terça-feira, janeiro 13, 2009

“A cabeça do brasileiro”

Josué Maranhão

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NATAL (RN) – Não deve ser somente a impunidade - que a cada dia mais se alastra - que incentiva o setor político-governamental brasileiro a abusar da tolerância e da paciência da nação. Há estimulo maior, representado pelo comportamento do povo em relação a assuntos relativos aos interesse público, coisas da nação e do Estado. O livro “A Cabeça do Brasileiro” de Alberto Carlos Almeida foi lançado em 2007, mas somente nesta viagem ao Brasil tive oportunidade de conhecer. Descobri dados e números que, confesso, surpreenderam-me. Apesar de pensar que conheço o povo do Brasil, lastreado na experiência que iniciei há mais de meio século, descobri conceitos que não imaginava que existissem. Além disso, em algumas nuances que conhecia, a realidade é diferente do que eu supunha.As pesquisas revelam, por exemplo, que 40% dos analfabetos entendem que “alguém eleito para cargo público deve usar o cargo como se fosse propriedade particular, em benefício próprio”. O percentual decresce à medida que aumenta o nível de escolaridade. Dessa forma, somente 31% daqueles que estudaram até à 4ª série e 17% de quem cursou entre a 5ª e a 8ª série entendem que é correto misturar o que é público com aquilo que é propriedade particular. Entre aqueles que estudaram até o curso superior, no entanto, é de 97% o percentual daqueles que discordam do esdrúxulo entendimento dos analfabetos e semi-alfabetizados. Também se afigura uma “carta branca” para os procedimentos incorretos dos políticos, o que entende grande parcela da nação sobre o famoso “jeitinho brasileiro”. A pesquisa mostrou que 57% dos analfabetos, 51% de quem cursou até a 4ª série e 58% daqueles que cursaram até a 8ª série acham correto usar o tal “jeitinho brasileiro”. Revela-se, sem dúvida, que imensa parcela da população desconhece os princípios mais básicos de conduta. Dessa forma, se os políticos usam e abusam da coisa pública, estão alicerçados no apoio do povo. Aliás, o servilismo, a subserviência é outro aspecto da cultura do povo que merece ênfase. O livro traça um perfil dos brasileiros e indica, por exemplo, que “mulher idosa, moradora da região Nordeste e de uma cidade que não seja a capital do seu Estado aprova o uso do “sabe com quem está falando?”As respostas às indagações da Pesquisa Social Brasileira alarmam, se for levado em consideração que os conceitos mais estapafúrdios são endossados pelos analfabetos e por pessoas de pouca escolaridade. Por outro lado, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, organismo oficial, indicam que em final de 2008 havia no Brasil 14,1 milhões de analfabetos, número que coloca o Brasil em posição vergonhosa, equiparando-o com países atrasados em todos os sentidos. Destaque-se que o número de analfabetos é muito maior aqui no Nordeste, que responde por 7,3 milhões daqueles brasileiros que não sabem ler e escrever. Ou seja, 52% dos analfabetos brasileiros estão no Nordeste. A tais números, escandalosos que já são, devem ser somados os chamados “analfabetos funcionais”. Ou seja, aqueles que embora saibam ler e escrever, não conseguem entender aquilo que lêem. No Brasil inteiro, 33 milhões de pessoas, ou seja, 18% da população, se enquadram no conceito de “analfabetos funcionais”. Neste aspecto, mais uma vez, o Nordeste detém índices que estarrecem. Os percentuais dos tais analfabetos funcionais, nos Estados do Piauí, Alagoas e Paraíba são, respectivamente, de 41,1%, 39,9% e 38,1%, o que é uma grande vergonha, se for considerado que estamos no Século XXI. Diante de tudo isto e tendo-se em vista o resultado das pesquisas, seria utopia imaginar que os políticos e governantes tivessem qualquer preocupação em fazer o certo, agir corretamente, separar o que é público daquilo que lhes pertence. Afora isso, considerando-se as deturpações reveladas, explica-se porque não existe maior interesse em alfabetizar a população.Apesar de entender que seria inviável, neste espaço, alongar-me na análise dos números que o livro revela, um detalhe, no entanto, chamou-me a atenção, ante as reações de leitores desta coluna, quando faço críticas ao governo, ou mais especificamente ao presidente Lula. Eu imaginava que havia algo de errado. No entanto, uma pesquisa daquele livro, certamente permite imaginar o que ocorre, além do fanatismo. Em resposta a uma indagação sobre a proibição de programas de TV que façam críticas ao governo, entre aqueles que não têm instrução, 46% concordam muito com a censura. À medida que aumenta o nível de escolaridade, decresce o percentual daqueles que entendem que não devem ser permitidas críticas ao governo. Entre os que estudaram até a 4ª série, são 31% e 19% entre aqueles que estudaram entre a 5ª e a 8ª série. No entanto, somente 7% dos entrevistados que chegaram ao curso superior ou mais elevados, são favoráveis à censura. Diante do que as pesquisas revelam, notadamente quanto aos estapafúrdios conceitos adotados pelos brasileiros, causa perplexidade o que dizem alguns comentários que são feitos aos meus escritos que contém críticas ao governo ou ao presidente Lula. A perplexidade que vejo decorre do fato de que os esdrúxulos conceitos que o livro mostra se acentuam exatamente naquelas camadas de pessoas de baixa escolaridade, ou até de analfabetismo. Um detalhe interessante é que, na quase totalidade, aqueles que não concordam com o que escrevo são pessoas com nível elevado de escolaridade, pelo menos formal. No entanto, não se preocupam em rebater o que eu digo, contestar ou argumentar em contrário. A imensa maioria prefere descambar para ataques pessoais - rasteiros e impublicáveis, alguns – havendo até quem imagine que tenho algo de pessoal contra o presidente Lula. Em síntese, não admitem que se façam críticas ao governo. Somente deveria haver a imprensa “chapa branca” – é o que se deduz – censurando-se as críticas ou comentários adversos. Criticar significa integrar o que chamam de “imprensa de direita”. É um antigo chavão, retrógrado e superado. É, sem dúvida, um posicionamento favorável à censura, que seria típico dos analfabetos, ou semi-alfabetizados. Na realidade, existe um patrulhamento que pretende impedir críticas ou comentários desfarováveis ao presidente Lula.Para começar, não conheço o presidente Lula, nem tenho com ele intimidade. Tanto assim que nunca o trato por “Lula”, nos meus textos, como quase todos o fazem. Rigorosamente o trato por presidente Lula, o que significa que critico o titular do cargo e não a pessoa do cidadão Lula. Além disso, não teria porque manter diferenças pessoais com o presidente Lula. Não o conheço, repito e sequer vivia no Brasil (como não vivo atualmente) quando ele foi eleito e reeleito. Ele nada fez ou deixou de fazer algo que me tenha afetado pessoalmente. Aliás, todos os presidentes de República que conheci pessoalmente já faleceram. Conheci de perto e até entrevistei presidentes que estiveram no poder entre 1950 e 1964. Não existiram presidentes, como tal dignos do título, entre 1965 e 1985. O que houve, na época, foi a presença de usurpadores, que usaram o título indevidamente, de vez que apenas eram ditadores. A partir de 1985 até hoje, todos me são total e absolutamente desconhecidos e com eles não mantive, nem pretendo manter, quaisquer vínculos, profissionais ou pessoais. Em suma, o que se depreende é que há deturpações conceituais na cabeça dos brasileiros, determinantes de reflexos negativos no comportamento do sistema político-governamental.
Fonte: Última Instância