O discurso do 44º presidente dos Estados Unidos da América (leia aqui), Barack Hussein Obama, teve como característica principal elevar a auto-estima dos norte-americanos. Além disso, durante os 20 minutos em que o democrata se dirigiu as 2 milhões de pessoas presentes em Washington na cerimônia de posse, as palavras foram mais moderadas do que na campanha presidencial. Essa é a opinião de especialistas em política norte-americana ouvidos pelo Congresso em Foco.
O professor do curso de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto acredita que o discurso é a continuação do que Obama vinha fazendo durante a campanha e até depois de eleito. Com o agravamento da crise financeira internacional, o democrata aumentou as frases de efeito com a intenção de fortalecer os ânimos da população norte-americana. "Foi um discurso genérico, uma espécie de carta de intenções de Obama para o mundo", afirmou o especialista da UnB.
"Foi um discurso de presidente, mais contido, mais verdadeiro, medindo as palavras", avaliou o professor Sidney Ferreira Leite, do Núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria. Para o especialista, alguns expectadores podem até terem ficado um pouco frustrados, já que esperavam um discurso mais caloroso do democrata durante o frio do inverno norte-americano. "Ele tinha que ser moderado. Afinal, não é mais candidato, e sim presidente", comentou.
O número de pessoas presentes em Washington, a cobertura feita por jornais, emissoras de tv, sites e blogs, além de toda a pressão da comunidade internacional também influenciaram no discurso de Obama. Em determinado momento, o democrata afirmou que "hoje eu digo a vocês que os desafios são reais. Eles não serão enfrentados em pouco tempo, mas serão enfrentados". "Ele já percebeu que essa euforia não vai ajudar. O discurso foi uma espécie de 'vamos com calma' para os eleitores", analisou o professor da UnB.
Para o especialista da Trevisan, Obama quer fugir da imagem de super-homem. Ele aponta que o presidente é mais um dos atores envolvidos na condução das políticas de Estado. "O Senado tem muita força, o Judiciário também. A capacidade do presidente de intervir e resolver os problemas é limitada", lembrou Ferreira Leite.
Ações
Por enquanto, para o professor da UnB, ainda é cedo para saber quais serão os primeiros atos de Obama como presidente. Somente daqui 15 dias, quando o presidente dos EUA entregar a mensagem anual, chamada de state of the union, é que as intenções ficarão mais claras. "Precisamos esperar", disse Peixoto.
Mas, para Ferreira Leite, algumas ações já são possíveis de prever. No próprio discurso, Obama ressaltou que o governo norte-americano vai construir pontes e estradas, investir em tecnologia e recuperar escolas. "Esse é o maior programa de obras desde o auge da economia norte-americana, em 1950. Isso movimenta e impulsiona a economia. É uma sinalização positiva", afirmou.
O especialista da Trevisan aponta ainda que, se Obama for coerente com seus discursos durante a campanha e na posse, ele fará uma reforma fiscal que favoreça os trabalhadores. Ele lembra também que Obama deve trabalhar com as questões macro da economia dos EUA. "Ele precisa diminuir o déficit público. Quando [o democrata] Bill Clinton saiu do governo, ele deixou o Estado com déficit zero. Depois de oito anos de George W. Bush, o valor é de R$ 1,3 trilhão", lembrou. (Mário Coelho)
Fonte: congressoemfoco