralhadora giratória, tendo Patrus Ananias como alvo mais recente, Nelson Jobim e Tarso Genro não são tucanos, mas se bicam. Guido Mantega e Henrique Meirelles não apenas pensam diferente, mas falam línguas diversas, para os jornalistas. O general Jorge Felix é atropelado por Jobim. E quantos exemplos a mais? Faltam murros na mesa, vibrados pelos punhos do Lula.
Amadorismo
Os jornais de segunda-feira, quase sem exceção, divulgaram fotos de Dilma Rousseff, na véspera, passeando com seu cachorro nos jardins da Península dos Ministros. Cada imagem era uma pose, quase uma obra de arte, favorecendo excepcionalmente bem a chefe da Casa Civil, de visual novo.
Nada a opor se à imprensa tivesse sido dado fazer o registro, de resto elogiável para quem consegue dedicar alguns minutos para atividades físicas. Avisados previamente ou não, fotógrafos de toda a mídia teriam comparecido para fazer os flagrantes, cada qual à sua maneira.
Não foi o que se passou. Terá o leitor reparado que o autor de todas as fotos foi um só, o competente Roberto Stuckart Filho, fotógrafo oficial da presidência da República? Quer dizer, tratou-se de uma armação amadorística. Nada espontâneo tudo montado. Até o texto que acompanha as imagens, simpatissímo, foi distribuído pela mesma fonte. Nenhum repórter estava lá para formular as indagações que bem entendesse. Exultariam os criadores dos falecidos DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda, do Estado Novo) ou da AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas, dos regimes militares). Encontraram seguidores...
Caso a operação tenha sido desencadeada como um dos passos iniciais da campanha presidencial de Dilma, tratou-se de um tiro na água.
Problemas deles e das bancadas
Os governadores do Norte e do Nordeste, de diversos partidos, reuniram-se ontem com o presidente Lula. Trouxeram seus problemas, ouviram exortações em favor de mais eficaz distribuição de renda e comprometeram-se a agir em comum para a realização de planos e programas de desenvolvimento.
Nenhum deles abordou a questão da eleição para as mesas da Câmara e do Senado, tema que, aliás, não lhes caberia. Se a maioria reage à escolha de José Sarney para a presidência do Senado, ou se um ou outro imagina que o governo deve torpedear a candidatura de Michel Temer à presidência da Câmara, não se trata de questão a ser debatida com o presidente da República. No máximo, seria para discutirem com as respectivas bancadas no Congresso.
Queda de braço
Não houve concordância na cúpula do empresariado, apesar de o ministro Guido Mantega haver engrossado o coro do ministro Carlos Lupi, sugerindo que quem receber ajuda do governo deve sustar as demissões de trabalhadores. Entendem os mega-empresários que contratar e dispensar empregados é assunto de sua exclusiva competência, subordinado à performance de suas empresas.
Cabe esperar, agora, a reação oficial. Terá o governo coragem para negar as medidas de auxílio a quantos não se comprometerem a evitar demissões? Poderão, a FIESP e penduricalhos, ameaçar com o fechamento de mais postos de trabalho, ainda que a situação da indústria só possa piorar sem os bilhões prometidos.
O presidente Lula, por enquanto, não acompanhou de público seus ministros do Trabalho e da Fazenda. Pode ser que amanhã em Belém, em meio aos reclamos do Fórum Social Mundial, venha a arriscar alguma crítica ao comportamento das grandes empresas. Ao menos para agradar Chavez, Morales, Lupo e Correa.
Fonte: Tribuna da Imprensa